A morte de uma nação: bandeiras negras, massacres e roubo de terras, enquanto os abutres devoram a carcaça da Síria
Caos geopolítico e massacres devastam a Síria, enquanto potências e milícias rivais disputam territórios, deixando um rastro de destruição e sofrimento humano
O modus operandi padrão do Hegêmona é sempre Dividir para Dominar. Encurralado pela inexorável ascensão da realidade multinodal (itálicos meus), eles perceberam a oportunidade de reinicializar o Império, apostando tudo na criação do “Grande Oriente Médio” delineado ainda na era Cheney.
O eixo de ferro dos neocons straussianos, dos sio-cons e dos psicopatas do Velho Testamento de Tel Aviv é dominado por uma obsessão tipo vale-tudo em destruir o Eixo da Resistência, usando sua rede internacional de matadores sanguinários para espalhar caos e guerra civil sectária por todo o Oeste Asiático. Nesse cenário ideal, eles sonham em ferir mortalmente a cabeça da serpente: o Irã.
O Sultão Erdogan, desempenhando o papel de otário útil, proclamou:
Um “período luminoso” para a Síria acaba de começar.
De fato. Um período luminoso para os Cortadores de Cabeça da Bandeira Negra e para os bombardeadores e invasores de terras de Tel Aviv – se empanturrando com a carcaça da Síria.
Os matadores psicopatológicos do Velho Testamento, com mais de 350 ataques, destruíram totalmente a infraestrutura militar do antigo Exército Árabe Sírio (SAA), fábricas de armamentos, munição, bases, jatos de caça, inclusive a base aérea de Mezze, em Damasco, sistemas antinavio russos, os próprios navios (em Lattakia, próximo à base naval russa) e posições de defesa aérea.
Resumindo: trata-se da desmilitarização da antiga Síria pelo combo OTAN/Israel – sem nem ao menos um pio vindo do mundo árabe e das terras do Islã, a começar pelos matadores da Bandeira Negra que tomaram Damasco.
Some-se a isso as já clássicas invasões/roubo, e a declaração oficial de Tel Aviv sobre a anexação definitiva de Golan – que legalmente pertence à Síria, e cuja restituição foi exigida pela ONU depois da guerra de 1967.
A blitzkrieg dos psicopatas do Velho Testamento - Paralelamente, a aviação turca bombardeou a antiga base russo-síria em Qamishli, no extremo nordeste. O pretexto: evitar que os curdos apoiados pelos Estados Unidos e outras tribos árabes se apoderassem das armas. Para os russos isso talvez não tenha tido muita importância – uma vez que houve tempo suficiente para evacuar ativos de grande valor do Leste do Eufrates.
A Rússia deu asilo ao tremendo e incorruptível Suheil al-Hassan – um sério candidato a principal especialista em tática e estratégia militar do mundo de hoje. Os russos apostaram nele já em 2015 – e garantiram sua segurança pessoal. Ninguém na Síria tinha guarda-costas russos – nem ao menos Assad. Ele foi o único comandante que de fato ganhou batalhas durante os dez dias da Queda da Síria.
Em meio a uma torrente de pessimismo catastrófico, o que vem ocorrendo, com a rapidez de um raio, é a OTAN/Israel devorando a carcaça de uma nação morta e dividindo-a com um bando barulhento de idiotas e fantoches – indo de salafi-jihadis falsamente esclarecidos a curdos americanizados. Obviamente, o QI coletivo menor que a temperatura ambiente impede essa turma de perceber que estão lutando pelo mesmo suserano.
Os capangas de Tel Aviv avançaram sua blitzkrieg através das áreas periféricas de Damasco e talvez já estejam a quinze quilômetros ao sul da capital, uma clássica jogada de lebensraum, parte de seu projeto colonial, visando a obter influência máxima no flanco libanês.
