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    Tarifas sobre urânio canadense ameaçam setor nuclear dos EUA e expansão da inteligência artificial

    Proposta de Trump pode elevar custos de energia e impactar desenvolvimento tecnológico frente à concorrência chinesa

    Urânio (Foto: Reuters)
    Luis Mauro Filho avatar
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    247 - A recente proposta do presidente Donald Trump de impor uma tarifa de 10% sobre o urânio canadense tem gerado preocupações no setor nuclear dos Estados Unidos, em um momento no qual o país precisa urgentemente de fontes estáveis e econômicas de energia para suportar a expansão acelerada da inteligência artificial (IA). O Canadá é atualmente o maior fornecedor de urânio para os EUA, e o aumento dos custos dessa commodity poderia colocar em risco a competitividade tecnológica norte-americana. As informações são do portal The Verge.

    Grant Isaac, diretor financeiro da canadense Cameco, uma das principais produtoras mundiais de urânio, advertiu recentemente sobre os impactos diretos das tarifas: "É preciso uma espécie de conceito econômico introdutório para entender qual é o impacto das tarifas nessa situação." Segundo Isaac, "uma tarifa de 10% resultaria em um aumento direto de 10% nos preços do urânio, seja ele do Canadá ou de outros fornecedores. A história nos diz que países não tarifados simplesmente aumentarão seus preços de oferta para pouco menos de 10%."

    O setor nuclear americano, responsável por 20% da geração de eletricidade e quase metade da energia livre de carbono do país, tem se tornado essencial para atender às exigências energéticas cada vez maiores impostas pelos centros de processamento de dados utilizados pela inteligência artificial. Empresas como Google, Amazon e Microsoft buscam estabilidade energética, especialmente por meio de contratos com fornecedoras nucleares, visando atender a esta crescente demanda e cumprir metas ambientais.

    Movimento estrategicamente arriscado

    A decisão sobre as tarifas surge em um contexto geopolítico ainda mais complexo. Após o início do conflito entre Ucrânia e Rússia, os Estados Unidos interromperam, em maio de 2024, a compra de urânio enriquecido russo, até então uma importante fonte do combustível nuclear para as usinas americanas. Essa decisão foi uma resposta direta às ações militares de Moscou e refletiu o aumento das tensões geopolíticas entre os dois países.

    Entretanto, uma possível reaproximação entre Trump e o presidente russo Vladimir Putin poderia abrir espaço para retomar o vínculo comercial na importação de urânio russo. Tal aproximação reduziria temporariamente a pressão sobre a cadeia de suprimentos americanos, mas implicaria desafios diplomáticos complexos e reações internas adversas, considerando o atual cenário internacional.

    Por outro lado, enquanto os EUA debatem tarifas e enfrentam incertezas no suprimento de urânio, a China intensifica sua expansão tecnológica e energética. Empresas chinesas como a DeepSeek AI avançam rapidamente no mercado global de inteligência artificial, sustentadas por uma matriz energética diversificada, incluindo amplos investimentos em energia nuclear e renováveis. Esse cenário pode comprometer ainda mais a posição estratégica americana na corrida tecnológica e energética global.

    EUA têm pouca relevância global na produção de Urânio

    O cenário global demonstra pouca dominância dos EUA na exploração de Urânio, em comparação com países como Canadá, Cazaquistão e Rússia, líderes mundiais na mineração dessa matéria-prima estratégica. De acordo com a World Nuclear Association, em 2023, o Cazaquistão liderou a produção mundial de urânio com aproximadamente 43% da oferta global, seguido pelo Canadá, com 15%, e Rússia, com 8%. Os EUA, por sua vez, produziram menos de 1% do urânio mundial no mesmo período, evidenciando a dependência extrema das importações.

    A imposição de tarifas contra o Canadá, seu vizinho, parceiro histórico e maior fornecedor, poderia aprofundar ainda mais esse quadro de vulnerabilidade. Nesse sentido, o país enfrenta o dilema de equilibrar suas políticas protecionistas com as necessidades estratégicas, já que qualquer elevação nos custos energéticos pode prejudicar diretamente sua competitividade tecnológica frente a potências como China e Rússia.

    O futuro da energia nuclear nos Estados Unidos dependerá, portanto, da habilidade em gerenciar essas relações internacionais e políticas tarifárias, garantindo que as medidas adotadas não se tornem um obstáculo à inovação tecnológica, segurança energética e estabilidade econômica do país.

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