Polícia Federal rastreia financiamento do golpe com foco no agronegócio
Investigações apontam para envolvimento de Braga Netto e empresários do setor em planos clandestinos; PF segue o dinheiro
247 – A Polícia Federal (PF) intensificou as investigações sobre o financiamento de atos antidemocráticos após a prisão preventiva do general Walter Braga Netto, ex-ministro da Defesa e candidato a vice na chapa de Jair Bolsonaro em 2022. A notícia, publicada pelo jornal O Globo, aponta que Braga Netto é suspeito de liderar e financiar um plano que incluía sequestros e assassinatos de autoridades como o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O general nega qualquer participação nos atos ou tentativa de obstrução das investigações.
Segundo a delação de Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, Braga Netto teria recebido recursos em espécie de empresários do agronegócio para financiar as ações clandestinas. O dinheiro, transportado em uma sacola de vinho, foi entregue ao major Rafael de Oliveira, integrante das Forças Especiais do Exército, conhecido como “kids pretos”. Parte do montante foi utilizada na compra de celulares descartáveis, usados em operações para monitorar autoridades após a vitória de Lula nas eleições de 2022.
Operação "Punhal verde e amarelo"
A PF identificou que, no dia 15 de dezembro de 2022, um celular foi adquirido em Goiânia por R$ 2,5 mil, em dinheiro vivo, pela esposa do major Rafael de Oliveira. Além disso, recargas de crédito de R$ 20 foram realizadas em uma drogaria de Brasília para aparelhos vinculados à operação “Copa 2022”, que, segundo o relatório da PF, utilizava seis celulares descartáveis habilitados com nomes falsos e chips anônimos.
Esses dispositivos foram usados na tentativa de executar ações como o sequestro de Alexandre de Moraes. Documentos apreendidos pela PF indicam a logística envolvida, incluindo “demandas para a preparação e condução da ação”, como a compra de celulares e outros materiais necessários.
Envolvimento do agronegócio
O setor do agronegócio está no centro das investigações. A colaboração premiada de Mauro Cid revelou o papel de empresários do segmento, que teriam financiado atos antidemocráticos e bloqueios de rodovias após a derrota de Bolsonaro. Um áudio obtido pela PF mostra Cid afirmando que “empresários do agro” estavam “colocando carro de som em Brasília” e financiando ônibus para transportar manifestantes.
Outro documento da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), obtido pelo O Globo, detalha a atuação do Movimento Brasil Verde e Amarelo (MBVA) na mobilização de caminhoneiros e no financiamento de atos extremistas, incluindo a depredação das sedes dos Três Poderes em 8 de janeiro de 2023.
Material apreendido
Durante a prisão de Braga Netto, agentes da PF apreenderam celulares e “centenas de pen drives” pertencentes ao assessor do general, Flávio Botelho Peregrino. O conteúdo desses dispositivos está sendo analisado para identificar os financiadores do esquema e aprofundar a ligação com o agronegócio.
O general também é acusado de sediar reuniões para planejar ações ilícitas. Em depoimento recente, Mauro Cid afirmou que, em novembro de 2022, uma reunião na residência de Braga Netto contou com a presença de integrantes do núcleo militar das Forças Especiais. Dias após o encontro, o major Oliveira teria recebido o dinheiro da sacola de vinho, em local próximo ao Palácio do Planalto.
Em mensagens interceptadas pela PF, o major Oliveira questiona Cid sobre os custos da operação, estimados em cerca de R$ 100 mil, incluindo hospedagem, alimentação e transporte de manifestantes.
A Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), que reúne 340 parlamentares, pediu urgência nas investigações, mas ressaltou que “ações isoladas” não podem comprometer a imagem de um setor que movimenta mais de 6 milhões de produtores. Em nota, os ruralistas defenderam que a apuração ocorra de forma “legal, transparente e em estrita observância ao que determina a Constituição”.
As investigações seguem avançando, com foco em identificar e responsabilizar os financiadores e organizadores dos atos antidemocráticos que atentaram contra a democracia brasileira.
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