Essa situação é absolutamente crucial e extremamente preocupante para o Eixo da Resistência: agora, a totalidade do Sul do Líbano está exposta a um ataque maciço da ocupação israelense – uma vez que as planícies férteis entre Chtoura no vale de Beqaa e Aanjar não apenas abrigam valiosos recursos naturais, mas também oferecem uma rota direta para Beirute.
Os escorpiões se voltam uns contra os outros - Paralelamente, os Bandeiras Negras tomaram Damasco. Está havendo massacres de todos os tipos – incluindo o de líderes religiosos e cientistas, mas principalmente de antigos oficiais do exército, ex-integrantes da contraespionagem síria e até mesmo civis acusados de terem sido militares.
Sua Eminência, o Xeique Tawfiq al-Bouti, filho do famoso xeique Muhammad Said Ramadan al-Bouti, que foi o imã da venerável mesquita de Umayyad, foi assassinado em sua madrassa em Damasco.
Como seria previsível, os escorpiões estão se voltando uns contra os outros, gangues terroristas rivais do Hayat Tahrir al-Sham (HTS) exigem que os capangas de Jolani libertem seus comparsas presos no Grande Idlibistão, e agora ameaçam atacar o HTS.
Em Manbij, terroristas apoiados pelos turcos matam abertamente curdo-americanos em hospitais. O norte e o nordeste da Síria estão atolados na mais total anarquia.
As tribos que se recusam a aceitar os curdo-americanos e seu projeto de estado comunista e secular, e também se recusam a se juntar à rede terrorista salafi-jihadi apoiada pelos turcos, agora são taxados de “ISIS”, sendo devidamente bombardeados por jatos dos Estados Unidos. Alguns talvez ainda sejam do ISIS: eles eram, antes de 2017, e ainda existem remanescentes do ISIS vagando na clandestinidade pelo deserto.
O Exército russo posicionou seus navios a oito quilômetros da base naval de Tartus. Isso não oferece total segurança porque ainda podem ser alcançados por drones e artilharia, bem como por pequenos barcos.
Para a aviação em Hmeimim é ainda mais complicado. Moscou já mandou uma mensagem clara: se a base for tocada, a retaliação será devastadora. O HTS, de sua parte, vem focando principalmente a ocupação de Lattakia.
O futuro das bases russas permanece um mistério: o desfecho dependerá de uma negociação direta e espinhosa entre Putin e Erdogan.
Jolani, o novo Califa de fato de al-Sham, não se tornará o Líder nessa fase inicial porque a maioria dos sírios morre de medo dele, apesar de sua cuidadosamente encenada conversão à correção política no estilo “estrada de Damasco”.
Ele nomeará a si mesmo “chefe militar”. Um fantoche designado – Mohammed al-Bashir – conduzirá a “transição” até março de 2025. É praticamente certo que al-Bashir será abominado por quase todas as facções. Isso irá preparar o caminho para que o cortador de cabeças arrependido Jolani dê um golpe de estado e assuma poder ilimitado.
Foi na Síria, em Antióquia, uma das mais poderosas cidades do Império Romano, que os discípulos de Jesus foram denominados “cristãos”, do grego christianos. Antióquia hoje é a pequena cidade de Antakya, parte da Turquia. O Sultão Erdogan também sonha com Alepo como parte da Turquia.
O grego era a língua desse pedaço do Império Romano: o latim era usado apenas pelos ocupadores – militares e administrativos.
A Igreja presidida pelo patriarca de Antióquia se desenvolveu por toda a Síria, chegando até o Eufrates.
Será que o Ocidente Coletivo se levantará em defesa dos cristãos sírios remanescentes quando os Bandeiras Negras vierem para expurgá-los – o que certamente acontecerá? Claro que não. O Ocidente Coletivo continua exultando com o fim do “ditador”, enquanto os Bandeiras Negras e os abutres do Velho Testamento dançam em seu Baile do Vampiro sobre o cadáver de uma nação.
Tradução de Patricia Zimbres
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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