Alckmin, desenvolvimentista, critica austeridade e defende industrialização
"Alckmin propõe que seja retirado do cálculo da inflação produtos básicos alimentícios, bem como combustíveis", diz César Fonseca
O vice Geraldo Alckmin, no cargo de presidente enquanto Lula está em visita ao Japão e ao Vietnã, nesta semana, dá tacada política progressista desenvolvimentista que contrasta com a última decisão do BC que levou a taxa de juros Selic a 14,25%, fator que barra investimento, dificulta combate à inflação e atrasa industrialização.
Põe-se como crítico da austeridade fiscal e monetária e da ministra do Planejamento, Simone Tebet, que insinuou possibilidade de que seja feito ajuste neoliberal, como defende a Faria Lima, logo depois da eleição presidencial de 2026, antes da posse do candidato vencedor, que, teoricamente, poderia ser o presidente Lula, se disputar reeleição.
Alckmin propõe que seja retirado do cálculo da inflação produtos básicos alimentícios, bem como combustíveis.
Essa proposta diminui juros na medida em que menos inflação freia o ímpeto do mercado financeiro por mais ajuste fiscal antidesenvolvimentista.
Favorece, portanto, mais investimentos, mais produção, mais renda, mais consumo, mais arrecadação e, novamente, mais inversão de capital produtivo na economia.
Inverte-se o discurso de restrição fiscal, para favorecer o neoliberalismo, para dar lugar ao desenvolvimentismo.
A proposta de Alckmin, que toca, como ministro da Indústria e do Comércio, a industrialização, favorece a queda dos juros, enquanto guarda relação com estratégia adotada pelos países capitalistas desenvolvidos diante de pressão inflacionária.
COMMODITY INTERNACIONAL
É comum, nos Estados Unidos, por exemplo, o governo excluir do cálculo inflacionário alta do preço de energia, ditado pelo mercado internacional.
Também é comum proceder nesse sentido em relação aos preços dos alimentos que sofrem choques de ofertas sazonais e são comandados, atualmente, por oligopólios em escala global, como insumos agrícolas etc.
Há ainda casos extemporâneos de preços especulativos, como acontece com os ovos por conta da peste aviária nos Estados Unidos, com reflexo no Canadá, como destaca, nesse momento, a imprensa canadense.
Por que o critério não poderia, igualmente, ser utilizado no Brasil, quando ocorre choque de oferta de inúmeros produtos?
INFLAÇÃO DE OFERTA OU DE DEMANDA?
Alckmin coloca no debate econômico, enquanto presidente em exercício, o questionamento geral em voga do Banco Central de generalizar o argumento de que a causa da inflação decorre do excesso de demanda.
Sabidamente, a economia brasileira sofre da insuficiência crônica de consumo decorrente dos baixos salários.
Os empresários, repetidamente, diante do subconsumismo característico do capitalismo tupiniquim, provocam escassez de oferta para puxar os preços, de modo a manter constante e em elevação sua taxa de lucro.
Alckmin, portanto, confronta, com seu argumento, tanto o Banco Central como a Faria Lima, de que a inflação brasileira decorre da insuficiência de demanda.
Ao contrário, o que falta são investimentos para elevar a oferta global para aumentar a concorrência que derruba preços, segundo a lei da oferta e da demanda.
CAUSA PRINCIPAL DA INFLAÇÃO
Nesse sentido, Alckmin coloca no cenário econômico o debate sobre a verdadeira causa da inflação, oposta à do pensamento neoliberal, defendida conjuntamente pelo BC e Faria Lima, atraindo para si o interesse da indústria e do comércio.
A luta de classes na esfera produtiva em confronto com a especulativa se acentua no contexto da agiotagem financeira.
Esse movimento, que Alckmin desencadeia, obriga a classe trabalhadora a se manifestar, posicionando-se, evidentemente, ao lado da produção contra a especulação.
Do mesmo modo, a posição do presidente em exercício ativa discussão no setor empresarial.
As confederações da indústria (CNI), comércio (CNC) e da agricultura (CNA), bem como micro, pequenos e médios empresários, representados pelo SEBRAE, estão ao lado de Alckmin, na luta contra os juros altos e pela industrialização.
No Congresso, da mesma forma, quando começa a esquentar a disputa eleitoral, o interesse popular, que garante voto na urna, vira foco de atenção quando o tema é inflação.
Fica de calça curta frente ao argumento desenvolvimentista de Alckmin a equipe econômica – BC, Fazenda e Planejamento –, voltada preferencialmente para o ajuste fiscal, a fim de emplacar déficit zero ou superávit primário, nos limites do teto de gasto neoliberal, cujos efeitos são necessariamente antidesenvolvimentistas, incompatíveis com o interesse popular em tempo eleitoral.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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