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Alastair Crooke

Ex-diplomata britânico, fundador e diretor do Conflicts Forum.

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A estratégia de “narrativa de guerra imaginativa” de Netanyahu: “Se funcionar, ótimo. Se não, tentaremos outra coisa”

É claro que uma narrativa de vitória era valiosa demais para ser abandonada. No entanto, eventos inexplicáveis são importantes.

Benjamin Netanyahu (Foto: Ohad Zwigenberg/Pool via Reuters)

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Originalmente publicado por Strategic-Culture em 4 de novembro de 2024

No sábado, uma força israelense composta por cerca de 100 aeronaves atacou o Irã a partir de uma posição de apoio no Iraque, a cerca de 70 quilômetros da fronteira iraniana.

Um autor do Wall Street Journal, Walter Russell Meade, distinto pesquisador do Hudson Institute, escreveu: “Os aviões de guerra israelenses não apenas incapacitaram os sistemas de defesa aérea do Irã e infligiram golpes dolorosos em suas instalações de produção de mísseis. Eles também enviaram uma mensagem de que Israel sabe onde estão as vulnerabilidades estratégicas de Teerã e que pode destruí-las a qualquer momento”.

Russell Meade deduz desse relato seu ponto principal: “Forças militares que têm acesso à tecnologia militar dos EUA e às capacidades de coleta de inteligência podem humilhar exércitos que dependem de Moscou... A tecnologia estadunidense é o padrão-ouro no mundo da defesa – ainda mais para um país como Israel, que possui capacidades significativas de inteligência e tecnologia”.

A ‘guerra de realidade imaginada e criada’ ocidental, assim, se estende além da Ucrânia – para chegar ao Irã.

A narrativa – a tecnologia dos EUA e a sua inteligência como ‘invencíveis’ – deve ser mantida. Que se danem os fatos. Há muito em jogo para abandonar essa narrativa em nome da verdade.

No entanto, um observador mais sóbrio e experiente, após quatro dias de exame, observa de forma sucinta que:

“Os ataques da IAF [Força Aérea Israelense] parecem ter produzido resultados mínimos; parece, no entanto, que operativos secretos dentro do Irã conseguiram fazer vários ataques [inconsequentes] com drones. Os israelenses lançaram muitos mísseis [cerca de 56] – todos de uma distância máxima de afastamento. O Irã disparou MUITOS mísseis de defesa aérea. Não há relatos firmes, nem evidências em vídeo (até agora) de grandes ataques de mísseis balísticos em qualquer alvo iraniano significativo. Os iranianos dizem que interceptaram a maioria dos mísseis atacantes, mas admitem que alguns conseguiram passar”.

Como de costume, a ‘narrativa de guerra imaginária’ que está sendo transmitida está completamente desconectada daquilo que pode ser observado em imagens do solo. Russell Meade estava efetivamente exigindo o fingimento de que ‘não notássemos’ que o ataque de Israel falhou – que não incapacitou as defesas aéreas, nem devastou qualquer alvo significativo.

No entanto, como escreve o professor Brian Klaas, “o mundo não funciona como fingimos [ou imaginamos] que funciona. Muitas vezes, somos levados a acreditar que é um sistema estruturado, ordenado, definido por regras e padrões claros. Este é o meme no cerne da narrativa da Ordem das Regras. A economia, aparentemente, funciona com base em curvas de oferta e demanda. A política é uma ciência. Até mesmo as crenças humanas podem ser mapeadas, traçadas, grafadas – e, usando a regressão correta e dados suficientes, entender até mesmo os elementos mais enigmáticos da condição humana”. É uma versão simplificada e de contos de fadas da realidade.

Embora alguns estudiosos no século XIX acreditassem que existiam leis que governavam o comportamento humano, a ciência social foi rapidamente desiludida da noção de que uma ‘física’ social direta seria possível, de acordo com leis físicas rígidas.

A abordagem mais comum hoje, refletindo um retorno à modelagem baseada em dados na ‘ciência’ política na esfera ocidental, é usar dados empíricos do passado para extrair padrões ordenados que apontem para relações estáveis entre causas e efeitos.

Tipicamente, a filosofia do materialismo dialético é vista em algumas capitais como o ápice de uma abordagem científica objetiva para a política e sociologia humana – seus praticantes estimados como ‘cientistas’. Ao suavizar uma complexidade quase infinita, sínteses lineares fazem nosso mundo não-linear parecer seguir a progressão reconfortante de uma única linha ordenada. Isso é um truque de ilusionismo. E, para completá-lo com sucesso, os ‘cientistas’ precisam eliminar tudo o que é inesperado ou inexplicável.

A objetividade reivindicada por essa metodologia, no entanto, reside essencialmente em um atributo cultural derivado da compreensão linear e teleológica encontrada nas tradições judaico-cristãs.

É essa crença em uma compreensão ‘científica’ e linear da história cíclica que confere o forte senso de propósito à análise política. O professor Dingxin Zhao observa como, em contraste com outras estruturas metafísicas, isso permite que os crentes criem um zeitgeist mais comprometido, compelindo os indivíduos dentro dessa comunidade a agir em alinhamento com o resultado teleológico antecipado.

