A contra-insurgência está "em curso" – contra a 'tempestade' de Trump
O ataque com ATACM da semana passada foi apenas uma parte de uma contra-insurgência interagências – um ataque político direcionado a Trump
Originalmente publicado por Strategic-Culture em 22 de novembro de 2024
Mais do que apenas uma provocação perigosa dirigida à Rússia, os ataques com ATACM e Storm Shadow representam uma tentativa de inverter completamente a política externa.
“O Deep State sussurrou para Trump: ‘Você não pode resistir à tempestade’. Trump sussurrou de volta: ‘Eu sou a tempestade’”. A guerra está em curso. O Deep State lançou uma guerra de disrupção para neutralizar a ‘tempestade’ de Trump. O ataque com ATACM da semana passada foi apenas uma parte de uma contra-insurgência interagências – um ataque político direcionado a Trump; o mesmo ocorre com todas as falsas narrativas interagências atribuídas ao campo de Trump; e também com as provocações crescentes dirigidas ao Irã.
Esteja certo de que os Five Eyes [os “Cinco Olhos” são: EUA, Canadá, Reino Unido, Austrália e Nova Zelândia] participam integralmente da contra-insurgência. Macron e Starmer conspiraram abertamente em Paris, antes do anúncio dos EUA, para promover o ataque com ATACMS. Os altos dirigentes interagências estão claramente muito temerosos. Devem estar preocupados que Trump possa expor a ‘Farsa da Rússia’ (de que Trump, em 2016, era um ‘agente’ russo) e de colocá-los em risco.
Mas Trump entende o que está acontecendo:“Precisamos de paz sem demora... O establishment da política externa continua tentando arrastar o mundo para o conflito. A maior ameaça à civilização ocidental hoje não é a Rússia. Provavelmente, mais do que qualquer outra coisa, somos nós mesmos... Deve haver um compromisso completo com o desmantelamento de todo o estabelecimento globalista neoconservador que está perpetuamente nos arrastando para guerras sem fim, fingindo lutar pela liberdade e democracia no exterior, enquanto nos transformam em um país do Terceiro Mundo e uma ditadura do Terceiro Mundo bem aqui em casa. O Departamento de Estado, a burocracia da Defesa, os serviços de inteligência e todos os outros precisam ser completamente reformulados e reconstituídos. Para demitir os Deep Staters e colocar os EUA em primeiro lugar – temos que colocar os EUA em primeiro lugar”.
Embora o lançamento de [mísseis de] longo alcance do ATACM em “território russo profundo, pré-2014” não seja um divisor de águas – isso não mudará o curso da guerra (os ATACMS são regularmente – em 90% – abatidos pelas defesas aéreas russas); a relevância desse ato, no entanto, não é estratégica; está no fato de cruzar para o domínio de ataques diretos da OTAN contra a Rússia.
O coronel Doug MacGregor relata que duas fontes estão lhe dizendo que “as forças de foguetes nucleares russas estão em alerta máximo. Estão no nível mais alto de prontidão já alcançado. Isso sugere que a Rússia levou esse cruzamento da linha muito a sério”.
Sim, foi uma provocação, e o presidente Putin responderá de forma adequada. Ele precisa [fazê-lo] – mas não necessariamente através de uma escalada nuclear. Por quê? Porque a guerra na Ucrânia está se movendo rapidamente na sua direção, com as forças russas se aproximando da margem leste do [rio] Dnieper. Efetivamente, os fatos no terreno determinarão o resultado, deixando pouco espaço para mediação externa.
Mas mais do que apenas uma provocação perigosa dirigida à Rússia, os ataques com ATACM e Storm Shadow representam uma tentativa de inverter – literalmente – a política externa [dos EUA]. Em vez de a política ser direcionada diretamente a um adversário estrangeiro em ascensão que ameaça a hegemonia dos EUA, ela está sendo transformada em uma arma carregada, voltada para a guerra doméstica nos EUA. Está direcionada especificamente contra Trump – para “amarrá-lo” e desviar a sua atenção para guerras que ele não quer.
A lógica sugere que Trump gostaria de manter distância dos esquemas de Netanyahu para uma guerra contra o Irã. Mas os ‘Israel Firsters’ e o Lobby (como argumenta o professor Jeffrey Sachs) há muito têm controle efetivo sobre o Congresso e o exército dos EUA – mais do que o próprio presidente. Explica Sachs:“Porque o Lobby Sionista é tão poderoso, Netanyahu basicamente tem controle sobre o Pentágono para lutar guerras em nome do extremismo israelense. A guerra no Iraque em 2003 foi uma Guerra de Netanyahu. A tentativa de derrubar Bashar al-Assad na Síria, a derrubada de Muamar Kadafi – todas foram ‘Guerras de Netanyahu’”.
O ponto importante é que Netanyahu pode “fazer o que faz” porque isso sempre foi planejado assim – um plano que está sendo executado há 50 anos. A estratégia “Israel Primeiro” foi plenamente adotada por Scoop Jackson (um candidato presidencial duas vezes). E para que esta política não pudesse ser revertida, Scoop insistiu que sionistas ocupassem cargos no Departamento de Estado, e que neocons e sionistas assumissem as rédeas no NSC [National Security Council / Conselho de Segurança Nacional dos EUA]. Esse mesmo padrão continua até hoje.
