Escassez de alimentos e combustíveis amplia problemas no Rio Grande do Sul
Nos supermercados, o principal item em escassez é a água mineral, e há fracionamento de compra por cliente; venda foi restringida a seis litros por pessoa
Reuters - Moradores de Porto Alegre e municípios vizinhos enfrentam escassez de produtos nas prateleiras dos supermercados e de gasolina nos postos de combustíveis, além de desabastecimento de água e energia elétrica, devido à chuva histórica que inundou o Rio Grande do Sul.
A Reuters percorreu, na noite de segunda-feira, postos de combustíveis e supermercados da capital gaúcha, encontrando prateleiras vazias e algumas bombas fechadas.
Nos supermercados, o principal item em escassez é a água mineral, e há fracionamento de compra por cliente. A reportagem encontrou o produto em apenas uma das cinco unidades em que esteve -- o estabelecimento tinha somente uma carga de garrafas de 1,5 litro que havia sido descarregada há pouco e esgotou em menos de cinco minutos.
O Grupo Zaffari, a maior rede de supermercados do Estado, restringiu a venda a seis litros por cliente e informou que “algumas lojas estão enfrentando interrupção de reposição de itens, em decorrência de obstrução logística ou por alta demanda de consumo”.
“Sobre a disponibilidade de água, a empresa já está racionando a venda de unidades por compra, porém a demanda é maior do que a disponibilidade do estoque, no momento”, afirmou, em nota.
Segundo a Associação Gaúcha de Supermercados (Agas), a venda de água disparou 12 vezes no Rio Grande do Sul -- os estoques para 25 dias em estabelecimentos de médio porte acabaram em dois dias.
“Comida não vai faltar, a questão é o aumento da demanda e a logística de acesso aos mercados. A reposição está muito lenta porque o trânsito está trancado e falta mão de obra”, afirmou à Reuters o presidente da Agas, Antônio Cesa Longo.
Fechada há quatro dias pela inundação, a Central de Abastecimento do Rio Grande do Sul (Ceasa) retomará as atividades na quarta-feira em um endereço provisório, em uma distribuidora de uma rede de farmácias.
“Muitos produtores e atacadistas possuem estoques de até 90 dias. Isso significa que, mesmo diante de desafios climáticos, o fornecimento de alimentos está assegurado”, afirmou a Ceasa em comunicado.
Conforme entidades dos setores de supermercados e combustíveis, os desabastecimentos são pontuais e causados pelo aumento da demanda somado à dificuldade de acesso às cidades para reposição.
Com o alagamento de ruas e avenidas, os principais acessos à capital gaúcha estão bloqueados, e as únicas chegadas seguras são pela RS-040, por Viamão, e pela RS-118, por Alvorada. As duas rodovias têm registrado engarrafamentos constantes nos dois sentidos devido às enchentes, que já deixaram ao menos 90 mortos e 132 desaparecidos.
No domingo, um caminhão-tanque que saiu de Canoas levou 10 horas para chegar à capital, contou à Reuters o presidente do Sindicato Intermunicipal do Comércio Varejista de Combustíveis e Lubrificantes do Estado (Sulpreto), João Carlos Dal’Aqua. Sem trânsito, não levaria mais do que uma hora.
Duas das cinco bases de distribuição próximas à Refinaria Alberto Pasqualini (Refap), em Canoas, que atendem à maior parte do Estado, estão paralisadas pelos alagamentos. Nas demais unidades, o setor tem dificuldades no trabalho por causa da ausência de funcionários que tiveram suas casas invadidas pela enchente.
“Tem produto, mas o escoamento está sendo lento. Essa é a dificuldade e, por isso, alguns postos estão secando”, disse Dal’Aqua.
O Sulpetro orientou que as revendas priorizem o abastecimento de veículos oficiais e recomendou que, para os consumidores em geral, limitem a venda a 20 litros.
ÁGUA E LUZ
Na capital gaúcha, 170 mil pontos ainda estão às escuras e 85% dos bairros têm as torneiras secas. O prefeito da cidade, Sebastião Melo, decretou racionamento de água, limitando o uso apenas para consumo essencial.
“Eu apelo por racionamento. E aqueles que tiverem condições de sair da cidade, seja para um parente, para a praia, para outra localidade, é uma contribuição que vai estar dando para aqueles que aqui ficam e precisam do mínimo de abastecimento”, disse Melo, em entrevista coletiva.
A enchente comprometeu o sistema do Departamento Municipal de Água e Esgoto (Dmae). Na segunda-feira, somente uma das seis estações de tratamento de Porto Alegre assistia à cidade, e ainda parcialmente devido à turbidez da água -- quatro tiveram as casas de bombas alagadas pelas chuvas e uma foi desativada após o desligamento da rede elétrica. O funcionamento de uma unidade inundada foi retomado na manhã desta terça-feira.
Quem ainda tinha água nas torneiras dependia do volume armazenado em caixas d’água de prédios e casas. Com o desabastecimento, moradores compartilham nas redes sociais listas de fontes naturais na cidade, que registraram filas inclusive nas madrugadas.
“É a única opção que encontrei por perto”, afirmou Mairy Neto, de 31 anos, à Reuters. Ela esperou cinco horas até conseguir encher uma bombona de 20 litros em uma bica no bairro Auxiliadora.
Moradores também fizeram fila para abastecer garrafas em caixas d’água doadas por voluntários. A prefeitura distribuiu 12 caminhões-pipa para o atendimento de hospitais e abrigos que recebem vítimas da enchente, e outros Estados, como Paraná e São Paulo, estão enviando mais veículos.
Já a interrupção no fornecimento de luz em Porto Alegre é causada, em 97% dos pontos, pelo desligamento da rede devido aos riscos de choque nas pessoas em contato com os alagamentos.
“Sobre a água, não temos controle total. Sobre a energia elétrica, nós temos. Então, temos que atuar”, afirmou Riberto Barbanera, diretor-presidente da CEEE-Equatorial RS, concessionária que atende a cidade.
Em todo o Rio Grande do Sul, há 451.114 pontos sem luz nas áreas da CEEE-Equatorial e RGE Sul e 649.132 clientes da Companhia Riograndense de Saneamento (Corsan) sem água nesta terça-feira.
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