No norte de Gaza, famílias famintas sobrevivem apenas com pão
"Estamos passando fome, o mundo se esqueceu de nós", disse Um Mohammed, mãe de seis filhos na Cidade de Gaza
CAIRO (Reuters) - No norte da Faixa de Gaza, onde os palestinos foram mais atingidos pela fome, os moradores dizem que a escassez aguda de legumes, frutas e carne significa que eles estão sobrevivendo apenas com pão.
Os alimentos que podem ser encontrados no mercado estão sendo vendidos a preços exorbitantes, segundo eles: um quilo de pimentão verde, que custava cerca de um dólar antes da guerra, estava cotado a 320 shekels, ou quase 90 dólares. Os comerciantes exigiam 70 dólares por apenas um quilo de cebolas.
"Estamos passando fome, o mundo se esqueceu de nós", disse Um Mohammed, mãe de seis filhos na Cidade de Gaza.
Ela permaneceu no local durante mais de oito meses de bombardeios israelenses. Mas ela e sua família saíram de sua casa para abrigos designados em escolas da ONU várias vezes.
"Com exceção da farinha, do pão, não temos mais nada, não temos nada para comer, então comemos apenas pão", disse ela.
No final de maio, os militares israelenses suspenderam a proibição da venda de alimentos frescos para Gaza a partir de Israel e da Cisjordânia ocupada, segundo autoridades palestinas e trabalhadores humanitários internacionais.
Mas, em publicações nas mídias sociais, os habitantes de Gaza acusaram comerciantes inescrupulosos de explorar as necessidades comprando produtos a preços normais em Israel e na Cisjordânia e vendendo-os com uma enorme margem de lucro.
Eles disseram que os comerciantes estão se aproveitando da falta de policiamento na Faixa de Gaza, comandada pelo Hamas.
"Não há carne ou vegetais e, se há algo disponível, está sendo vendido a preços inacreditáveis e fictícios", disse Um Mohammed à Reuters por meio de um aplicativo de bate-papo.
O fluxo de ajuda da ONU no território palestino devastado tem sido fortemente pressionado desde o início das operações militares israelenses em Rafah, no sul de Gaza, a principal porta de entrada para o enclave a partir do Egito. Israel está sob crescente pressão global para aliviar a crise, já que as agências humanitárias alertam sobre a fome iminente.
Israel afirma que não impõe limites aos suprimentos humanitários para os civis em Gaza e culpou a Organização das Nações Unidas pela lentidão das entregas, dizendo que suas operações são ineficientes.
Nesta sexta-feira, testemunhas disseram que aviões lançaram caixas de ajuda em áreas de Al-Karara e Khan Younis, no sul da Faixa de Gaza.
"Uma proporção significativa da população de Gaza está agora enfrentando uma fome catastrófica e condições semelhantes à fome", disse o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, na quarta-feira.
Tedros disse que mais de 8.000 crianças menores de cinco anos em Gaza foram diagnosticadas e tratadas para desnutrição aguda, incluindo 1.600 crianças com desnutrição aguda grave.
O Ministério da Saúde de Gaza, administrado pelo Hamas, disse nesta sexta-feira que 27 crianças morreram de desnutrição no enclave desde o início da guerra em outubro passado.
"Uma tragédia humanitária está atingindo o norte de Gaza e o fantasma da fome está pairando no ar", disse o ministério.
A campanha terrestre e aérea de Israel foi desencadeada quando militantes liderados pelo Hamas invadiram o sul de Israel em 7 de outubro, matando cerca de 1.200 pessoas e fazendo mais de 250 reféns, de acordo com os registros israelenses.
A ofensiva deixou Gaza em ruínas, matando mais de 37.000 pessoas, de acordo com autoridades de saúde palestinas, e deixou grande parte da população desabrigada e desamparada.
Nesta sexta-feira, a Câmara de Comércio de Gaza fez um apelo urgente à comunidade internacional para que pressionasse Israel a permitir a entrada da ajuda necessária e urgente.
"Além da escassez de alimentos, água e remédios, o norte da Faixa de Gaza sofre com uma grave escassez de muitas necessidades básicas da vida, incluindo materiais de higiene pública e pessoal", afirmou em um comunicado.
"Com a falta de combustível e eletricidade, e a falta de serviços de saúde, os hospitais ficaram fora de serviço, e tem ocorrido uma destruição completa de todas as instalações públicas e privadas."
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