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    Analgesia peridural no parto pode reduzir complicações maternas graves

    Pesquisa reforça que os benefícios da técnica vão muito além de trazer conforto e aliviar a dor das contrações

    Hospital Materno Infantil de Brasília (Foto: Agência Brasília)

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    Por Gabriela Cupani, da Agência Einstein - A analgesia peridural (ou epidural), uma das mais usadas durante o parto, pode reduzir em até 35% as complicações obstétricas graves, principalmente em casos que tenham indicação médica e nos partos prematuros. A conclusão é de um estudo publicado no The British Medical Journal que ressalta os benefícios terapêuticos dessa técnica, além da indicação usual de promover conforto à parturiente.

    O uso da analgesia de parto para reduzir a dor está frequentemente relacionado à vontade da mulher. Mas há indicações clínicas em que a epidural também pode garantir maior proteção. Por exemplo, quando há comorbidades cardiovasculares ou pulmonares (como asma ou doença pulmonar obstrutiva crônica), em pacientes que passaram por uma cesárea anterior e têm maior risco de ruptura uterina, e ainda nas portadoras de obesidade, entre outros casos.

    Segundo o novo artigo, já havia evidências desse efeito, mas os estudos anteriores eram mais limitados. Para chegar ao resultado, os autores analisaram registros médicos de mais de 500 mil mulheres, atendidas ao longo de 13 anos na Escócia por meio do Sistema Nacional de Saúde (NHS), a rede pública de saúde do Reino Unido. Foram avaliadas complicações como infarto do miocárdio, eclâmpsia, hemorragias e histerectomia, até 42 dias após o nascimento. 

    Embora não apontem os motivos que explicam o resultado, os pesquisadores sugerem que fatores como a redução do estresse e da liberação de hormônios durante o trabalho de parto podem estar por trás do benefício da epidural. 

    “Os resultados fazem sentido porque, além de trazer conforto, a anestesia tem também uma função terapêutica”, avalia o médico anestesiologista Wilson Nogueira Soares Junior, do Hospital Israelita Albert Einstein. “Ao reduzir a liberação de adrenalina pelo organismo, [a anestesia] pode proteger pacientes e evitar que alguns quadros sejam agravados.” Uma pessoa com problemas cardíacos poderia infartar, ou um asmático poderia ter uma crise, exemplifica o especialista.

    Para o anestesiologista Rafael Priante Kayano, do corpo clínico do Einstein, os achados sugerem que essa analgesia deveria ser feita principalmente em dois subgrupos de pacientes para evitar complicações maternas graves: aquelas que têm indicações clínicas, mesmo que não manifestem o desejo de anestesia, e em certas situações em que ela não é feita de rotina, como alguns partos prematuros. 

    Atualmente, as técnicas mais empregadas na analgesia de parto são a peridural sozinha ou combinada com a raquianestesia. Injetadas junto à coluna, nas costas da paciente, elas fazem o chamado bloqueio do neuroeixo, ou seja, impedem que a dor sentida na parte inferior do corpo chegue ao cérebro. Ainda que o estudo tenha avaliado somente a peridural, é possível extrapolar os resultados para a versão combinada por serem anestesias similares, avaliam os especialistas ouvidos pela Agência Einstein.

    Embora as duas sejam eficazes, cada uma tem suas particularidades. Na raqui, a agulha é inserida num local mais profundo, próximo à medula espinhal, num espaço onde circula o líquido cefalorraquidiano. Ela tem efeito mais rápido, mas um tempo limitado de ação. É feita, por exemplo, quando a parturiente chega à maternidade e o parto é iminente.

    Já a peridural é aplicada num ponto mais superficial. Coloca-se um cateter por onde é possível controlar a quantidade de medicamentos e prolongar o tempo de ação, se necessário. Sozinha, seu efeito contra a dor é um pouco inferior.

    No Brasil, o mais comum é o chamado duplo bloqueio, que é a combinação da raqui com o cateter peridural. “A combinada traz melhor qualidade de analgesia”, diz Kayano. Mas, enquanto no sistema privado ela é feita em 80% a 90% dos partos, no público geralmente só é aplicada em cesáreas. Na análise dos médicos, o resultado do estudo pode estimular o uso da analgesia no sistema público, aumentando as situações em que ela seria indicada.

    Outros tipos de analgesia, como medicações venosas, são menos empregados em partos porque atravessam a placenta e o bebê pode nascer com sedação. Por isso, devem ser usados em dosagens mais baixas, o que reduz sua eficácia. Há ainda técnicas alternativas de alívio da dor, como acupuntura, massagem e imersão em água, que também podem trazer conforto, diminuindo a necessidade de anestésicos ou retardando o início das técnicas de neuroeixo.

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