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    Moisés Mendes

    Moisés Mendes é jornalista, autor de “Todos querem ser Mujica” (Editora Diadorim). Foi editor especial e colunista de Zero hora, de Porto Alegre.

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    A guerra com os militares hoje é de Alexandre de Moraes, não é de Lula

    Presidente decidiu se recolher em relação ao 31 de março, porque o protagonismo nesse momento é do sistema de Justiça, escreve o colunista Moisés Mendes

    Luiz Inácio Lula da Silva (à esq.) e Alexandre de Moraes (Foto: ABR)

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    Lula afastou-se de iniciativas que pudessem aproximá-lo de ações, falas e eventos relacionados ao 31 de março. Afastou-se e pediu que membros do governo também se afastem.

    Tanto que recomendou ao ministro de Direitos Humanos, Silvio Almeida, que cancele um ato em memória das vítimas da ditadura, no Museu da República.

    Prolonga-se e aprofunda-se a controvérsia sobre sinais de omissão do governo às vésperas do aniversário do golpe, quando tudo o que não podemos fazer é esquecer o que os militares fizeram e abandonar a memória dos perseguidos.

    Dizer apenas que Lula está certo ou errado é uma simplificação que não ajuda. Mas tentemos compreendê-lo. Não é preciso muito esforço para entender a postura do presidente.

    Lula está dizendo que o protagonismo hoje, diante da exposição da trama golpista armada pelos generais de Bolsonaro, é do sistema de Justiça. Não é a hora do governo.

    Polícia Federal, Ministério Público e Judiciário estão levando adiante o maior cerco aos militares desde a redemocratização, talvez o cerco definitivo para que finalmente façam apenas o que devem fazer, ou seja, quase nada. Que não tenham serventia, mas que não se dediquem a articular golpes.

    O protagonismo é do Judiciário, é de Alexandre de Moraes, que faz pelas tentativas de condenação e reparação o que a sociedade civil não consegue fazer, como sua parte, em ativismo cidadão. Há muito tempo não consegue.

    Lula sabe que é a hora da Justiça, não é a hora da política. Mesmo que digam que decidiu passar pano para os militares e que a busca por justiça não deve ser confundida com a luta pela preservação da memória.

    Para quem faz cálculos primários de somar e subtrair sobre ganhos e perdas: pode-se dizer que Lula não ganharia nada hoje partindo para o enfrentamento dos militares de um jeito que nunca aconteceu antes.

    Não teria quase nada a ganhar com atos e falas que confrontem os generais com o fracasso do golpe, com a ditadura e com a memória dos que resistiram e foram perseguidos durante 20 anos.

    É a hora de oferecer suporte a Alexandre de Moraes, para que leve em frente o que vem sendo feito. É também o momento de saber o que a sociedade organizada pode fazer por Lula.

    A sociedade, os parlamentares com mandato, os políticos em função executiva, os estudantes, os militares legalistas, as entidades que se dedicam às causas da democracia e das liberdades, todos devem fazer o que for possível pela memória das vítimas da ditadura.

    Devem falar por Lula. Porque essa não é a hora de Lula ir para a guerra. É a hora de oferecer a Lula o que ele já pediu: que o ativismo do PT e das esquerdas se reorganize e volte a conversar com as pessoas onde elas vivem, para que ele possa governar.

    Não cobrem de Lula o que a sociedade não ofereceu a ele até agora. É constrangedor perceber que Bolsonaro, fora do poder, consegue fidelizar muito mais sua base social do que Lula, mesmo que Lula esteja no governo.

    E isso acontece por falha de Lula, que vem oferecendo resultados concretos até surpreendentes para a própria esquerda, em todas as áreas? Será mesmo culpa de Lula?

    Quem gosta de procurar culpados, que os procure fora do Palácio do Planalto e pare de encampar a conversa-clichê da direita de que há erros de comunicação.

    Tirem a bunda pesada da cadeira e ajudem Lula a enfrentar o fascismo. Ofereçam mais ativismo e menos palpites que só endossam o que a direita produz para sabotar Lula, o governo e Alexandre de Moraes.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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