Raquel Dodge revela dificuldades no acesso ao caso Marielle e resistência de autoridades do Rio
Ex-procuradora-geral da República detalha obstáculos enfrentados durante a investigação do assassinato da vereadora Marielle Franco e seu motorista Anderson Gomes
247 - A então procuradora-geral da República, Raquel Dodge, compartilhou detalhes sobre sua entrada na investigação do assassinato da vereadora Marielle Franco, ocorrido em março de 2018. Em entrevista ao UOL, ela revelou como as autoridades do Rio de Janeiro dificultaram seu acesso a documentos e informações importantes relacionadas ao caso.
Dodge descreveu a importância do episódio, considerando que o crime não foi apenas contra a pessoa, mas também contra a democracia, dado o mandato da vereadora que lutava pelos direitos dos mais pobres. Ela entendeu que, dadas as circunstâncias, poderia ser necessária a federalização da investigação.
No entanto, quando Dodge solicitou compartilhamento de informações com as autoridades do Rio de Janeiro, sentiu alguma resistência. Ela destacou que, mesmo após a intervenção federal na segurança pública do estado, algumas delegacias, inclusive aquela responsável pela jurisdição do local do crime, estavam sem delegado titular há anos.
Um dos episódios mencionados pela ex-procuradora-geral foi quando a 28ª Vara Criminal do Rio demorou a cumprir a decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ) que permitia o acesso da PGR aos dados da investigação. A demora foi significativa, e a obtenção dos documentos só ocorreu após a intervenção de Dodge, que precisou buscar os dados diretamente nos Correios.
Em relação a mudanças na investigação, Dodge mencionou o depoimento de Orlando Curicica, inicialmente apontado como suspeito no caso. Curicica procurou o Ministério Público Federal para relatar que a investigação tomou um rumo equivocado. Dodge encaminhou os depoimentos para o Ministério Público do Rio de Janeiro, mas não percebeu mudanças no rumo da investigação.
Diante das dificuldades e das limitações encontradas no âmbito estadual, Dodge chegou a abrir um inquérito sob sua competência para verificar possíveis desvios na investigação. O inquérito foi encaminhado à Polícia Federal, e foi comprovada a participação de pessoas que haviam engendrado uma história para direcionar a investigação em um determinado rumo.
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