Batismo de fogo do ministro Sidônio Palmeira
O novo ministro da Secom sabe, como bom publicitário, que para conter uma mentira cristalizada, o melhor remédio é retirar rapidamente o bode da sala
As duas notícias mais comentadas nos últimos dias no cenário nacional, dizem respeito ao ambiente fértil para a proliferação de fake news nas chamadas redes sociais. A primeira dessas notícias foi o encontro reservado entre Trump e o CEO da Meta, Mark Zuckerberg. A segunda, foram os disparos de centenas de fake news para desacreditar uma medida da Receita Federal que visava a ampliação da transparência nas operações realizadas via Pix e cartão de crédito.
Depois de uma sequência de postagens de parlamentares e influenciadores digitais bolsonaristas, que chegaram a utilizar até mesmo deep fake - vídeos falsos de fala de Haddad, criados por inteligência artificial, a Receita Federal foi obrigada a revogar a norma que atualizava as regras sobre fornecimento de informações por instituições financeiras ao Fisco.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, chamou de “inescrupulosos” os responsáveis por espalhar a notícia falsa de que o Pix seria taxado. Haddad ironizou o senador Flávio Bolsonaro, ao lembrar que aqueles que se valeram das “rachadinhas” não têm motivos para reclamar da Receita Federal.
A decisão do governo em revogar a Instrução Normativa RFB 2247 foi comemorada pela extrema-direita. Conseguiram seu objetivo de impor uma derrota ao governo, mesmo que para isso tenha ludibriado e prejudicado boa parte da população menos favorecida que se utiliza do Pix nos seus pequenos negócios.
O enfrentamento dessa crise foi uma espécie de batismo de fogo para o novo ministro da Secom, Sidônio Palmeira. Ele sabe, como bom publicitário, que para conter uma mentira cristalizada, o melhor remédio é retirar rapidamente o bode da sala. O remédio amargo causou uma certa náusea, mas como diria meu amigo, Ricardo Kotscho, “vida que segue”.
Daqui para frente é bom que o governo esteja preparado para evitar novos tropeços na comunicação. A campanha da extrema-direita, que está azeitada e bem coordenada, vem impondo revezes duros ao ministro Haddad e ao presidente Lula. Não à toa, todos ligados justamente à área econômica, onde o governo vai muitíssimo bem. A ideia aqui é desconstruir, subverter aos olhos da população, um dos maiores legados do governo Lula 3, que partindo do cenário de terra arrasada pós-Bolsonaro, no campo econômico e social, efetivamente melhorou a qualidade de vida dos brasileiros e a economia como um todo. Diz-se que contra fatos não há argumentos, mas nesses tempos distópicos, há enxurrada de fake news.
Outra questão que preocupa é a maneira como essas fake news prosperam nas redes. A tese de que no ambiente virtual a mentira é propensa a maior engajamento, a meu ver, não explica, por si só, tamanha repercussão. É no mínimo intrigante que apenas uma das postagens de Nikolas Ferreira contra as medidas da Receita Federal tenha obtido cerca de duzentas milhões de visualizações. Certamente não foi por obra do talento de comunicação do deputado. Em termos comparativos, a melhor audiência do "Jornal Nacional" no ano passado foi de 66 milhões de brasileiros.
Pelo histórico das últimas eleições com a presença de Bolsonaro, é nítida a propagação em massa de fake news. Em 2018, por exemplo, a rede de desinformação contra os adversários de Bolsonaro cresceu nas redes sociais e migrou para o aplicativo de mensagens WhatsApp, utilizado por mais de 120 milhões de brasileiros. É praticamente impossível alcançar tanta gente simplesmente em função dos algoritmos, sem impulsionamento pago ou ampliado.
E aí retorno à sexta-feira dia 10 de janeiro, quando Mark Zuckerberg se reuniu reservadamente com Donald Trump, na casa do presidente eleito dos EUA em Mar-a-Lago, na Flórida. A conversa é guardada até hoje em sigilo total. Mas uma decisão do CEO da Meta, no dia seguinte ao encontro, deu uma pista do que deve ter sido o tema central da conversa dos dois.
Zuckerberg comunicou o fim do programa de verificação de fatos no Instagram e no Facebook nos Estados Unidos. A medida afrouxou as restrições impostas às discussões polêmicas em suas plataformas, como questões da identidade de gênero, imigração e discurso de ódio. No Brasil, em resposta à Advocacia-Geral da União, a Meta informou que as mudanças na política de checagem da empresa valem apenas para os EUA, e que se tiverem bons resultados, poderão, no futuro, ser utilizadas em outros países.
Como a campanha de 2026 já está nas ruas, ou melhor, nas redes sociais, é bom que os democratas se preparem para enfrentar o vale-tudo que, na balança das big-techs, pende sempre para a extrema-direita, tanto aqui, quanto no resto do mundo.
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