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Norte-americanos negros expressam medos e determinação após vitória de Trump

População negra teme o segundo mandato de Trump e esperam retrocesso nos direitos civis após sua promessa de acabar com os programas de diversidade

Manifestação contra a injustiça racial em Washington 28/08/2020 (Foto: REUTERS/Tom Brenner)

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Reuters - A vitória de Donald Trump nas eleições presidenciais dos Estados Unidos causou um choque nas comunidades negras norte-americanas, que votaram esmagadoramente na candidata democrata Kamala Harris, apesar da campanha de seu rival republicano para cortejar os homens negros.

Embora Trump tenha obtido ganhos entre os negros norte-americanos na Carolina do Norte e alguns membros da comunidade tenham comemorado sua vitória, nacionalmente, a parcela de votos dele entre os eleitores negros permaneceu inalterada na votação de terça-feira em relação a 2020, de acordo com uma pesquisa de boca de urna realizada pela Edison Research, que mostrou uma mudança muito maior em direção a Trump entre os eleitores hispânicos.

Os eleitores negros foram importantes para a vitória do presidente norte-americano, Joe Biden, sobre Trump em 2020, quando Kamala também foi eleita como a primeira vice-presidente negra e a primeira asiático-americana dos EUA. Se ela tivesse vencido na terça-feira, teria se tornado a primeira mulher presidente dos Estados Unidos.

A maioria das duas dezenas de negros norte-americanos que conversaram com a Reuters para esta reportagem disse temer um segundo mandato de Trump, incluindo um retrocesso nos direitos civis após sua promessa de acabar com os programas federais de diversidade e inclusão.

Muitos disseram que sua retórica, incluindo linguagem racista e sexista, provou que ele não tem em mente os melhores interesses dos negros.

Mary Spencer, de 72 anos, enfermeira aposentada e educadora em Oak Creek, no Estado de Wisconsin, ficou desanimada com a vitória de Trump. Ela afirmou que a opinião de Trump sobre os negros é condescendente.

"Porque é isso que ele pensa de nós - que só nos esforçamos para fazer os trabalhos que os imigrantes (ilegais) vêm fazer -- que ele identifica como faxina ou trabalho em projetos paisagísticos. Coisas que não requerem muita habilidade ou educação."

Em um evento com jornalistas negros em julho, Trump disse que os imigrantes estavam tomando "empregos de negros", reforçando estereótipos racistas sobre os tipos de trabalho que os negros norte-americanos fazem.

Trump nega que seja racista. Ele afirma que sua agenda econômica reduzirá os impostos, os custos de moradia e aumentará a criação de empregos para todos os americanos, inclusive para os negros. Sua campanha não respondeu imediatamente a um pedido de comentário.

Katrena Holmes, 51 anos, empresária negra de Riverdale, Geórgia, votou em Kamala, esperando que ela unificasse o país e reduzisse as desigualdades raciais. Uma vitória de Trump ameaça deter o progresso na redução dessas lacunas, dada a sua agenda política e retórica, disse.

"Há um espírito de divisão", acrescentou ela.

Nadia Brown, diretora do programa de estudos sobre mulheres e gênero da Universidade de Georgetown, disse que a vitória de Trump provavelmente foi "um golpe psicológico" para muitos negros norte-americanos, que estavam entusiasmados com a perspectiva de ter a primeira mulher presidente do país, e segunda líder negra, que poderia promover mudanças nas políticas para suas comunidades.

"A retórica dele e todos os comentários racistas e de cunho racial serão apenas mais uma distração", afirmou Brown, acrescentando que as pessoas se sentirão desanimadas depois de passarem meses se organizando em prol de Kamala.

No entanto, grupos de direitos civis e de voto disseram que o resultado os galvanizará para lutar ainda mais pela igualdade racial.

"Vamos nos mobilizar em todos os ângulos para tentar impedir a progressão contínua do retrocesso de todos os nossos direitos e liberdades fundamentais. Não vamos nos calar", disse Jotaka Eaddy, fundadora do grupo Win With Black Women, que deu início a uma onda de organização para Kamala e arrecadou milhões de dólares nas primeiras horas depois que ela chegou ao topo da chapa democrata em julho.

Kamala obteve 86% dos votos dos negros, em comparação com 12% para Trump, de acordo com a Edison Research, a mesma parcela de apoio que Biden recebeu em 2020.

Ao longo de sua campanha, Trump tentou fazer incursões entre os homens negros, mas recebeu apenas 20% dos votos deles, um aumento de um ponto percentual em relação a 2020, segundo a Edison Research. Kamala conquistou 92% das eleitoras negras em todo o país, um aumento de dois pontos em relação a 2020. Os eleitores negros representaram 11% da parcela de eleitores em todo o país.

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