Os laços da Brasil Paralelo, que nega crise climática, na vice-prefeitura de Porto Alegre
Vice-prefeito é apresentador na produtora; instituto de empresário ligado à BP tem atuado na cidade e recebido doações
Por Amanda Audi, Bruno Fonseca, Gabriel Gama (Agência Pública)
A vice-prefeitura da capital do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, está nas mãos de um dos primeiros participantes, professor e apresentador da Brasil Paralelo – produtora que é uma das maiores fontes no país de conteúdo desinformativo sobre diversos temas científicos, inclusive, as emergências climáticas.
Trata-se de Ricardo Gomes, que chegou ao cargo pelo MDB e depois se filiou ao PL, partido de Jair Bolsonaro. Desde 2020 como vice-prefeito de Sebastião Melo, do MDB, Gomes conseguiu seu primeiro cargo legislativo em 2016, quando foi eleito vereador pelo PP.
Segundo a Agência Pública apurou, o maior gasto da campanha de Gomes na época foi com a própria Brasil Paralelo. Ele pagou R$ 20 mil por serviços de “construção de marca e planejamento de conteúdo” para o CNPJ da Brasil Paralelo, que naquela época tinha a razão social LTH Higgs Ltda. No dia 8 de maio, Gomes chegou a usar um boné da Brasil Paralelo em uma transmissão ao vivo durante o trabalho de resgate de vítimas das enchentes no Rio Grande do Sul.
POR QUE ISSO IMPORTA?
A Brasil Paralelo é uma das principais produtoras de conteúdo no Brasil que questionam que as emergências climáticas atuais estão diretamente relacionadas à atividade humana, sobretudo ao aquecimento global impulsionado pela queima de combustíveis fósseis.
O vice-prefeito de Porto Alegre, cidade afetada pelas enchentes no Rio Grande do Sul, tem grandes ligações com a BP.
Gomes já anunciou que não deve concorrer para permanecer no cargo nas eleições deste ano. A sua sucessão, contudo, chegou a ser cogitada para outra pessoa próxima à Brasil Paralelo: Claudio Nudelman Goldsztein, empresário do setor da construção, membro da família Goldsztein, chegou a ser cortejado como possível novo vice junto a Melo. A construtora Cyrela Goldsztein, frequentemente apontada como uma das maiores do país, é o resultado da fusão das construtoras Cyrela com a Goldsztein, da família de Claudio.
Claudio tem atuado há anos para influenciar políticas públicas no estado através da organização que fundou, o Instituto Cultural Floresta (ICF). No dia 6 de maio, em meio às inundações que atingem o Rio Grande do Sul, o ICF postou um vídeo no qual Goldsztein faz propaganda da compra de antenas da Starlink – empresa do bilionário Elon Musk – feita pelo ICF para ajudar no trabalho de resgate de desabrigados. A compra dessas antenas tornou-se um dos assuntos mais comentados da rede social X/Twitter, do próprio Musk, que recebeu os agradecimentos públicos do ICF, como mostrou reportagem do Intercept. A chegada das antenas foi compartilhada junto à desinformação de que nenhuma outra rede de internet estaria funcionando no estado. O governador Eduardo Leite (PSDB) agradeceu a Musk.
Enquanto Goldsztein anunciava as antenas de Musk, o vice-prefeito de Porto Alegre usou uma live da Brasil Paralelo para elogiar a instituição do amigo. Gomes contou que esteve ao lado de Goldsztein desde sexta-feira, 3 de maio, quando a tragédia se acirrou em Porto Alegre. “O Claudio no jipe, eu no barco”, disse. Ao comentar sobre formas de ajuda, o vice-prefeito citou nominalmente a instituição do amigo. “Eu quero referendar aqui o Instituto Cultural Floresta. É um caminho seguro, honesto, transparente pra fazer doações, mas como outros tantos são”, apontou, indicando que a aplicação do dinheiro seria mais rápida do que a doação para órgãos públicos, que teriam que “fazer licitação”, o que faria com que o “primeiro colchão só chegue daqui a seis meses”.
“Obviamente sou vice-prefeito, não tô dizendo pra não doar pra Prefeitura, haverá transparência, haverá aplicação adequada desses recursos, mas o tempo e a agilidade é muito diferente”, acrescentou.
De acordo com matéria do site Porto Alegre 24 Horas, publicada em 27 de abril, Goldsztein teria sido indicado para compor a chapa da candidatura à prefeitura nas eleições deste ano, mas à Agência Pública ele negou que irá concorrer. “Nunca analisei a fundo essa proposta”, ele disse por telefone.
Segundo a Pública apurou, a fundação do instituto de Goldsztein foi inspirada nos mesmos ideais que levaram à criação da Brasil Paralelo. Foi inclusive através do ICF que Goldsztein e o atual vice-prefeito, Ricardo Gomes, se juntaram em uma transmissão da Brasil Paralelo em meio ao desastre que atinge o Rio Grande do Sul.
A reportagem procurou Ricardo Gomes e a Brasil Paralelo, mas eles não responderam até a publicação desta reportagem.
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