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    Ricardo Nêggo Tom

    Músico, graduando em jornalismo, locutor, roteirista, produtor e apresentador dos programas "Um Tom de resistência", "30 Minutos" e "22 Horas", na TV 247, e colunista do Brasil 247

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    A cadeirada do Datena mostra que estamos indo de Marçal a pior

    Tirem as cadeiras da sala, porque violência verbal gera violência física

    José Luiz Datena agride Pablo Marçal com cadeira durante debate da TV Cultura com candidatos a prefeito de São Paulo (Foto: Reprodução)

    O lamentável episódio ocorrido no último domingo durante o debate entre os candidatos à prefeitura de São Paulo revela o quanto o comportamento da nossa sociedade vem sendo influenciado por aventureiros e delinquentes, que se lançam na política sem nenhuma proposta e com a certeza de que podem contribuir para a completa destruição do nosso tecido social. A cadeirada dada por José Luiz Datena em Pablo Marçal é apenas um recorte da violência, entre os diversos outros que o extremismo de direita vem produzindo mundialmente e de forma sistemática, seja de forma ativa ou passiva.

    Datena, apesar de ter sido provocado de maneira covarde por Marçal, é um dos precursores dos programas policialescos de sobrenome "urgente" na televisão brasileira, que oferecem a violência urbana como entretenimento. São atrações que suscitam pânico social nos telespectadores, fazendo escorrer sangue na tela e clamando por um punitivismo extremo e ineficiente. Um lixo jornalístico que banaliza a vida e naturaliza a morte. Datena não é um santo e sabe usar a violência a favor de seus interesses.

    Por outro lado, Pablo Marçal tem todos os predicados de um delinquente que poderia protagonizar uma edição inteira do "Brasil Urgente". Condenado por integrar uma quadrilha de assalto a banco, investigado por tentativa de homicídio coletivo, coach que cobra R$ 5 mil por palestras, pastor estelionatário que prometeu fazer uma mulher cadeirante andar em nome de Jesus, charlatão que invade velórios para tentar ressuscitar mortos, empresário de negócios incertos, acusado de ter ligações com o PCC e dono de uma fortuna de origem questionável. Haja cadeira para satisfazer a sanha punitivista contra um elemento tão desqualificado, desonesto e desordeiro.

    A violência verbal que a extrema-direita costuma utilizar contra seus adversários políticos foi "melhorada" por Marçal, que a emprega de forma direta, mas com expressões faciais leves e bem-humoradas, o que pode sugerir aos ouvintes uma "pilha" sobre os adversários. Mas não é. E pode ser mais violento que uma cadeirada. Marçal sabe como desestabilizar emocionalmente as pessoas, o que é uma característica dos psicopatas. Psicopatia é um transtorno mental comum, caracterizado por traços de egocentrismo, falta de empatia e remorso, além de comportamento antissocial e dificuldade de inibir ações prejudiciais às pessoas. Estamos falando de Pablo Marçal.

    O coach picareta manifesta um comportamento caracterizado pelo padrão invasivo de desrespeito e violação dos direitos dos outros, que se inicia na infância ou adolescência e continua na vida adulta. Isso explica o fato de ele ter integrado uma quadrilha que aplicava golpes virtuais em correntistas bancários aos 18 anos. É possível que, ainda mais jovem, Marçal tenha se envolvido em outros ilícitos. Sua vida adulta prova que ele nunca teve limites e nunca soube respeitar os dos outros. Sua delinquência é inata. Talvez tenha passado despercebida a expressão usada por Marçal ao acusar Datena de assédio sexual. "Jack" é uma gíria de cadeia para estuprador, o que prova a familiaridade do coach com a linguagem da criminalidade.

    Faço aqui um questionamento e provoco uma reflexão. Por que Pablo Marçal ainda não teve sua candidatura impugnada? A quem interessa sua participação nos debates, uma vez que seu partido não tem tempo de TV nem representante eleito na Câmara Federal? Estariam os donos da mídia hegemônica interessados na audiência que a baixaria de Marçal pode oferecer? Outro fato curioso é que, apesar de sua incalculável fortuna, ele não evitou que o PRTB fosse despejado da sede em São Paulo por falta de pagamento de R$ 163 mil em aluguéis. Uma quantia que o milionário coach picareta poderia facilmente pagar com um pix.

    Voltando à cadeirada, seria gratificante ver a justiça eleitoral impugnando as candidaturas de ambos. Entre Datena e Marçal, eu torço pela cadeira. No entanto, é importante destacar que a violência verbal pode gerar violência física. Datena, embora controverso, é um ser humano sujeito a reações. E Marçal entrou na disputa para agir desonestamente, provocar e vencer pelo desequilíbrio emocional. A situação é semelhante à do deputado Glauber Braga, do PSOL-RJ, que enfrenta processo de cassação por reagir a uma provocação de um membro do MBL, plantado na política para atacar adversários de esquerda.

    Pablo Marçal nos mostra que Jair Bolsonaro ainda não era o fundo do poço. Sempre pode piorar mais quando a democracia é confundida com permissividade e impunidade. O mais preocupante é que muitos jovens periféricos estão sendo seduzidos pelo discurso de prosperidade que o coach dissemina. Do jeito que está, é bom proteger nossas cadeiras, porque estamos indo de Marçal a pior. Que morte horrível da sociedade brasileira.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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