"Bombardeiem com tudo o que vocês têm": Israel define o tom para o genocídio dos palestinos
"Não estou interessado em alvos", disse Netanyahu. "Derrubem casas"
Publicado originalmente por Globetrotter e No Cold War Perspectives em 24 de março de 2025
Em 5 de março de 2025, o tenente-general Herzi Halevi deixou o cargo de chefe do Estado-Maior das Forças Armadas de Israel. Ele ocupou esse posto desde 16 de janeiro de 2023 e, portanto, liderou o exército durante a sua guerra contra os palestinos. Várias homenagens a Halevi apareceram após a sua saída deste importante cargo. Em um desses longos artigos, no extremamente influente Yedioth Ahronoth, um dos jornalistas mais conhecidos de Israel – Nahum Barnea – traçou o perfil de Halevi. Neste perfil, Barnea descreveu a reunião do gabinete quarenta e oito horas após o ataque do Hamas aos postos de fronteira israelenses. Halevi apresentou as operações militares que haviam ocorrido durante esses dois dias. Ele disse que a Força Aérea havia atacado 1.500 alvos neste curto período. Halevi não é um pombo [pacifista]. Este foi um ataque feroz a uma área majoritariamente civil.
O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, "entrou em fúria", escreveu Barnea. Ele começou a gritar e bater na mesa, ao redor da qual estavam sentados os seus ministros. "Por que não 5.000?", Netanyahu repreendeu Halevi. "Não temos 5.000 alvos aprovados", respondeu o militar. "Não estou interessado em alvos", disse Netanyahu. "Derrubem casas. Bombardeiem com tudo o que vocês têm."
A declaração de Netanyahu em 9 de outubro de 2023 definiu o tom de toda a guerra. Mas Netanyahu não estava sozinho nessa atitude. Aqueles israelenses que se consideram mais liberais do que ele, e menos ferozes, são igualmente comprometidos com o banho de sangue.
Em junho de 2024, os membros da União Nacional (Benny Gantz e Gadi Eisenkot) renunciaram ao gabinete de Netanyahu. Eles argumentaram que Netanyahu não conseguia se concentrar na guerra porque trazia "considerações externas e políticas" para as discussões. Eisenkot, um ex-chefe do Estado-Maior do exército que disse apoiar uma solução de dois Estados, no entanto, pressionou por ações militares mais implacáveis contra os palestinos em Gaza.
Foi amplamente divulgado quando os membros do gabinete do partido de extrema-direita Otzma Yehudit, de Itamar Ben-Gvir, renunciaram em janeiro de 2025 por causa do cessar-fogo. Eles não queriam nenhuma interrupção na guerra.
Portanto, nem a mais liberal União Nacional nem a extrema-direita Otzma Yehudit queriam que os bombardeios cessassem.
Preparativos para Romper o Cessar-Fogo
Um acordo de cessar-fogo havia sido preparado em 31 de maio de 2024, mas os israelenses se recusaram a assiná-lo. Eles, no entanto, aceitaram o cessar-fogo em 15 de janeiro de 2025. Ele entrou em vigor quatro dias depois. Durante o cessar-fogo, as facções palestinas e Israel trocaram prisioneiros políticos de acordo com o cronograma estabelecido durante as negociações. O Ramadã começou em 28 de fevereiro. A primeira fase do cessar-fogo deveria expirar em 1º de março, mas Israel exigiu que esta fosse estendida para que todos os prisioneiros israelenses pudessem ser libertados; o Hamas, por sua vez, argumentou que queria passar para a segunda fase do cessar-fogo, o que permitiria maior ajuda humanitária na Faixa de Gaza. Em 2 de março, Israel parou a entrada de ajuda humanitária e, em 9 de março, cortou a eletricidade em Gaza. A vida dentro de Gaza tornou-se ainda mais intolerável porque a esperança do cessar-fogo agora havia sido esmagada. Os palestinos esperaram que os israelenses agissem.
