Alerta: nunca fui fã de Alexandre de Moraes
Por outro lado, também nunca vi Glenn Greenwald como nosso redentor
Não esqueço de onde ele surgiu. Não esqueço do plágio na tese de doutoramento. Não fecho os olhos para a fragilidade patente de sua cultura jurídica (e estou longe de ser um jurista). Não apago o fato de que, nomeado por um usurpador que não tinha legitimidade para ocupar o cargo, sua presença no STF é espúria.
Também não sou fã de seu estilo midiático, da arrogância e autocomplacência. Muito menos da tendência, tantas vezes percebida, de ser duro com os bagrinhos e suave com os poderosos.
E, embora não deixe de reconhecer o papel importantíssimo dele na contenção do golpismo bolsonarista, tenho um pé atrás com o voluntarismo personalista que marca suas decisões. A democracia não pode depender do arbítrio de um Alexandre; precisa de regras coletivamente discutidas e claramente enunciadas.
Por outro lado, também nunca vi Glenn Greenwald como nosso redentor.
É um repórter competente e o trabalho na Vaza Jato foi muito importante. Mas a maneira como ele usou o episódio, a estratégia de divulgar a conta-gotas para aumentar a tensão, a maneira de alimentar a esperança em uma bala de prata contra a extrema-direita que certamente não viria, seu estilo “aguerrido” para se tornar protagonista do conflito em vez de relator dos fatos – tudo isso me faz considerar que Glenn, personagem, prejudicou o resultado do trabalho de Glenn, jornalista.
Sua inconformidade com o Partido Democrata nos Estados Unidos é compreensível, mas não justifica sua aproximação com a direita trumpista.
Dito isto: e as revelações “bombásticas” publicadas na Folha de S. Paulo?
Depois de analisar o material com alguma atenção e de ler o que estão dizendo juristas de diferentes posições, uma conclusão se impôs: é uma tentativa grotesca de equiparar a repressão ao golpismo à trama contra Lula, que não se sustenta em nenhuma evidência.
Não há, no caso, sobreposição entre acusação e juiz, como no conluio entre Dallagnol e Moro. Não há escuta ilegal; pelo contrário, no contexto das investigações sobre fake news, o material incluído nos processos era de acesso público. Não há cerceamento de direito de defesa.
Moraes exercia – legal e ostensivamente – dois papéis: presidente do TSE e ministro do STF, encarregado de investigações. É possível discutir se essa concentração de poder é boa, mas ela é prevista na lei.
Ele por vezes, no calor da hora, esqueceu de formalidades no trânsito de um papel a outro? Tudo indica que sim. Pressionava seus assessores de forma escrota? Infelizmente, essa é a regra, nos círculos do poder de Brasília.
O resumo da ópera é simples. A Operação Lava Jato foi uma conspiração contra a democracia. O caso envolvendo Moraes é, para usar a já infame expressão cunhada pela Folha, um “fluxo fora do rito”.
Não existe termo de comparação.
É possível especular os motivos dessa investida. Alguns falam em vontade de reabilitar Bolsonaro, outros em retaliação do Congresso depois que Flávio Dino decidiu apertar o cerco contra o sequestro do orçamento.
Seja como for, marca a vontade da imprensa burguesa, sobretudo paulistana, de manter o governo Lula na defensiva.
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