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César Fonseca

Repórter de política e economia, editor do site Independência Sul Americana

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Baile de máscaras sombrias

"O debate entre Joe Biden, democrata, e Donald Trump, republicano, expressou, simbolicamente, a decadência dos Estados Unidos"

Donald Trump (à esq.) e Joe Biden (Foto: Reprodução (CBS News))

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A decrepitude não é de Biden, mas do império americano, que tem a cara da mentira de Trump; ambos compõem um baile de máscaras sombrias, ao evidenciarem a falta de perspectiva e expectativas quanto às possibilidades de paz, visto que suas apostas são a guerra, base essencial do Estado Industrial Americano, como o denominou o ex-presidente Eisenhower.

O debate entre Joe Biden, democrata, e Donald Trump, republicano, expressou, simbolicamente, a decadência dos Estados Unidos, pois ambos os candidatos, pelo que fizeram no exercício da presidência da República do país mais poderoso da terra, não têm o que apresentar ao mundo nada de positivo e grandiosidade que o império americano proclama e sugere como construção de um mundo melhor, cooperativo, humano e solidário.

Nazismo à vista - Trump, boquirroto, extravagante, autoritário, foi um desastre como presidente, culminando sua administração com o rompimento da democracia, ao arregimentar republicanos, inconformados com a derrota para Biden, para invadir o Congresso.

A invasão do Capitólio foi um retrato do que a proclamada democracia americana tem feito mundo afora nos países capitalistas periféricos que ousam contrariar os Estados Unidos imperialistas. Não respeita os ideais democráticos nem em casa nem na casa dos outros. Sua linguagem é a força, acompanhada da mentira.

Trump é a cara do nazifascismo que saiu do armário em todo o mundo depois do crash capitalista de 2008 que revelou fracasso da economia de mercado proclamada por Washington para dar lugar ao financismo especulativo global oligopolizado cuja resultante não é mais desenvolvimento do capital na produção de bens e serviços, mas pura especulação acumulativa para sustentar guerras, à custa de emissão monetária inflacionária exportada para o resto do mundo que financia o dólar sem lastro real.

Como o capitalismo americano não produz mais esperança de mundo melhor para si, muito menos para os aliados, passou a produzir, via guerras, apenas, instabilidade, medo e desespero que levam populações à insegurança e à opção pela violência, ódio e mentiras, marcas registradas do nazifascismo.

Caricaturas trumpistas - Os aliados de Trump, na América Latina, por exemplo, dispensam apresentações: Bolsonaro e Miley; ambos, seguidores de Trump, cuidam de abrir picadas na defesa dos pressupostos trumpianos: destruir economias internas nacionalistas, para abrir espaço aos monopólios e oligopólios americanos, que espalham desigualdade social e tensões políticas explosivas.

O que acaba de acontecer na Bolívia evidencia o trumpismo que vem por aí, se Trump ganhar a eleição: golpes de estado, para sustentar assaltos às riquezas nacionais.

Na Argentina e na Bolívia, o alvo dos aliados capitalistas de Trump é o lítio, matéria prima para produção de baterias de carro elétrico, que o bilionário Elon Musk, trompista de carteirinha, pretende explorar, passando por cima de tudo, especialmente, da democracia latino-americana.

Trump já se disse interessado em invadir a Venezuela, riquíssima em petróleo, o que aconteceu, de forma indireta, no Brasil, durante a Era Bolsonaro, também trompista juramentado, com domínio neoliberal sobre a Petrobrás.

Depois que encerrou o contrato de 50 anos entre Estados Unidos e Arábia Saudita por meio do qual o dólar passou a ser ancorado pela “moeda” petróleo, o petrodólar, substituto do padrão ouro, do qual Estados Unidos se descolaram, nos anos 1970, a moeda americana está sem chão.

Por essa razão, quem possui reservas de petróleo na América do Sul, como Venezuela, Brasil, México, Guianas etc, vira alvo preferencial do império, como arma para garantir a sobrevivência do dólar, que tem no petróleo sua salvaguarda.

Desse modo, Trump, como eventual novo presidente, vai exercitar sobre a América Latina o poder neocolonial, por meio da Doutrina Monroe, de 1823, que considera Latinoamérica quintal americano.

Decrepitude imperialista - Se Trump é uma agressão moral ao mundo, em matéria de cinismo e falsidade, em decorrência dos escândalos sexuais que o condenaram na justiça americana, Biden, igualmente, não tem o que se justificar como exemplo dignificante, pois é o senhor da guerra, no comando de uma política macroeconômica guerreira cuja prioridade é a de sustentar o Estado Industrial Americano.

Em nome da defesa da democracia, move guerras nos cinco continentes, como seus recém antepassados, que romperam o estado democrático, para estabelecer o que é essencial para o Império: ampliação territorial e exploração econômica por meio da moeda imperialista que financia governos amigos e derruba governos adversários.

O resultado histórico da ação da democracia de guerra que os Estados Unidos proclamam com virtude é, hoje, concretamente, a derrota imperialista no campo econômico para a China e no campo militar para a Rússia, como demonstra a debacle imperialista na Ucrânia, em sua derrotada guerra por procuração fomentada pela OTAN contra os virtuais vencedores russos.

A expansão imperialista depois da guerra fria, nos anos 1990 em diante, mediante financeirização econômica global, exigiu guerras como instrumento de dominação internacional financiada pelo dólar sem lastro, salvo na garantia expressa pelo poder bélico imperial, cujas consequências são dívida pública impagável e sujeita à implosão depois do fim do petrodólar.

A dívida pública americana é o nervo vital da guerra, repetindo o que disse Colbert, mago das finanças de Luís 14, no tempo da França imperialista.

O mundo capitalista ocidental, dominado pelos Estados Unidos, mais do que Biden, que custa a parar em pé, sendo, permanentemente, socorrido em situações inusitadas, está, totalmente, decrépito, agora, sem moeda estável, depois do fim do petrodólar.

O Banco Central americano, emissor de dólares, ameaçados pelo fim do petrodólar, executa política monetária que mantém o capitalismo mundial em instabilidade total: não pode mais baixar os juros, porque precisa continuar explorando monetariamente os aliados, atraindo para os Estados Unidos a poupança internacional, que, por sua vez, vira risco sem o lastro petróleo.

Dessa forma, o que se viu no primeiro debate entre os dois candidatos do império à eleição presidencial americana foi a falta de direção imperialista como proposta sustentável para um mundo unipolar que não se sustenta.

Afinal, mais do que as palavras dos seus líderes decrépitos, física e moralmente, restam somente incertezas que alimentam, como sobre o que farão no Oriente Médio, onde ambos, Biden e Trump, apostam na destruição palestina, cujas consequências são certezas de terceira guerra mundial.

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