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    Na adesão ao Podemos, Moro faz discurso de órfão da Lava Jato

    Ex-juiz, condenado como suspeito, dedica parte do pronunciamento a explicar suas atitudes e a dizer que sempre fez o melhor pela justiça. Com o que o STF não concordou

    (Foto: Reprodução/Twitter)
    Camila Franca avatar
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    Agenda do Poder - Sérgio Moro tentou fazer do discurso de adesão ao Podemos, hoje, uma espécie de plataforma de lançamento como candidato à presidência. Mas dedicou a maior parte do tempo a justificar suas ações como juiz, como ministro de Bolsonaro e como empregado de uma empresa americana, e a lamentar o abalo de sua imagem e da imagem da Lava Jato pelas sentenças do STF contra a sua imparcialidade, e pelas denúncias da Vaza Jato e da Operação Spoofing.

    Jurou que só virou ministro de Bolsonaro porque entendeu como uma missão cívica de combate à corrupção.

    Garantiu que trabalhou para uma consultoria americana que fatura com a quebra da Odebrecht porque queria apenas passar um tempo no exterior.

    Assegurou que sempre se ateve ao devido processo legal em suas decisões como juiz.

    O STF discorda, ou não teria condenado Moro como suspeito e anulado tudo que ele fez “em nome da Justiça”.

    Moro tangenciou todos os assuntos mais delicados sobre seu comportamento, para passar a ideia de que não foge deles, mas ficou sempre a uma distância segura dos fatos.

    Embora o Podemos tenha espalhado cartazes e faixas no local com pautas sociais, para sugerir uma candidatura abrangente, Moro dedicou a maior parte do seu discurso ao assunto que o tornou famoso: o combate à corrupção, não importa como e não interessa com que métodos.

    Na prática, tentou se apresentar como “o candidato da Lava Jato”, aposta na qual será acompanhado por alguns procuradores da força tarefa que atuou em íntima parceria com o juiz, uma das razões pelas quais Moro foi declarado suspeito em sua atuação contra Lula, a ponto de ver todas as suas sentenças e todos os seus atos contra o ex-presidentes anulados.

    Pelo menos três procuradores que foram comandados por Moro – uma das ilegalidades que o condenaram – já disseram que também vão disputar cargos eletivos.

    Para muitos, este “partido da Lava Jato”, fruto da “República de Curitiba”, prova, enfim, que a operação contra a corrupção foi desde sempre uma fachada para o antipetismo, a imposição do neoliberalismo, a desnacionalização da economia brasileira e, acima de tudo, a realização de ambições políticas e eleitorais.

    Não por acaso, não há sequer boato de que algum integrante da força tarefa pretenda filiar-se a algum partido progressista ou sequer assumir a defesa de posições em defesa da soberania nacional, dos direitos humanos, da distribuição de renda e do combate à desigualdade.

    Moro não esqueceu de admitir que sua voz é atípica para um político que pretende eletrizar as multidões. Ele está se tratando com um fonoaudiólogo.

    A adesão de Moro foi prestigiada por figuras como o ex-senador Álvaro Dias e os deputados Joice Hasselman e Kim Kataguri, os dois últimos autoproclamados ex-bolsonaristas.

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