Áudio de Nardes é chave para apurar elo de ruralistas com Braga Netto
'"Nardes sugeriu ter ciência de planos criminosos, incluindo o assassinato de Lula, Alckmin e Moraes, por tiros ou envenenamento", diz Jeferson Miola
O áudio de 20 de novembro de 2022 transmitido pelo ministro do TCU João Augusto Nardes para o “pessoal do agronegócio” é uma chave indispensável para se elucidar o papel dos ruralistas no financiamento do empreendimento golpista; e, também, para esclarecer o envolvimento direto dele, ministro Nardes, na conspiração [escutar o áudio].
No inquérito que indiciou a organização criminosa integrada por Bolsonaro e altos oficiais do Exército, a Polícia Federal descreveu em detalhes a cronologia dos preparativos da tentativa de golpe.
Esta cronologia tem importância capital, e deixa claro que quando transmitiu o áudio, Nardes demonstrava algum conhecimento sobre as articulações e iniciativas ocorridas antes daquele 20 de novembro de 2022, quando enviou o relato para seu “amigo Sartori” e o “time do agro”.
Nardes deixou implícito que tinha algum nível de informação sobre as ações criminosas planejadas; a mais grave delas o assassinato a tiros ou por envenenamento do presidente eleito Lula, do vice eleito Alckmin, e do ministro da Suprema Corte Alexandre de Moraes.
No áudio Nardes previu que viriam a acontecer eventos impactantes em “questão de horas, dias, no máximo uma semana ou duas”. Enigmático em várias passagens do áudio de 8 minutos e 20 segundos, ele conjecturou que “a situação para o futuro da nação poderá se desencadear de forma positiva, apesar desse principal conflito que deveremos ter nos próximos dias ou nas próximas horas”.
Citando “um movimento muito forte nas casernas”, profetizou “que vai acontecer um desenlace bastante forte na nação. [De consequências] imprevisíveis. Imprevisíveis”, dramatizou.
Nardes concluiu a mensagem em áudio prevendo que “os próximos dias serão nebulosos, o que vai acontecer de desdobramentos não se sabe, mas certamente teremos desdobramentos muito fortes nos próximos dias”.
“Falei longamente com o time do Bolsonaro essa semana”, disse Nardes. “Eu não posso falar muito até porque, sim, tenho muitas informações, mas queria passar pra ti, Sartori, e para o teu time aí do agro que eu conheço todos os líderes e sei da importância do agro”, completou.
O inquérito da PF deixa evidente que na mesma semana que Nardes falou “longamente com o time de Bolsonaro”, militares reuniram-se na residência funcional do general Braga Netto para finalizar o planejamento do plano assassino denominado “punhal verde amarelo”.
O inquérito descreve que depois desta reunião acontecida no dia 12/11/2022, “iniciaram-se as ações clandestinas para implementação do planejamento operacional, além de condutas voltadas a orientar e financiar as manifestações que pregavam um Golpe Militar”.
Segundo o depoimento de Mauro Cid, “o general Braga Netto afirmou à época que o dinheiro havia sido obtido junto ao pessoal do agronegócio”, e que “o dinheiro foi entregue [por Braga Netto] numa sacola de vinho”.
Nardes tem laços pessoais, políticos, empresariais e familiares com o agronegócio. No áudio ele relembra que como líder da bancada ruralista na Câmara dos Deputados organizou quebra-quebra e protestos violentos em Brasília em 1999 – “queimamos máquinas, tratores, fizemos uma escarcéu”. E se vanbloriou: “Então, conheço todos os passos que temos que fazer”.
Nardes parecia confiar plenamente no sucesso do plano golpista que lhe daria impunidade, tanto que deu a entender que o golpe não fracassaria – salvo na hipótese, como se pode depreender da fala dele, de quebra da unidade entre os conspiradores militares: “Só que haja uma capitulação por parte de alguns integrantes importantes e dirigentes que tudo se sente que vai pra um conflito social na nação brasileira”.
Nardes é uma peça central para o avanço das investigações, para o indiciamento de outros envolvidos e para a identificação dos ruralistas que financiaram a tentativa de golpe.
Nardes também precisa esclarecer se ele sabia e foi cúmplice do plano de assassinato de Lula, Alckmin e Alexandre de Moraes ao anunciar o acontecimento que produziria “um desenlace bastante forte na nação”.
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