Depressão aumenta risco cardiovascular e diagnóstico é subestimado na prática médica, alerta estudo
Mulheres são mais acometidas; transtorno deveria ser rastreado e tratado para prevenir eventos como infartos e derrames
Por Gabriela Cupani, da Agência Einstein - A depressão é um fator de risco para as doenças cardiovasculares e, no entanto, seu diagnóstico é frequentemente subestimado na prática médica, de acordo com um artigo publicado no “International Journal of Cardiovascular Sciences”. Os resultados foram citados nas recomendações da mais nova Diretriz da Sociedade Interamericana de Cardiologia, que defende a necessidade da investigação de problemas mentais na redução do risco cardíaco.
Segundo a pesquisa, a depressão deveria ser investigada e tratada tanto quanto outros fatores, como colesterol ou hipertensão, para prevenir eventos como infartos e derrames.
O problema é mais grave nas mulheres: além de serem de duas a três vezes mais acometidas pela depressão, quando ela ocorre, o sexo feminino tem uma probabilidade 30% a 50% maior de desenvolver uma doença do coração do que o masculino.
Acredita-se que as alterações hormonais entre as mulheres favorecem o aparecimento do problema mental ao longo da vida, desde a adolescência ao climatério. Recentemente, um estudo brasileiro mostrou que 38,8% das mães que deram à luz no segundo semestre de 2020 tiveram sintomas de depressão pós-parto.
Ainda que os mecanismos não sejam totalmente esclarecidos, parece haver biomarcadores comuns inflamatórios entre doenças cardíacas e depressão. Tanto que quando aparecem juntas, o grau da doença e o prognóstico são piores.
“É uma via de mão dupla: mulheres deprimidas têm mais risco de doenças cardiovasculares e vice-versa”, diz a cardiologista Walkiria Ávila, do Instituto do Coração, em São Paulo, e uma das autoras do artigo.
Importância do diagnóstico
A cardiologista Juliana Soares, do Hospital Israelita Albert Einstein, concorda com os resultados do estudo e diz: “Essa relação vem ganhando peso recentemente e um bom check-up deveria avaliar todos os aspectos da saúde da pessoa, incluindo a saúde mental”.
Estima-se que apenas 3% dos cardiologistas façam o rastreamento da depressão, segundo dados citados na Diretriz. Em casos mais graves, a paciente deve ser encaminhada ao psiquiatra ou psicólogo, para tratamento especializado. “Infelizmente ainda não há essa consciência em todos os profissionais médicos”, observa Walkiria.
A depressão atinge entre 1% e 17% da população, algo em torno de 300 milhões de pessoas no mundo. A incidência é 70% maior nas mulheres. Trata-se de uma doença crônica com grande impacto na morbidade e mortalidade por todas as causas. Estudos mostram que ela está associada a um aumento de 53% nos custos em saúde cardiovascular.
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