TV 247 logo
    Marcelo Uchôa avatar

    Marcelo Uchôa

    Advogado e professor de Direito

    119 artigos

    HOME > blog

    Ainda estou aqui

    "Ao fim e ao cabo, o filme é uma oportuna advertência de que, sem justiça, traidores da democracia seguirão ameaçando o país", diz Marcelo Uchôa

    Filme Ainda Estou Aqui (Foto: Divulgação)

    ✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no Telegram do 247 e no canal do 247 no WhatsApp.

    Ainda Estou Aqui, filme de Walter Salles adaptado de livro de Marcelo Rubens Paiva, vem conquistando festivais Brasil afora e lotando salas de cinema em todo o país. A genialidade de Salles, a sublime atuação de Fernanda Torres e o olhar profundo de Fernanda Montenegro são destaques da produção, mas o que definitivamente prende a atenção do público é o enredo: a prisão ilegal e o desaparecimento forçado do ex-deputado Rubens Paiva durante a ditadura de 1964 e a luta incansável e corajosa de sua esposa, Eunice Paiva, pela busca de respostas sobre o paradeiro do marido em pleno regime de exceção.

    Eunice, que também foi presa ilegalmente por 15 dias, criou sozinha cinco filhos e tornou-se referência na advocacia indígena. Sua determinação em saber a verdade sobre o destino de Rubens Paiva é comovente. Só em 2006, após os trabalhos da Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos, passados 25 anos da prisão do esposo, ela pôde suspirar: “é uma sensação esquisita sentir-se aliviada com uma certidão de óbito!” O mínimo considerando que as víboras que torturaram, mataram e atiraram o corpo do marido no mar jamais foram responsabilizadas.

    A história, apesar de emblemática, não é tão conhecida pelos brasileiros. Ela soma a um sem número de outras histórias igualmente ofuscadas pela impunidade e pelo tempo. A exibição de Ainda Estou Aqui dá-se no momento em que um homem-bomba ameaça a democracia, tentando, a exemplo do 8 de janeiro de 2023, atacar os Poderes da República e um plano de setores das forças armadas para matar o presidente é descoberto. Perturbador!

    O filme ensina às gerações pós-Constituição que, durante duas décadas, o Brasil viveu sob a escuridão da censura, das perseguições infundadas, dos crimes de Estado. Ensina, também, sobre a necessidade imperiosa de preservar a memória para evitar retrocessos, como uma infame anistia para os golpistas de 2023 ou uma abjeta conivência com a impunidade dos cabeças da conspiração. Ao fim e ao cabo, o filme é uma oportuna advertência de que, sem justiça, traidores da democracia seguirão ameaçando o país. 

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

    iBest: 247 é o melhor canal de política do Brasil no voto popular

    Assine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista:

    Relacionados