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    Macron ignora vitória da esquerda e lança a França em impasse político

    Mais de 50 dias depois do segundo turno das eleições legislativas, a França ainda não tem um novo primeiro-ministro

    Emmanuel Macron 07/07/2024 MOHAMMED BADRA/Pool via REUTERS (Foto: MOHAMMED BADRA / POOL)

    247 - Emmanuel Macron, presidente da França, enfrenta um dos maiores desafios de seu mandato enquanto a busca por um novo primeiro-ministro continua sem solução. Mais de cinquenta dias após o segundo turno das eleições legislativas, a ausência de uma maioria clara no Parlamento deixou o governo em uma paralisia que tem gerado preocupações dentro e fora do país. Macron, conhecido por seu estilo de liderança centralizadora, luta para encontrar um nome que possa liderar o governo sem ser imediatamente rejeitado pela Assembleia Nacional.

    As consultas iniciadas por Macron na terça-feira, 3 de setembro, para escolher o sucessor de Gabriel Attal como primeiro-ministro revelaram-se infrutíferas, aponta reportagem do Le Monde. Diversos nomes foram cogitados, mas a resistência política tem sido uma constante. Inicialmente, o presidente explorou a possibilidade de nomear o ex-primeiro-ministro socialista Bernard Cazeneuve, mas essa opção foi rapidamente descartada após a rejeição de seu próprio partido e de outros setores da esquerda.

    A tentativa de Macron de atrair Thierry Beaudet, presidente do Conselho Econômico, Social e Ambiental (CESE), também não ganhou força. Em um movimento ousado, o presidente voltou sua atenção para Xavier Bertrand, líder dos Republicanos (LR) na região de Hauts-de-France. No entanto, essa escolha provocou forte oposição de partidos de diferentes espectros políticos, desde a extrema-direita representada pelo Rassemblement National (RN) até a esquerda radical da La France Insoumise (LFI), passando pela direita tradicional liderada por Eric Ciotti.

    A resistência a Bertrand reflete o clima de polarização e fragmentação que domina a política francesa no momento. A direita, após inicialmente recusar qualquer participação em um governo ou coalizão, pareceu considerar a possibilidade de apoiar Bertrand, mas logo recuou, admitindo que a proposta não seria viável. Essa hesitação expõe a fragilidade do cenário político atual, onde nem mesmo alianças pragmáticas conseguem se concretizar diante das profundas divisões ideológicas.

    Além das dificuldades na escolha do novo chefe de governo, a situação política francesa é ainda mais complexa devido à recente confirmação de candidatura do ex-primeiro-ministro Edouard Philippe para a eleição presidencial de 2027. A entrada de Philippe na corrida presidencial adiciona uma nova camada de incerteza ao já tumultuado ambiente político, com possíveis impactos nas alianças e nas estratégias de curto e longo prazo dos principais partidos.

    A imprensa ocidental tem sido crítica à forma como Macron está lidando com a situação. Comentadores apontam que, ao tentar manter o controle absoluto sobre a formação do governo, o presidente pode estar agravando a crise política, tornando a França "ingovernável". Sua insistência em não aceitar a derrota de seu campo nas eleições legislativas e em continuar a governar com o estilo centralizador que marcou seu primeiro mandato contrasta com a realidade política atual, que exige mais negociação e menos imposição.

    Essa paralisia governamental ocorre em um momento delicado para a França, que enfrenta desafios internos significativos, incluindo questões econômicas e sociais que exigem ação urgente. A incapacidade de formar um governo estável ameaça a capacidade do país de responder de maneira eficaz a esses desafios, aumentando o descontentamento popular e a desconfiança nas instituições políticas.

    Enquanto Macron continua suas consultas na tentativa de desbloquear a situação, a França observa apreensiva o desenrolar dos acontecimentos. A escolha do novo primeiro-ministro não é apenas uma questão de quem ocupará o cargo, mas sim de como o país poderá superar o atual impasse político e avançar em direção a um governo funcional e representativo. A resposta a essa questão definirá os próximos anos da política francesa e o legado do presidente Macron.

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