Na base disso está o maior escândalo, pelo qual a classe política de ambos os partidos dos EUA se torna rica e pode arcar com os custos de campanha para permanecer como legisladores: “É um acordo bastante engenhoso, onde o Lobby de Israel ou o Lobby Sionista coloca, digamos, cem milhões de dólares em campanhas e recebe trilhões – trilhões, não bilhões, trilhões – em gastos [governamentais]”. Assim, quando Netanyahu fala, é bizarro para mim, mas não é Trump quem está nomeando esses ‘Israel Firsters’ que fazem parte de sua equipe, mas é Netanyahu”, diz Sachs.
Quando Netanyahu descreve as nomeações de Trump de ‘Israel Primeiro’ como sua “equipe dos sonhos dos EUA”, a explicação não é difícil de ver. Por um lado, Trump tem uma ‘Revolução’ a conduzir nos EUA e quer que as suas nomeações para cargos sejam aprovadas. E, por outro lado, Netanyahu tem outra guerra que deseja que os EUA lutem por ele.
“The ‘Big Ugly’ sempre foi uma descrição da batalha que poucos entendiam”, observa outro comentarista:“O Senado é, de fato, o núcleo da oposição republicana ao MAGA e ao presidente Trump. A batalha visível... consome a maior parte da atenção. No entanto, é a batalha menos visível contra os republicanos ideologicamente entrincheirados que se prova a mais difícil.”“Os republicanos na câmara alta não cederão o poder facilmente. Eles têm uma infinidade de armas para usar contra a insurgência (de Trump)... Estamos vendo isso se desenrolar agora no alinhamento de senadores republicanos que se opõem à nomeação de Matt Gaetz como Procurador-Geral por Trump, como este recente relatório explica.”“O esquema básico é que a liderança do Senado apoiará relutantemente Matt Gaetz para o Juiz-Chefe da Suprema Corte, onde ‘apoio’ significa que eles não se oporão diretamente; em troca da nomeação do Diretor do FBI Mike Rogers [um cofundador do grupo ‘Never Trump’] para defender os interesses interagências no FBI.”
O futuro líder republicano no Senado, John Thune, jogará as suas cartas com cuidado para extrair o máximo de dano. Ele tem influência ao tentar conectar Trump à carnificina de Netanyahu na região.
Thune, ao anunciar grandes quantidades de armas para Israel, disse:“Aos nossos aliados em Israel, e ao povo judeu ao redor do mundo, minha mensagem para vocês é esta: os reforços estão a caminho. Em seis semanas, os republicanos recuperarão a maioria no Senado, e deixaremos claro que o Congresso dos Estados Unidos está firmemente ao lado de Israel.”
Trump também precisará jogar as suas cartas com cuidado. Pois, para os seus propósitos, as prioridades absolutas são as suas duas guerras domésticas: Primeiro, “desmantelar todo o Estabelecimento Globalista Neoconservador”; e, em segundo lugar, acabar com os gastos descontrolados do governo que incharam o esquema do Deep State e transformaram a economia real dos EUA em uma sombra do que já foi.
Trump precisa que essas nomeações de reforma radical sejam aprovadas, mesmo que tenha que sacrificar uma ou duas para garantir a aprovação do Senado para as demais. As nomeações “Israel Primeiro”, não é preciso dizer, serão aprovadas sem dificuldades.
Das duas ameaças de “envolvimento” à agenda de reforma de Trump, a escalada russa é a menor das duas. A guerra na Ucrânia está avançando constantemente em direção a algum tipo de dénouement [desatar os nós]. Um que funciona para a Rússia. Putin está no controle e não precisa de uma grande guerra com a OTAN. Tampouco Putin precisa da “arte da negociação” de Trump. Algum tipo de resolução ocorrerá sem ele.
No entanto, o papel de Trump será importante posteriormente para definir uma nova fronteira entre os interesses de segurança dos atlanticistas e os do centro da Ásia (incluindo China e Irã).
A outra guerra potencial – o Irã – é a mais perigosa para Trump. A influência política judaica e o Lobby já levaram os EUA a várias guerras desastrosas antes. E agora, Netanyahu precisa desesperadamente de uma guerra, e ele não está sozinho. Grande parte de Israel está clamando por uma guerra que acabe com “todas as frentes” que enfrenta. Há uma convicção profunda nessa perspectiva como a solução e a “Grande Vitória” que Netanyahu e Israel precisam tão desesperadamente.
O terreno já foi preparado, tanto pela propaganda de que o programa nuclear do Irã é “incrivelmente vulnerável” (o que não é verdade), quanto pela investida da mídia que repete o argumento de que atacar o Irã agora representa uma oportunidade única na vida, com o Hizbullah e o Hamas já enfraquecidos. A guerra contra o Irã – totalmente equivocada – está sendo vendida como uma “guerra fácil”.
Há uma certeza inabalável de que deve ser assim. “Somos fortes, e o Irã é fraco.”
Quem irá conter os “Israel Firsters”? Eles têm o momento e o fervor. Uma guerra contra o Irã será desastrosa para Israel e para os EUA. As amplas ramificações provavelmente precipitarão justamente a grave crise financeira e de mercado que poderia descarrilar a ‘Tempestade’ de Trump.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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