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    Caatinga perdeu 9% de área nos últimos 36 anos, diz estudo do MapBiomas

    Principais fatores que aumentam a desertificação são o desmatamento, as queimadas e a retração das superfícies de água

    Caatinga - Raso da Catarina - BA, cactos, Rio S. Francisco, Baixa do Chico (Foto: Adriano Gambarini/ ABr)

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    Lucila Bezerra, Brasil de Fato - A pesquisa Brasil Revelado, do MapBiomas, identificou que 112 municípios da caatinga se tornaram áreas suscetíveis à desertificação entre 1985 e 2020, o que representa 9% da região. Isso quer dizer que esses municípios vão sofrer o empobrecimento do solo, fazendo com que sejam locais ainda mais difíceis de produzir e viver.

    Segundo o levantamento, os principais fatores que aumentam a desertificação são o desmatamento, as queimadas e a retração das superfícies de água.

    Principalmente no que diz respeito à agricultura irrigada e de grande porte, que cresceu 1.456%. Para os pesquisadores, isso representa também a pouca preservação desse ecossistema que, apesar de ser o único bioma exclusivamente brasileiro, é o menos preservado.

    “Se nós compararmos com outros biomas, o percentual nosso é muito baixo, não alcançamos nem 2% de áreas protegidas. Então, nós precisamos divulgar mais as riquezas naturais do bioma e exigir que esse percentual de áreas protegidas se amplie. Caso contrário, a gente tem um risco muito grande disso se acelerar e a gente ter perdas irreversíveis, tanto da biodiversidade, quanto da geodiversidade”, analisa o coordenador da MapBiomas Caatinga, Washington Rocha.

    O estado de Pernambuco apresentou um aumento de 259% de áreas sem vegetação nos últimos 36 anos, principalmente no município de Cabrobó, e na divisa com os estados do Ceará e Paraíba. Nesta região, está o município de Jataúba, no agreste pernambucano, onde o técnico em agroecologia e agricultor Gildo José da Silva tem sentido na pele as mudanças nos últimos anos.

    “A gente não está mais produzindo como produzia e isso a cada ano vem caindo. Nós estamos produzindo novas culturas, não só porque queremos inovar e produzir novas coisas, mas porque não estamos conseguindo produzir as anteriores. Então, nós saímos de hortas e estamos entrando nos beneficiados, como molho de pimenta, geleia de pimenta, porque resiste mais um pouco, né?”, acredita o agricultor.  

    Outro ponto que contribui para o avanço da desertificação é a falta de conscientização ambiental, que muitas vezes faz com que as pessoas destruam o solo sem a consciência das consequências dessas ações. 

    “A gente reflete que muitas pessoas não têm acesso à educação ambiental, né? Elas nem tem consciência de que isso é um reflexo dos nossos atos, de desmatamento, de apropriação da natureza", destaca a agricultora e estudante do bacharelado em Agroecologia, Campesinato e Educação Popular da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), Tatiane Faustino da Silva.

    "Talvez isso seja uma estratégia para a maioria das pessoas não saber que isso é fruto das nossas ações. E não só das nossas ações, porque eu acho que, como camponês, o que ele impacta o meio ambiente não é quase nada, se for comparar com os grandes impérios que produzem alimentos ou que fazem a exploração mineral no país.”

    O que preocupa ainda mais é a  dificuldade de se reverter a desertificação, o que faz da prevenção ainda mais importante  pela dificuldade de identificar o processo; uma vez que ele se confunde com os ciclos fenológicos e de seca do bioma.

    “Então, muitas vezes não sabemos se aquele aspecto da paisagem é um aspecto relacionado a esses ciclos fenológicos ou a esses ciclos climáticos mais amplos ou se é um processo já de desertificação. Qual é a diferença?", questiona o coordenador da equipe Caatinga da MapBiomas.

    "Nos ciclos naturais, você tem o desfolhamento, a caatinga perde e pode passar até anos desfolhada, mas se tem uma chuva, ela recupera e fica verde rápido. Mas a diferença é que na desertificação ela não vai voltar. Por que que não vai voltar? Porque já houve comprometimento da produtividade do solo e ele não vai sustentar nem uma regeneração natural, muito menos processos de produção agrícola ou outro tipo de exploração do solo", explica.

    Até 2018, o Ministério do Meio Ambiente realizava o projeto da Unidade de Regeneração de Caatinga, que tinha como objetivo o seu reflorestamento em alguns pontos mais críticos de desertificação, como Bahia, Ceará, Piauí e Sergipe. Contudo, ele foi cancelado logo no início do governo Bolsonaro.

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