Não é difícil ver essa premissa teleológica como o alicerce da obsessão atual em criar narrativas de ‘vitória’ imaginária. O professor Dingxin Zhao adverte que aqueles que fazem previsões lineares sobre a maré dos eventos humanos, de acordo com a ‘ciência’ materialista mecanicista, podem facilmente se convencer de que eles sozinhos possuem as crenças corretas e estão alinhados com o caminho certo de análise. E que os ‘outros’ estão simplesmente do “lado errado” (como em estados que ‘erroneamente’ passaram a depender da tecnologia militar russa, em vez do ‘padrão-ouro’ dos EUA).

Dentro deste paradigma dominante e arrogante da ciência social, nosso mundo é tratado como um que pode ser entendido, controlado e dobrado à nossa vontade. Não pode.

Em seu best-seller Chaos: Making a New Science [Caos: Construindo uma Nova Ciência] (1987), James Gleick “observa que a ciência do século XX será lembrada por três coisas: relatividade, mecânica quântica (MQ) e caos. Essas teorias são distintas porque mudam a nossa compreensão da física clássica em direção a um mundo mais complexo, misterioso e imprevisível”, escreve Erik van Aken.

A teoria do caos surgiu na década de 1960, e nas décadas seguintes, físicos-matemáticos reconheceram os seus insights para a nossa compreensão dos sistemas dinâmicos do mundo real.

Essas mudanças-chave, no entanto, tiveram pouco impacto no paradigma ocidental de pensamento, que ainda é visto pela maioria dos ocidentais como uma máquina onde cada ação, como a queda de um dominó, inevitavelmente desencadeia um efeito previsível.

“No entanto, se estamos em um mundo de imprevisibilidade – no qual quase tudo influencia tudo o mais, a palavra ‘causa’ começa a perder o seu significado. Não importa quão aparentemente não-relacionados ou remotos, cada evento converge, contribuindo para uma teia ou matriz complexa de causalidade”.Bertrand Russell, em seu On the Notion of Cause [Sobre a Noção de Causa] (1912-13), afirmou duas conclusões significativas: Primeiro, que nossa noção convencional de causalidade não está fundamentada na física; e segundo, que, se noções como ‘causa’ devem ser reduzidas à física, devemos eliminar de vez o uso simplista da palavra ‘causa’.

Então, como podemos entender as mudanças sociais quando mudanças consequentes muitas vezes surgem do caos? Enquanto procuramos por ordem e padrões, talvez gastemos menos tempo focados em uma verdade óbvia, mas consequente:

Eventos inesperados e inexplicáveis são importantes. Em outras palavras, eles têm uma qualidade e um significado.

Um desses eventos aparentemente aconteceu no último sábado, quando parece que o ataque israelense ao Irã sofreu uma ‘falha significativa’ inesperada bem cedo na operação SEAD (Supressão das Defesas Aéreas Inimigas) para suprimir e destruir as defesas aéreas do Irã. Aparentemente, a primeira onda de ataque foi planejada como o primeiro passo – uma vez que o espaço aéreo iraniano estivesse garantido – para abrir caminho para o pacote de ataque com F-35 armados com bombas convencionais.

O evento inesperado – “a mídia israelense relatou que um ‘sistema de defesa aérea desconhecido’ foi usado para derrubar alvos sobre a província de Teerã”. Supostamente, a operação israelense foi cancelada logo depois, e a narrativa de vitória – mais tarde adotada pelo WSJ [Wall Street Journal] (entre muitos outros) – foi proclamada em voz alta.

É claro que uma narrativa de vitória era valiosa demais para ser abandonada. No entanto, eventos inexplicáveis são importantes.

Se as aeronaves israelenses (ou dos EUA) não conseguem penetrar no espaço aéreo iraniano garantido – total ou parcialmente (e nenhuma aeronave israelense entrou no espaço aéreo iraniano no sábado) – todo o paradigma para um ataque militar cinético dos EUA ou de Israel colapsa: o Irã tem um arsenal de mísseis convencionais profundamente enterrados e esmagadoramente numeroso para responder.

Da mesma forma, o ‘Grande Triunfo’ de Netanyahu também implode – como escreve o principal comentarista de inteligência israelense Ronen Bergman:

“Um alto funcionário da segurança israelense colocou desta forma: ‘Sucesso através do fracasso’. Israel foi à guerra em Gaza para alcançar dois objetivos, a libertação dos reféns e o desmantelamento das capacidades do Hamas (sem mencionar a sua destruição em vitória absoluta e divina). Depois de não conseguir atingir nenhum desses objetivos, outro objetivo foi adicionado na frente norte – trazer os moradores de volta com segurança para suas casas. E não está claro como conseguiremos alcançar esse objetivo também. Alguns acreditam que a frente sul pode ser fechada por meio de uma vitória na frente norte – e agora, temos certeza de que – se apenas desferirmos um golpe vitorioso no Irã – isso levará ao fechamento da frente norte; e isso fechará a frente sul também”.

O Irã diz que pretende desferir um golpe doloroso em Israel pelo ataque de sábado passado. E Israel diz que tentará atacar o Irã novamente.

Como Israel continua dessa maneira? Bem, diz o alto funcionário da segurança: “Talvez a resposta seja ‘porque tudo é normalizado. O que nos parece impossível – que não há como acontecer – de repente acontece... E todos se acostumam com isso, [e acostumados] à falta de estratégia. A falta de estratégia se transforma de um defeito em uma característica... Então, sem problemas, tentaremos outra coisa’”.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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