Por: Luis Pellegrini
Durante sua apresentação no Simpósio de Saúde Mental da Sociedade de Psicologia Evolutiva Aplicada, recém-realizado em Boston (EUA), a psicóloga clínica e terapeuta sexual Marianne Brandon argumentou que os médicos podem em breve começar a prescrever robôs sexuais hiper-realistas para pacientes diagnosticados como “sexualmente disfuncionais”.
Ela adiantou que robôs sexuais estão sendo desenvolvidos – sendo alguns modelos extremamente sofisticados – e que, provavelmente, chegarão dentro de alguns anos ao mercado. Esses robôs seriam capazes de realizar quase qualquer ato sexual . Eles poderão ter “personalidades” que façam com que pareçam inteligentes e espirituosos – ou o que quer que o parceiro desejar.
Segundo sua apresentação, a terapeuta sexual acredita que os membros do Congresso norte-americano (cuja esmagadora maioria é formada por homens) apoiará e aprovará uma legislação que torne possível aos médicos prescreverem esses robôs aos pacientes, e que a conta disso passe a ser paga pelos planos de saúde.
Uma solução problemática
Claro que a suposta solução também traz problemas. Marianne Brandon destaca que os robôs provavelmente serão desproporcionalmente direcionados aos homens, assim como a pornografia atualmente. E que o dano que o acesso facilitado a eles pode causar aos relacionamentos em geral tende a ser catastrófico para a sociedade.
Como são criados para serem parceiros sexuais “perfeitos” – atraentes, complacentes, convenientes – muita gente certamente vai optar por sair de relacionamentos tradicionais em favor de tanta comodidade. As pessoas estarão menos motivadas a trabalhar em problemas com seus companheiros reais, levando a uma diminuição dos casamentos e até mesmo das taxas de natalidade.
Brandon não é a única especialista a desenvolver estudos sobre a questão. Muitos estudos já foram publicados a respeito, e em muitos deles nota-se a preocupação sobre como será a sociedade do futuro no trato com conteúdos e produtos tecnológicos destinado ao consumo por adultos. Os robôs sexuais já são considerados uma certeza comercial, desenvolvidos ao ponto de se tornarem quase indistintos de um ser humano, pelo menos quanto à aparência.
RealDoll, um robô sexual realista que custa 40 mil reais
Robôs com corpos e cabeças de formas femininas já existem e são chamados FemBot ou Gynoid. Há muitos anos o mercado de brinquedos (toys) eróticos, à venda nas casas do ramo, oferece “bonecas” em tamanho real, geralmente infláveis, tão hiper-realistas a ponto de exibir pelos púbicos e secreções lubrificantes. Mas a tecnologia avança com rapidez nesse setor e prevê-se que tais bonecas se transformem brevemente em robôs.
RealDoll, um robô sexual ao custo de cerca 40 mil reais.
É o que fazem atualmente os técnicos da empresa RealDoll, criando corpos com articulações de aço, esqueletos em PVC e “carne” e “pele” de silicone. A RealDoll vai de vento em popa, mas a verdadeira revolução está sendo desenvolvida pela Abyss Creations. Essa empresa lançou há pouco o programa Harmony AI, uma app para Android que permite acessar a RealBotix, plataforma desenhada para dotar de inteligência artificial as cabeças dos robôs da RealDoll. Tais robôs serão capazes de interagir inclusive intelectualmente com seus donos. É isso mesmo: uma boneca (ou um boneco) inteligente que, além da transa sexual será capaz de bater um papo legal após o coito. Ou então permanecer calado, agarrado ao dono, aquecendo-o numa noite fria de inverno…