Trump, o Brasil e a rede fascista Internacional
'Para evitar o retrocesso temos que julgar, condenar e prender os responsáveis pelo projeto golpista do governo Bolsonaro', escreve Florestan Fernandes Jr.
“Temos que dar um chute na bunda dos socialistas”, essa foi uma das frases ditas pelo presidente da Argentina Javier Milei na cúpula internacional da ultradireita em Buenos Aires na quarta-feira (04/12). O encontro que passou praticamente despercebido pela mídia mundial, é um sinal de alerta para as frágeis democracias da América Latina que vão ter, a partir do ano que vem, que encarar a volta de Donald Trump à presidência dos EUA. A pequena cúpula da extrema-direita na Argentina reuniu presencialmente e virtualmente figuras como: a vice-presidente do Comitê Nacional Republicano, Lara Trump, do líder do Vox, Santiago Abascal, Steve Bannon estrategista-chefe da Casa Branca no governo Trump, o deputado federal Eduardo Bolsonaro e seu pai, o ex-presidente Jair Bolsonaro.
A reunião serviu mais para Javier Milei se consolidar como liderança da extrema-direita na América do Sul e se colocar como o porta-voz de Trump na região.
É bom ter em mente que a ultradireita mundial tem dinheiro, organização e sede de poder. Certamente existe um plano de escalada fascista nos países hoje governados por líderes de esquerda como: Lula, Yamandú Orsi, Gustavo Petro, Gabriel Boric e Nicolás Maduro.
Tenho visto alguns nomes da esquerda avaliando que a troca de Biden por Trump pouco vai mudar nas relações entre Brasil e EUA. Que Trump e Lula são pragmáticos e que estarão mais preocupados em preservar os interesses econômicos de seus países do que enfrentamentos ideológicos. Não creio que será tão simples assim. É aconselhável nesse momento que as esquerdas não minimizem a pressão que os EUA farão sobre os governos progressistas da América Latina a partir do ano que vem. Uma das preocupações dessa guinada fascista nos Estados Unidos é a possibilidade de os militares brasileiros e de outros países da AL se aventurarem novamente em possíveis movimentos de quebra do Estado Democrático de Direito.
Em entrevista ao Boa Noite 247, um dos mais importantes estudiosos sobre militares, o professor Chico Teixeira, fez uma avaliação preocupante. Para ele o momento que vivemos no Brasil é pior do que 2018 quando os generais lançaram e fizeram a campanha para Bolsonaro, é pior que a conspiração que levou ao impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff em 2016 e é pior ainda que o próprio golpe militar de 1964.
Essa parece ser uma hipótese distante, principalmente no Brasil que tem hoje oficiais do exército presos por envolvimento na tentativa de golpe de estado em 2022. Mas quem garante que desta vez eles foram mesmo derrotados? Quantas tentativas de rupturas da democracia os militares promoveram em nossa história republicana? Várias. Desta vez houve um desgaste na imagem das nossas Forças Armadas, mas nada que afete a ideia de que eles são o poder moderador.
A recente tentativa fracassada de golpe na Coreia do Sul, que pegou o mundo de surpresa, é um bom exemplo. Talvez o golpe executado pelo presidente Yoon Suk Yeol, com apoio do exército de seu país tivesse dado certo se Trump já estivesse no poder.
O professor Chico Teixeira lembra que existe nos Estados Unidos uma burocracia ligada a lobbys econômicos que mantém um clima de guerra fria nas forças armadas americanas que se estende para as forças militares de países aliados. Isso mantém a fantasia da eterna ameaça comunista.
O próprio surgimento dos Kids Pretos, as brigadas especiais em 1983 no Brasil tiveram o objetivo de impedir que a Nova República interferisse na estrutura interna das nossas Forças Armadas e possibilitasse o avanço do “comunismo” em nosso país.
Infelizmente o tempo joga contra o país. Para evitar o retrocesso temos que julgar, condenar e prender os responsáveis pelo projeto golpista do governo Bolsonaro.
E fazer as mudanças necessárias no currículo das escolas e da academia militar. Não podemos perder essa oportunidade como fizemos na época da Nova República.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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