Ataque à soberania do Panamá é a primeira ameaça da era Trump à América Latina
Em declarações polêmicas, presidente eleito dos EUA sugere retomada do controle do Canal do Panamá e levanta tensão diplomática na região
247 - O presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, deu um sinal preocupante sobre o tom de sua política externa ao acusar, no último sábado, o governo do Panamá de cobrar taxas excessivas pelo uso do Canal do Panamá e insinuar que poderia exigir a entrega do território estratégico caso sua administração não fosse considerada “aceitável”. A declaração, publicada no Truth Social, despertou indignação internacional e foi interpretada como uma ameaça direta à soberania do país latino-americano.
Além de questionar a gestão panamenha do canal, Trump alertou que não permitiria que a passagem marítima caísse em “mãos erradas”, fazendo menção à suposta influência chinesa sobre o controle da rota comercial. “O canal não deveria ser administrado pela China”, escreveu, em uma retórica que reacende temores de intervenção estrangeira e ecoa práticas imperialistas.
Ameaça sem precedentes à soberania - A publicação de Trump representa um dos raros momentos em que um líder dos Estados Unidos sugere publicamente pressionar um país soberano a ceder território estratégico. Analistas interpretam a declaração como uma ruptura com a diplomacia tradicional e um prenúncio de políticas mais agressivas na América Latina.
Desde 1999, o Panamá administra o canal de forma independente, em cumprimento aos Tratados Torrijos-Carter, firmados em 1977. A transição do controle, que passou primeiro por um período de gestão conjunta entre os EUA e o Panamá, é vista como um marco da luta panamenha pela soberania.
O governo panamenho ainda não respondeu oficialmente às declarações de Trump, mas especialistas destacam que qualquer tentativa de ingerência sobre o canal seria considerada uma violação das normas internacionais e dos tratados que garantem a soberania do Panamá.
O Canal do Panamá como símbolo regional - O Canal do Panamá é mais do que uma rota comercial vital; ele representa a superação histórica de um legado colonialista e a afirmação da autonomia panamenha no cenário global. A insinuação de que o território poderia ser “retomado” pelos Estados Unidos, quase 25 anos após a devolução formal do canal, ameaça reabrir feridas históricas e causar tensões na relação entre os dois países.
Adicionalmente, a retórica de Trump, que inclui acusações vagas sobre a influência da China, insere o Panamá em um jogo geopolítico maior. O país, que mantém relações diplomáticas e comerciais com Pequim, tem buscado equilibrar suas parcerias globais sem comprometer sua independência.
Sinais de uma nova era de confrontos - A postura agressiva de Trump, que já demonstrou disposição para ameaçar aliados e adotar retórica belicosa, sinaliza uma possível mudança na relação dos Estados Unidos com a América Latina. Historicamente marcada pela interferência norte-americana, a região pode enfrentar novos desafios sob a liderança do presidente eleito.
Especialistas destacam que a comunidade internacional precisará observar de perto os próximos passos de Trump. A tentativa de questionar o controle soberano do Canal do Panamá é vista como um teste para os princípios do direito internacional e para a disposição da América Latina em defender sua autonomia diante de ameaças externas.
Com um discurso que revive fantasmas do passado, Trump dá início a sua era de governo não apenas como um desafio à política interna dos Estados Unidos, mas como um potencial desestabilizador das relações internacionais. Para o Panamá, o Canal é mais do que uma via de comércio: é um símbolo de independência que não será facilmente colocado em xeque.
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