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    Leonardo Lucena

    Jornalista do Brasil 247

    14 artigos

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    Com seu discurso ‘imparcial’, Centrão apontou ‘arco e flecha’ para o país

    ‘A esquerda não alterou problemas que atingem todas as classes e precisa defender uma reforma na participação política’, escreve o jornalista Leonardo Lucena

    Câmara dos Deputados, agricultor, cartão bancário, e a cidade de São Paulo (Foto: Bruno Spada / Agência Câmara I Divulgação I Agência Brasil I Rovena Rosa / Agência Brasil)

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    O resultado das eleições municipais demonstrou que as críticas de políticos a opositores têm um resultado limitado para quem tem a iniciativa de massificar o lado negativo de oponentes no campo de narrativa política. O anti bolsonarismo também estimula o antipetismo. Por consequência, dificulta mais ainda os objetivos políticos da esquerda, dá mais possibilidades de vitória a partidos direitistas e de centro.

    Recordar com frequência os malfeitos do governo anterior em eventos públicos vem sendo um “tiro no pé” da esquerda. Militantes e políticos devem ter a total liberdade para denunciar o que acham um ato criminoso em alguma instituição política. Mas a Justiça é que tem o dever de guardar as leis, e punir devidamente sequestradores de dinheiro público.

    Pelo que se entende na comunicação do governo, a marca do terceiro mandato de Lula é a transição energética. Mas após o término do segundo mandato petista, em 2010, as eleições para executivos e legislativos, tanto em nível nacional como estadual e municipal, deixaram claro que a participação política incentivada pela esquerda ainda não alterou problemas como a concentração de renda, falta de reforma agrária, oligopolização do sistema bancário e a especulação imobiliária.

    Defensora de pautas mais ligadas a direitos sociais e a uma economia mais soberana, teoricamente, a esquerda precisa defender uma reforma na participação política. Não é apenas defender a inclusão digital ou otimizar o uso de tecnologia nas instituições nas mais variadas áreas (política, economia, cultura, esporte, social, ambiental, etc). É reformar a participação política.

    Passados 30 anos após o término da Ditadura Militar (1964-1985), a maneira como o povo participa ainda é um verdadeiro fracasso, apesar de alguns avanços causados pela maior facilidade de acesso à informação - de acesso, e não mudança na correlação das forças produtivas. É a defesa de pautas que possam não apenas retomar direitos, mas de identificar ilegalidades do capital financeiro, leis que possam limitar margem de lucro, e aumentar responsabilidades dos chamados intermediários - pessoas e/ou instituições que intermediam, fazem o elo entre produtor e o cliente, consumidor final. Ex: bancos de investimentos, corretoras, etc.

    No século 21, a cada eleição o cenário fica preocupante para a esquerda, como foram as eleições de 2024. Até porque, em eleições para prefeito e vereador, existe mais proximidade entre os candidatos e os eleitores por conta da questão territorial. Se o (s) candidato a um cargo municipal for competente em sua campanha, fica difícil para uma liderança nacional “furar esta bolha territorial”.

    Entre os 10 partidos mais vitoriosos no primeiro turno das eleições, apenas 3 são de esquerda. Um deles é o PT, que, apesar de ser um partido de massa em um país com dimensão continental, tem uma capilaridade política menor que a de Lula.

    A outra sigla foi o PSB, que tenta, desde os tempos do ex-presidenciável Eduardo Campos (1965-2014), ficar mais independente. Na capital pernambucana, onde o prefeito João Campos foi reeleito, o Partido dos Trabalhadores esteve na coligação das 12 legendas que apoiam o chefe do Executivo municipal. Mas os petistas não ganharam a vice. O filho do ex-governador de Pernambuco terá Victor Marques (PCdoB) como vice, em substituição a Isabella de Roldão (PDT).

    O PT e o PDT têm afinidades históricas, mas não se pode dizer que, atualmente, os dois partidos têm uma relação extremamente harmoniosa por motivos como as diferenças anunciadas publicamente entre petistas em geral e o ex-ministro Ciro Gomes.

    Mais estatísticas e o cenário político em Brasília (DF)

    As estatísticas das eleições apontaram que o ‘Centrão’ venceu em pelo menos 4.334 das 5.050 cidades onde 10 legendas lideraram o ranking de partidos com os maiores números de prefeituras. Ao todo, 24 siglas disputaram 5.569 municípios brasileiros.

    Pelas urnas, 6 das 10 legendas mais vitoriosas fazem parte do ‘Centrão’: PSD, que ganhou em 888 cidades, MDB (865) e PP (752). Na quarta posição ficou o União Brasil (589), o PL (523) na quinta e o Republicanos (441) na sexta.

    Em sétimo lugar ficou o PSB (312), da centro-esquerda, seguido pelo PSDB (276), da centro-direita, e por mais dois partidos do campo esquerdista – PT (253) e PDT (151).

    Além dos partidos mencionados que ocuparam as 6 primeiras posições no ranking, mais 2 legendas integram o ‘Centrão’: o Podemos, que venceu em 126 municípios, e o PRD (Partido da Renovação Democrática), que ganhou 77 prefeituras – fundada em 2023, esta última sigla foi resultado da fusão entre o PTB e o Patriota.

    No Congresso Nacional, o Centrão pode render entre 220 e 280 votos para o governo na Câmara dos Deputados, fazendo a base do governo ficar entre 350 e 400 deputados dos 513 da Casa Legislativa.

    Seria ilusão achar que um presidente da República e seus ministros governam sem depender do Centrão. Mas propostas de emendas, por exemplo, deveriam ser uniformizadas, no sentido de garantir, obrigatoriamente, financiamentos coletivos (de todos os parlamentares da Câmara) para uma área em um determinado período de tempo. Por exemplo: todos os deputados federais seriam obrigados a destinar o dinheiro a um setor (combate à fome, transporte público, educação, etc.

    Raio X dos estados

    Estreitar cada vez mais a articulação com governadores é outro passo, até porque o cenário não é tão favorável à esquerda. Dos 26 estados mais o Distrito Federal atualmente, 11 chefes de Executivos estaduais podem ser considerados aliados politicamente - Alagoas (Paulo Dantas-MDB), Amapá (Clécio Luís-Solidariedade), Bahia (Jerônimo Rodrigues-PT), Ceará (Elmano de Freitas-PT), Espírito Santo (Renato Casagrande-PSB), Maranhão (Carlos Brandão-PSB), Pará (Helder Barbalho-MDB), Paraíba (João Azevêdo-PSB), Piauí (Rafael Fonteles-PT) e Rio Grande do Norte (Fátima Bezerra-PT) e Sergipe (Fábio Mitidieri-PSD).

    Três dos principais estados brasileiros, economicamente, são governados por oposicionistas da esquerda – São Paulo (Tarcísio de Freitas-Republicanos), Rio de Janeiro (Cláudio Castro-PL) e Minas Gerais (Romeu Zema-Novo).

    Os números são preocupantes do ponto de vista eleitoral para a esquerda e também do ponto de vista partidário, na medida em que a distância entre a política institucional e militantes precisa diminuir com urgência. Aliás, no sistema político de um modo geral.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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