"Brasil desponta como líder na produção de tecnologias verdes e veículos híbridos", diz Paulo Gala
Em entrevista à TV 247, o economista disse que há sinais concretos de uma retomada da indústria no país, que deve crescer acima do PIB em 2024
247 - O Brasil está testemunhando uma nova fase de industrialização, segundo o economista-chefe do Banco Master, Paulo Gala. Em entrevista ao programa Desenvolvendo o Brasil, da TV 247, Gala afirmou que já há sinais concretos de uma retomada da indústria no país, que deve crescer acima do PIB em 2024, algo que não acontecia há anos. O economista destacou o crescimento do setor no segundo trimestre, superando o PIB, que também apresentou um avanço significativo de 1,4%.
Para Gala, esta não é uma simples reindustrialização, mas sim uma nova industrialização, voltada para a produção de novos bens que não eram fabricados no passado. "Toda a linha de produtos verdes, como fertilizantes e químicos sustentáveis, além de novos eletroeletrônicos e semicondutores, fazem parte dessa transformação", destacou. O Brasil está se tornando uma fronteira de investimentos em veículos híbridos, especialmente movidos a etanol, e em hidrogênio verde, aproveitando o domínio da tecnologia flex desenvolvido ao longo dos anos. "Este ano deve ser um marco, com recordes de anúncios de investimentos de montadoras e empresas de diversos setores", acrescentou. >>> Indústria brasileira cresce 3% nos oito meses de 2024, aponta IBGE
Sustentabilidade e a vantagem competitiva brasileira
A transição para uma economia verde está no centro das atenções, e Gala acredita que o Brasil possui uma grande vantagem competitiva nesse campo. Com cerca de 80% de sua matriz energética sendo limpa, o país já parte de um patamar que muitos outros estão tentando alcançar. "Se quisermos limpar o planeta, temos que produzir no Brasil", enfatizou o economista. Contudo, ele reconheceu que o Brasil ainda está atrasado em comparação com países como Alemanha, China e Estados Unidos, que avançaram significativamente na transição climática e energética devido a políticas públicas consistentes.
Para Gala, 2024 pode ser o ano da conscientização, quando o Brasil realmente desperte para a importância de aproveitar suas vantagens na produção sustentável. Ele enfatizou que o maior desafio do país é a perenização de políticas industriais, garantindo que elas sejam duradouras, independentemente de mudanças de governo, como acontece em países que têm agendas sólidas de desenvolvimento tecnológico e industrial.
Integração inteligente na Rota da Seda
Ao falar sobre as relações internacionais, Gala defendeu que o Brasil mantenha boas relações tanto com os Estados Unidos quanto com a China, seus dois maiores parceiros comerciais. Para ele, o país deve adotar uma postura ativa na integração à Iniciativa do Cinturão e Rota da China, buscando transferência de tecnologia e aprendizado produtivo. "Não adianta fazermos uma integração passiva, apenas fornecendo soja e minério de ferro. Precisamos buscar uma integração inteligente e ativa, que traga benefícios tecnológicos para o Brasil", afirmou.
Outro ponto importante abordado por Gala foi a relação entre a política monetária e o desenvolvimento econômico do país. Apesar da queda das taxas de juros ao longo das últimas décadas, ele acredita que os juros reais ainda são altos demais, dificultando a formação de capital de maneira sustentável. "O desafio é reduzir os juros de forma que não aumente a inflação, garantindo um ambiente propício ao investimento produtivo", explicou.
O economista também destacou a necessidade de o Brasil desenvolver simultaneamente a qualificação da mão de obra e o sistema produtivo, para que os profissionais formados no país possam encontrar oportunidades de trabalho qualificadas e bem remuneradas internamente. Ele lamentou a fuga de cérebros e o subemprego de profissionais altamente qualificados, e ressaltou que é fundamental haver um desenvolvimento tecnológico que absorva essa mão de obra.
Bancos públicos e finanças verdes
Paulo Gala defendeu o papel crucial dos bancos públicos no desenvolvimento econômico e na transição climática. Esses bancos são essenciais para assumir riscos que a iniciativa privada não quer tomar inicialmente, como ocorreu no financiamento da Embraer e dos parques eólicos do Nordeste. Além disso, são fundamentais para viabilizar a transição energética e climática, que envolve tecnologias ainda não testadas e que necessitam de financiamentos para serem implementadas.
O economista destacou que há hoje mais de 500 bancos públicos no mundo, todos muito ativos no financiamento de projetos sustentáveis, e que o BNDES está alinhado com essa agenda, sendo um dos maiores financiadores da transição energética no planeta.
Reforma tributária e seus impactos na indústria
Em relação à reforma tributária aprovada recentemente, Gala avaliou que ela representa um grande avanço para a indústria brasileira, que sempre foi sobrecarregada em relação à sua participação no PIB. "A participação da carga tributária da indústria deve finalmente cair. Hoje, a indústria contribui com 30% da carga tributária, mas responde por apenas 10% do PIB", explicou. Para ele, a mudança na estrutura de impostos, agora mais baseada em valor agregado, tende a beneficiar o ambiente de negócios e favorecer a retomada industrial no Brasil.
Assista à entrevista na íntegra:
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