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      José Reinaldo Carvalho

      Jornalista, editor internacional do Brasil 247 e da página Resistência: http://www.resistencia.cc

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      China e Rússia, “amigos para sempre”, são os pilares do mundo multipolar

      É ilusório impedir a ascensão da China, sabotar a boa relação desta com a Rússia e a emergência do Sul Global

      Xi Jinping e Vladimir Putin passam tropas em revista na chegada do líder russo a Pequim (Foto: Xinhua )

      Por José Reinaldo Carvalho - A realidade multipolar do mundo já se impôs, ainda que alguns se recusem a admitir. A ascensão da Rússia e da China como pilares centrais desse novo cenário é evidente, e ignorar essa dinâmica representa uma fuga ao debate principal: o declínio do imperialismo estadunidense. Não admira que thik tanks e ONGs, financiadas por bilionários dos EUA, irriguem as tesourarias e os bolsos de escribas a seu serviço em países do Sul Global. Os negacionistas da multipolaridade de hoje são os mesmos que, quando jovens, recém-formados em mestres e doutores e adventícios em instâncias diretivas de organizações políticas de esquerda, chamavam de catastrofistas quem nos anos 1990 já advertia para o declínio norte-americano. Hoje, instalados em burocracias governamentais, sindicais e partidárias, tocam a vida entoando o mesmo cantochão.

      Os que insistem em negar a multipolaridade argumentam que ela só existiria com a consolidação de uma “nova ordem” ou a ascensão de um novo hegemon (sic). Trata-se de uma tergiversação, pois reconhecer a multipolaridade não significa necessariamente afirmar que uma nova hegemonia já se consolidou, mas compreender que o mundo está diante de uma reconfiguração geopolítica irreversível. 

      Grupos e blocos políticos, alianças bilaterais ou globais, iniciativas audaciosas de investimentos e comércio internacional, que são forças motrizes da multipolaridade, são os embriões das instituições multilaterais que darão forma a essa nova configuração de forças. É notável como se fortalecem velozmente. Entre estes estão a Organização para a Cooperação de Xangai (OCX), o BRICS, assim como as parcerias protagonizadas pela China, que se destacam como instrumentos fundamentais para o desenvolvimento de uma nova governança global, baseada na cooperação e no respeito à soberania dos povos. Estas organizações representam um novo paradigma de relações internacionais, no qual a diplomacia, o multilateralismo genuíno e o desenvolvimento econômico são priorizados em detrimento da coerção militar, da imposição de modelos políticos e das guerras comerciais. 

      A recente visita do ministro das Relações Exteriores da China, Wang Yi, a Moscou, onde se encontrou com seu homólogo Sergey Lavrov e o presidente Putin, reforça o vínculo estratégico entre os dois países. Em entrevista à agência estatal russa RIA Novosti, Wang Yi destacou que Rússia e China são “amigos para sempre, jamais inimigos”. Esta declaração não é meramente retórica, mas a reafirmação de um compromisso. Este relacionamento se manifesta não apenas na esfera política, mas também no campo econômico, com uma crescente interdependência comercial e energética e já estava patenteado desde a assinatura da parceria estratégica "sem limites" entre os dois gigantes, em 4 de fevereiro de 2022. Os dois países estreitaram sua colaboração em diversas áreas, incluindo política externa e segurança. 

      A amizade sólida entre China e Rússia permite-lhes enfrentar a crescente pressão das potências imperialistas ocidentais, mormente os EUA, que buscam conter sua ascensão.  

      A ampliação do BRICS e o fortalecimento das demais iniciativas acima referidas  testemunham que o mundo se reorienta para uma configuração de forças na qual a supremacia estadunidense não é mais incontestável. O mundo da liderança absoluta estadunidense e do exercício da sua hegemonia exclusiva é uma página virada na história.

      A China, diferentemente do que prega a propaganda ocidental, não busca tornar-se uma nova potência hegemônica. O conceito de hegemonia, tal como praticado pelos Estados Unidos, é incompatível com a visão chinesa de governança global, baseada no princípio do benefício mútuo. Por meio das iniciativas de desenvolvimento, segurança e civilização globais, o governo chinês tem reiterado que sua estratégia de desenvolvimento visa à cooperação e não a imposição de um modelo único ao resto do mundo. Este princípio é evidente na atuação da China no Sul Global, onde suas iniciativas de infraestrutura e comércio não são acompanhadas das condicionalidades políticas e econômicas que caracterizam o neocolonialismo dos países imperialistas. Projetos como a Iniciativa do Cinturão e Rota têm permitido que países da Ásia, África e América Latina desenvolvam suas economias sem a dependência de organismos financeiros controlados pelo Ocidente, como o FMI e o Banco Mundial.

      O Sul Global, no qual o Brasil está inserido, desempenha um papel central na construção da multipolaridade. América Latina, África e Ásia emergem como atores essenciais na construção de um mundo onde as relações internacionais sejam definidas pelo respeito à soberania e ao desenvolvimento compartilhado. A Celac, onde o Brasil também é força destacada, por exemplo, é um mecanismo de integração regional que visa a reduzir a dependência da América Latina dos centros de poder tradicionais, como Washington e Bruxelas. Da mesma forma, a União Africana e diversas coalizões asiáticas demonstram crescente protagonismo na reformulação das estruturas globais. A emergência dessas entidades reforça a tese de que a multipolaridade não é apenas um fenômeno econômico, mas também um processo político e cultural, onde diferentes civilizações reivindicam sua autonomia e capacidade de definir seus próprios destinos.

      Os Estados Unidos, por sua vez, tentam reconfigurar sua política externa diante dessa nova realidade. Desde sua posse, em janeiro último, o presidente dos EUA, Donald Trump, tem procurado investir-se de poderes imperiais, com uma estratégia voltada para assegurar o primado dos seus interesses, por meio de uma diplomacia de força, sanções, ameaças  de anexação de territórios, primazia da liderança militar e ingerências políticas. 

      No entanto, é ilusório impedir a ascensão da China, sabotar a boa relação desta com a Rússia e a emergência do Sul Global, que encontram novas alternativas de desenvolvimento e financiamento, o que enfraquece a capacidade dos EUA de ditar as regras do jogo global.

      O presidente russo, Vladimir Putin, destacou recentemente a importância da cooperação sino-russa em fóruns internacionais como a ONU, a OCX e o BRICS. Durante sua reunião com Wang Yi, ele enfatizou a eficácia dessa parceria na promoção de um novo equilíbrio do mundo. O encontro entre Putin e o presidente chinês Xi Jinping, agendado para as celebrações do Dia da Vitória em Moscou, em 9 de maio, será mais um momento importante para a consolidação da multipolaridade. O fortalecimento desses laços é um sinal claro de que os principais atores deste novo mundo multipolar estão dispostos a coordenar suas ações e estabelecer uma nova arquitetura de governança internacional.

      A resistência à multipolaridade por parte de alguns decorre da incapacidade de aceitar que o modelo unipolar está superado. A ascensão de novos centros de poder não significa a simples substituição de uma hegemonia por outra, mas a emergência de um sistema internacional mais diverso, onde diferentes países podem cooperar sem se submeter a um centro de comando. O verdadeiro desafio agora está na construção de novos mecanismos institucionais multilaterais. A Rússia e a China, ao lado do Sul Global, lideram esse processo, promovendo mecanismos alternativos à dominação estadunidense. O século 21 caracteriza-se não apenas pelo declínio continuado do imperialismo estadunidense, mas pela ascensão de um mundo onde a cooperação e o respeito mútuo poderão substituir a coerção, a opressão e o domínio unilateral.

      * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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