A imperdoável descortesia do governo com Alckmin
"Causa espécie a posição desconfortável conferida a Alckmin durante esse episódio da hospitalização do presidente Lula", escreve Hildegard Angel
É inaceitável, e merece chamada à altura, esse modo descortês de agir do Governo do Brasil, para não usar outra palavra, ignorando a função constitucional do Vice-Presidente da República como automático substituto do titular do cargo, em casos de seu impedimento, e de usá-lo como mero chefe de cerimonial, fazendo as honras da casa a um visitante estrangeiro, o 1º Ministro da Eslováquia, porém mantido afastado do dia a dia da gestão presidencial, enquanto Lula se encontra no isolamento de uma UTI, recuperando-se de cirurgia preocupante e prestes a se submeter a outro procedimento cirúrgico.
Afinal, quem dá as cartas na República Federativa do Brasil? Quem foi eleito na chapa presidencial? Por que estão sendo atropeladas as instituições? Essa maneira escandalosa de se aferroar ao Poder denota fragilidade, inspira insegurança, ausência de controle, tudo de que necessitam os golpistas de ocasião para também ignorar que o Vice-Presidente eleito existe, e nos impingirem, por exemplo, o Presidente da Câmara, segundo da fila, em plena saia justa do Parlamento com o STF.
Será que essa corte de Lula, que manda e desmanda, já se deu conta disso ou vamos ter que soletrar os artigos da Constituição para ela?
Geraldo Alckmin, ao longo desses dois anos de governo, tem-se revelado um Vice-Presidente dos sonhos para Lula, cortês, cerimonioso, elegante. Um vice exemplar, a exemplo do que foi Marco Maciel para Fernando Henrique Cardoso e, mais ainda, do que foi, por dois mandatos seguidos de Lula da Silva, seu então vice, José Alencar Gomes da Silva.
É bastante significativo que, nos dois primeiros mandatos de Lula, em outro cenário presidencial, jamais tenha havido qualquer dúvida ou constrangimento nas substituições do cargo. Ao fim do segundo mandato, José Alencar havia ocupado por mais de um ano, 398 dias, o cargo máximo do Executivo. Foi de tal forma diligente que, mesmo internado com doença grave, um câncer, não se declarou impedido para a função nem os médicos o fizeram, e ele despachava regularmente no quarto do hospital. Dessa forma, o Vice-Presidente, que não estava em UTI, cumpriu rigorosamente o seu dever, sem provocar marolas ou dar motivos para especulações, caso fosse acionada a cadeia sucessória prevista para casos de vacância dos dois cargos – Presidente e Vice. Ao contrário, José Alencar, além de manter a articulação política dos governos de Lula, também sancionou importantes leis.
Caso o tempo de restabelecimento de Luiz Inácio Lula da Silva no Sírio e Libanês se estenda, como faz supor esse próximo procedimento cirúrgico, será ridículo, até mesmo intragável, se continuarem a botar o calço na entrada do gabinete presidencial, impedindo, grosseiramente, o Vice Presidente de exercer sua função, a República de cumprir seu rito e o Presidente da República de seguir com tranquilidade, sem aborrecimentos, nem sustos ou desgostos nesse período, em que tudo de que ele precisa é estar sossegado.
Aos artífices dessa comédia dos erros, digna, não de Shakespeare, mas de um debochado Mollière, fica aqui um conselho da sabedoria popular: “Cada macaco no seu galho”.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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