A bolha dentro da bolha – e o poder de Pablo Marçal
Pablo Marçal se tornou tão poderoso que não há lei – ao menos por hora – que possa impedir suas reiteradas mentiras digitais contra seus adversários
Quando assisti aos lances do debate entre Donald Trump e Joe Biden (eleição dos EUA) e vi que, como no velho faroeste, sem lei, sem regras, sem limites, Trump podia mentir e dissimular à vontade, pensei: “Copiamos o que há de pior daquele país… Então, este será o tom das campanhas para prefeituras no Brasil em 2024!”. Dito e feito: Pablo Marçal é o Trump na disputa para comandar a cidade mais importante da América Latina. E nada – por agora – consegue frear o ímpeto bandido deste moço, pois, mesmo tendo as lições de enfrentamento do fascismo imprimidas por Alexandre de Moraes nas eleições de 2022, o Brasil (suas instituições coloniais) não estão preparadas para este velho (novo) faroeste tropical.
Faz alguns meses, escrevi um artigo acerca da importância de se tipificar o crime de Fake News ao menos para enchentes (e outros impactos climáticos), pandemias, catástrofes em geral e demais tragédias que causem comoção nacional. Cheguei a redigir a minuta de um projeto de Lei e enviei para dezenas e dezenas de congressistas brasileiros. Por incrível que pareça, a “mira” (ou justificação personalizada) para meu anteprojeto se chamava “Pablo Marçal”. É verdade que outros também, como este criminoso mencionado, usaram das Fake News e mecanismos sofisticados de falácias que constroem pós-verdades durante as enchentes do Rio Grande do Sul, agravando sobremaneira o socorro às vítimas. Portanto, vi nestes sujeitos a nata podre que torna emergente tipificar crimes dessa natureza para emplacar algum freio quanto às consequências de seu poder destruidor. Mas infelizmente ninguém, nenhum deputado ou senador levou a sério o que apresentei.
Tudo isso que escrevi até agora é para dizer que estamos presos. Trata-se de uma metabolha. A bolha dentro da bolha do fascismo e do delírio. Pablo Marçal se tornou tão poderoso que não há lei – ao menos por hora – que possa impedir suas reiteradas mentiras digitais contra seus adversários. A deslealdade neste ringue das eleições municipais permite que criminosos sem qualquer medição de aplicação de escrúpulos possa tripudiar à vontade: i) do(s) concorrente(s); ii) do Poder Judiciário; iii) da sociedade; e iv) da lógica mínima de civilidade e ética de uma dada comunidade. Em síntese: fomos convidados sem querer para dentro da bolha de Pablo Marçal; para assistir a seu fétido espetáculo, sua maldita performance.
Ocorre que esta bolha é uma criatura. Seu criador, em uma bolha maior, é o bolsonarismo. Com um detalhe ainda mais assustador: a criatura está querendo ser maior que o criador. Vejamos.
Jair Messias Bolsonaro apoia para a reeleição à Prefeitura de São Paulo, Ricardo Nunes. É o mesmo Nunes que tem a máquina administrativa e os bilhões do orçamento da maior cidade do cone sul para “comprar” uma eleição. Este tal Nunes também tem o apoio do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (outro de um escrúpulo ultra neoliberal). Nunes também tem na bagagem a maioria dos partidos políticos que guardam poderosa cifra do Fundo Partidário e do horário eleitoral nas mídias. Mesmo assim, com este arsenal, Nunes afunda nas pesquisas eleitorais, dando espaço para o sentido contrário, a saber, o crescimento de Marçal na corrida de 2024.
Portanto, a bolha de Bolsonaro permitiu a criação de uma bolha interna que inibe que os sujeitos tornados gados (gadificados) pelo “mito” o escutem e votem no Nunes. Ao contrário: o bolsonarismo migra dia após dia para Marçal. E Bolsonaro e seus/suas “fascistetes”, ou vão ter de migrar para Marçal – a fim de não perder todo o domínio cognitivo dessa gente – ou de fato a criatura engolirá o criador.
Em síntese: Pablo Marçal é o sumo (o caldo estragado) dessa nova sociedade dos meios digitais sem regramento e das mentiras cruéis autorizadas e não silenciadas. E é também o extrato de nossa omissão: dos democratas de um país tonto e sem leme – quanto à sua lógica de civilização – em cujo imperativo é apagar incêndios que inibam a destruição total de nosso conceito de sociedade e nada mais robusto e perene que isso.
Destarte, pagamos um preço muito alto por nossos erros (do campo democrático – nos excessos de um republicanismo gratuito). Daí ficar a pergunta: quantos “Marçais” e quantos “Bolsonaros” ainda dominarão, e por quanto tempo, o debate de anti/civilização neste País?
O fato é que a bolha de Pablo Marçal – que é ainda o pior dos lugares de existência – já está aos poucos conquistando o território da bolha de Jair Bolsonaro. Resta saber se encontraremos mecanismos (e forças) para furar de uma vez por todas essa redoma – a fim de não incorrer no risco de que todos sejamos sequestrados de uma vez por todas para dentro dessa tragédia civilizatória. Há que se instituir um limite agora!
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