Parlamentares condenam campanha da Secom: “caso de interdição total”
“Quase mil mortos na Itália em um dia. Não podemos repetir o erro que eles cometeram ao fazer a campanha Milão ‘não pode parar’”, criticou por exemplo o senador Weverton (PDT-MA)
Por Nathalia Bignon, para o 247 - A campanha publicitária criada pelo governo federal para defender a tese do isolamento vertical foi um dos assuntos mais comentados desta sexta-feira (27) entre parlamentares e políticos. Com o slogan "O Brasil Não Pode Parar" e orçada em R$ 4,8 milhões, as peças veiculadas hoje, pelo WhatsApp e redes sociais, defendem a reabertura do comércio e a volta à normalidade para milhões de trabalhadores brasileiros em pleno crescimento da pandemia da Covid-19.
“O Brasil continua à mercê de um presidente irresponsável, incompetente e objetivamente criminoso ao favorecer com suas atitudes a propagação da pandemia do novo coronavírus em nosso país. Caso de interdição total em defesa da saúde pública”, defendeu o vice-líder do PCdoB, deputado federal Márcio Jerry (MA).
Orlando Silva (PCdoB-SP) alertou para as consequências do fim do isolamento adotado na Itália. “O Planalto está lançando uma campanha odiosa e irresponsável contra o isolamento social. Milão fez isso e contou corpos aos milhares. Bolsonaro terá sangue nas mãos e ficará em posição insustentável com essa loucura. O Brasil exige responsabilidade”, exigiu o parlamentar.
Mencionada por muitos congressistas, a tragédia no país europeu também foi lembrada pelo senador Weverton (PDT-MA). “Quase mil mortos na Itália em um dia. Uma tragédia terrível, que não podemos deixar se repetir no Brasil. Não podemos repetir o erro que eles cometeram ao fazer a campanha Milão ‘não pode parar’. Pela vida dos brasileiros, vamos seguir a ciência e manter o isolamento social”, defendeu.
Já Alessandro Molon (RJ), líder do PSB, anunciou como medida a denúncia da campanha ao Tribunal de Contas da União. “Para evitar que o governo brasileiro cometa os mesmos erros do governo italiano, o PSB acaba de entrar com uma denúncia junto ao TCU proibindo a veiculação dessa campanha milionária, absurda e suicida! Fiquem em casa!”, disse, referindo à decisão do governo Italiano que, para não desacelerar a economia, decretou o fim da quarentena. Três dias depois, o número de óbitos dobrou, alcançando os 9 mil mortos nesta sexta.
Líder do PSOL, a deputada federal Fernanda Melchionna (RS) puxou o coro de uma nova hashtag, enquanto o slogan da campanha do Governo continuava a subir no ranking de assuntos mais comentados do Twitter nesta tarde. “O líder da ignorância ultrapassa novamente os limites: Bolsonaro agora toca campanha milionária sem licitação para incentivar os brasileiros a voltar à normalidade. Pela vida do povo, #OBrasilTemQuePararBolsonaro”.
Colega de partido, Marcelo Freixo (PSOL-RJ) usou as redes para comunicar uma ação protocolada junto ao Ministério Público Federal (MPF) para tentar barrar a veiculação das mensagens. “URGENTE! Os deputados federais do PSOL acionaram o MPF contra a propaganda criminosa do governo Bolsonaro, feita sem licitação, que coloca em risco a vida de milhões brasileiros. Não escute os terraplanistas, proteja-se, fique em casa!”, pediu.
Para o líder da minoria, deputado federal José Guimarães (PT-CE) o pronunciamento da última terça-feira (24), ocasião em que o presidente defendeu pela primeira vez o fim do isolamento, decretou o estado mental de Bolsonaro. “O pronunciamento dissipou qualquer dúvida de que ele padece de equilíbrio psíquico e preparo para exercer o cargo. Sem responsabilidade e eficiência, alienado, joga o País na incerteza num momento dramático da vida nacional, com a pandemia do coronavírus”, definiu.
Fazendo referência às orientações dúbias que vem sendo divulgadas pelo Ministério da Saúde, Marcelo Calero (Cidadania-RJ) criticou a falta de clareza e responsabilidade do Governo. “Um show de improviso com a vida alheia, vindo justamente de quem tem responsabilidade de dar o caminho e definir perspectivas”, comentou.
Coleção de polêmicas
Antes de iniciar a divulgação do vídeo, ontem Bolsonaro adicionou mais uma polêmica à sua coleção ao afirmar que o brasileiro “tem que ser estudado”, pois pula “no esgoto e nada acontece com ele” ao comparar a situação do Brasil com a dos Estados Unidos no combate à pandemia do novo coronavírus.
Depois de voltar a criticar governadores e prefeitos que adotaram o fechamento do comércio, o presidente chegou a defender, em sua tradicional transmissão semanal, que as casas lotéricas de todo o Brasil continuem abertas, já que não há risco de transmissão do novo Covid-19 porque o vidro que separa os funcionários do público é “blindado”.
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