Índia abandona plano bilionário para impulsionar a indústria e busca parceria com a China
Esforço de US$ 23 bilhões fracassa e analistas chineses defendem cooperação com Pequim para fortalecer setor manufatureiro indiano
247 – O governo do primeiro-ministro indiano Narendra Modi decidiu encerrar um ambicioso programa de US$ 23 bilhões criado para incentivar a produção doméstica e atrair empresas estrangeiras que buscavam sair da China. A decisão foi revelada pela agência Reuters, com base em declarações de quatro autoridades indianas, e gerou críticas e reflexões sobre as limitações estruturais da Índia para alcançar a meta de se tornar um centro industrial global.
O plano, conhecido como Production-Linked Incentive (PLI), foi lançado há quatro anos como parte da campanha "Make in India" e visava aumentar a participação da indústria no PIB para 25% até 2025. No entanto, segundo a Reuters, essa fatia encolheu, passando de 15,4% para 14,3% desde o início do programa. Em diversos setores, empresas enfrentaram dificuldades para iniciar a produção e muitas relataram atrasos nos pagamentos das subsídios prometidos.
Apesar de atrair grandes companhias nos ramos de smartphones e farmacêutico — que absorveram 94% dos US$ 620 milhões distribuídos entre abril e outubro de 2024 —, a iniciativa não conseguiu fazer frente à complexa cadeia produtiva da China. "Essencialmente, a Índia precisa encarar a realidade de que ainda não possui as condições necessárias para o crescimento acelerado de uma indústria de grande escala", afirmou o professor Long Xingchun, da Universidade de Estudos Internacionais de Sichuan, ao jornal Global Times.
Para Long, a falta de infraestrutura adequada, mão de obra qualificada e uma cadeia de suprimentos consolidada minou as chances de sucesso do plano. Ele também apontou falta de "sinceridade política", já que muitas empresas enfrentaram obstáculos burocráticos para acessar os incentivos. "Mesmo investidores estrangeiros demonstraram pouco entusiasmo diante dessas dificuldades", destacou.
Ainda assim, analistas como Liu Zongyi, diretor do Centro de Estudos Sul-Asiáticos do Instituto de Estudos Internacionais de Xangai, avaliam que a Índia não desistirá totalmente de sua ambição industrial. "O país continua buscando oportunidades para se tornar uma potência econômica e influente no cenário global", disse Liu. Segundo ele, a Índia tenta aproveitar a estratégia dos Estados Unidos para o Indo-Pacífico, atraindo fábricas que desejam sair da China.
Entretanto, especialistas chineses alertam que uma postura mais cooperativa com Pequim pode ser mais eficaz para os objetivos de Nova Délhi. "Evitar o confronto e buscar cooperação com a China pode gerar grandes oportunidades para a Índia", avaliou Long, sugerindo que indústrias chinesas poderiam se instalar na Índia e colaborar na integração de cadeias produtivas. "Empresas locais ou estrangeiras que investem na Índia dependem, de alguma forma, da cadeia de suprimentos da China", completou.
As declarações mais recentes de Modi indicam uma mudança de tom nas relações com o país vizinho. Em um podcast recente, o premiê defendeu uma "competição saudável" entre China e Índia e afirmou que "a competição nunca deve se transformar em conflito". Segundo ele, ambos os países estão "trabalhando para restaurar as condições pré-2020" — uma referência aos confrontos na fronteira do Himalaia que azedaram os laços bilaterais.
O discurso foi bem recebido por Pequim. "Ser parceiros na conquista mútua e realizar um pas de deux cooperativo entre o dragão e o elefante é a única escolha correta", declarou a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Mao Ning, em 17 de março.
Apesar do novo discurso conciliador, o Ministério do Comércio da Índia solicitou recentemente que a indústria identificasse áreas em que fosse possível substituir insumos chineses por produtos norte-americanos, segundo reportou o jornal The Indian Express. A tensão entre os discursos de cooperação e a pressão por substituição de importações evidencia os dilemas da Índia em sua busca por protagonismo industrial.
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