Coronel negro reformula manual da PM de SP para combater racismo: 'não será tolerado'
Tenente-coronel da PM de SP, Evanilson Corrêa de Souza, negro, de 50 anos, destaca que o atual manual da PM no estado é de 1998 e, segundo o militar, a nova versão deve ficar pronta no 1º semestre de 2021. A ideia é que novas diretrizes estimulem colegas da corporação a combaterem o racismo. "O negro tem pressa, porque é muito tempo sofrendo a mesma coisa", diz
247 - Tenente-coronel da PM de São Paulo, Evanilson Corrêa de Souza, negro, de 50 anos, afirma que pretende "contribuir para a desestruturação do racismo estrutural". O atual manual da PM é de 1998 e, de acordo com o militar, a nova versão deve ficar pronta no 1º semestre de 2021. O percentual de negros assassinados por policiais foi de 79,1% em 2019, de acordo com Anuário Brasileiro de Segurança Pública. O Atlas da Violência apontou que, em 2018, os negros representaram 75,7% das vítimas de todos os homicídios.
"O negro tem pressa, porque é muito tempo sofrendo a mesma coisa. O racismo está enraizado nas pessoas historicamente e culturalmente e elas não percebem isso", disse Corrêa de Souza sobre a ideia de fazer os policiais paulistas a refletirem sobre o racismo no dia a dia nas ruas. Os relatos dele foram publicados pelo portal G1.
O objetivo do coronel, responsável pelo 11º Batalhão da PM, na área dos Jardins/Consolação, estimular os colegas a identificarem condutas discriminatórias dentro da corporação e corrigí-las.
"É importante mostrar para as pessoas que o racismo existe, que não é exagero, não é só um costume, uma brincadeira, um jeito. Porque é cultural e tradicional dessa forma (de discriminação). É um racismo estrutural da sociedade que se arrasta até os dias de hoje", disse. "Não será uma caça às bruxas, mas não vamos mais tolerar discriminações de nenhuma forma".
De acordo com o Atlas da Violência 2020, a taxa de homicídios de negros no Brasil aumentou de 34 para 37,8 por 100 mil habitantes entre 2008 e 2018, alta de 11,5% no período. Os assassinatos entre os não negros no mesmo comparativo registraram uma diminuição de 12,9% (de uma taxa de 15,9 para 13,9 mortes para cada grupo de 100 mil habitantes).
"A sociedade precisa pensar de novo o preconceito contra o negro, porque isso gera uma cultura histórica de estigmatização por parte do próprio negro, que se vê já inferior, se acha, muitas vezes, incapacitado historicamente para certos cargos ou atos. É ruim e difícil dizer que existe racismo, que existe uma sociedade racista, porque você está acusando seus colegas e amigos de racismo. Mas o racismo existe, sim", disse o coronel.
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