A ação israelense era realmente sobre os prisioneiros políticos que o Hamas ainda não havia libertado? Em 14 de março, o Hamas concordou em libertar Edan Alexander (um cidadão israelense-americano) e os corpos de cidadãos binacionais. Israel e os Estados Unidos se recusaram a aceitar esta oferta. Outras questões parecem estar em jogo, não a troca de prisioneiros.
Em 16 de março, Gadi Eisenkot e outros membros do Comitê de Relações Exteriores e Defesa do Knesset (Parlamento israelense) enviaram uma carta a Netanyahu e seu ministro da Defesa, Israel Katz. Eles argumentaram que o cessar-fogo permitiu que o Hamas e a Jihad Islâmica se reagrupassem. O Hamas, disseram eles, agora tem 25.000 combatentes armados, enquanto a Jihad Islâmica tem 5.000 combatentes. E, disseram eles, que esses grupos haviam usado o cessar-fogo para planejar outro ataque no estilo de 7 de outubro. Esses legisladores argumentaram que a política de guerra de Netanyahu e o cessar-fogo mostram uma "falha em alcançar os objetivos da guerra" e "danos... aos interesses de segurança nacional".
Em 17 de março, o gabinete israelense realizou uma reunião de emergência para discutir alegações de inteligência de que o Hamas estava planejando outro ataque. No dia seguinte, Katz foi ao Fórum Otef Israel – composto por residentes israelenses que vivem ao longo da fronteira de Gaza – e disse-lhes que "há preparativos constantes sendo feitos pelo Hamas para uma invasão" que é "semelhante a 7 de outubro". "Devemos atacá-los e terminar completamente o trabalho", disse Katz no fórum. Estava claro que toda a classe política israelense – do gabinete de Netanyahu à oposição – havia começado a gerar medo sobre outro ataque do Hamas.
O Hamas respondeu imediatamente que as alegações de um ataque "são infundadas e meramente um pretexto frágil para justificar o seu retorno à guerra". O Hamas disse que "cumpriu o acordo" e que era Netanyahu – "buscando uma saída para as suas crises internas" – quem queria "reacender a guerra".
O bombardeio israelense começou em 18 de março com o massacre de 400 civis palestinos (incluindo 174 crianças).
Em 22 de março, os israelenses destruíram o Hospital da Amizade Turca, localizado na rua al-Hurriya, na região central de Gaza. Era o único hospital de câncer real em Gaza e havia fornecido tratamento para 13.000 pacientes com câncer que ainda permanecem na área. Quando Israel ocupou a região com seus soldados, transformou o hospital em um quartel militar. Quando se retirou em 19 de janeiro de 2025, o pessoal médico tentou apressadamente recuperar o hospital para os pacientes com câncer. Agora está destruído.
Opções Israelenses
O major-general Tamir Heyman chefia o Instituto de Estudos de Segurança Nacional, um importante think tank em Israel. Em uma importante coluna, amplamente divulgada, Heyman argumenta que os israelenses têm dois objetivos: resgatar os prisioneiros e destruir o Hamas. Para isso, ele propõe três cenários:
Primeiro, soldados israelenses entram em Gaza e a mantêm sob domínio militar, procurando e destruindo o Hamas, e encontrando os prisioneiros. Segundo, Israel impõe um cerco ainda mais severo a Gaza e enfraquece o Hamas (mas pode não recuperar os seus prisioneiros). Terceiro, um "modelo Hezbollah", onde Israel reconhece que o Hamas "não pode ser varrido da face da terra", mas o vínculo entre o Hamas e o povo palestino pode ser corroído pela criação de uma força política alternativa em Gaza.
Todas as três opções compartilham um elemento: dor para os palestinos. Em todo o espectro político israelense, à exceção de uma pequena seção de dissidentes, esta é a orientação geral.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
❗ Se você tem algum posicionamento a acrescentar nesta matéria ou alguma correção a fazer, entre em contato com redacao@brasil247.com.br.
✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no Telegram do 247 e no canal do 247 no WhatsApp.
iBest: 247 é o melhor canal de política do Brasil no voto popular
Assine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista: