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    Bepe Damasco

    Jornalista, editor do Blog do Bepe

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    Desafio da comunicação do governo vai muito além da troca de comando na Secom

    "Embora seja um comunicador genial, Lula não pode seguir carregando quase que exclusivamente nas costas"

    Lula (à esq.) e Sidônio Palmeira (Foto: Ricardo Stuckert / PR)

    Um erro comum entre pessoas do campo progressista, de certa forma corroborado por setores da imprensa comercial, é a superestimação do papel da Secretaria de Comunicação do governo federal, a Secom.

    Alguns vão além e consideram que a mera saída do ministro Paulo Pimenta da chefia da comunicação governamental e a entrada em cena do publicitário Sidônio Pereira colocará um ponto final nas falhas de comunicação do governo Lula 3, vistas por um grande número de militantes e dirigentes da esquerda democrática como o principal problema da gestão.

    A Secom, embora tenha importância inegável, pois faz a assessoria de imprensa do governo e do presidente da República, controla as verbas publicitárias, elabora a política de comunicação do governo e divulga as ações do Executivo, além de interligar e coordenar a comunicação entre os orgãos de governo, tem suas limitações institucionais.

    Por isso, não pode ser depositada exclusivamente sobre seus ombros a responsabilidade por fazer com que as informações de governo cheguem à população. 

    Vejo com bons olhos a chegada de Sidônio Pereira ao governo. Ele, de cara, já tem seu caminho facilitado pela relação próxima que mantém com o presidente Lula desde a eleição de 2022, quando foi o responsável pelo marketing da campanha. Publicitário experiente, espera-se que as informações de interesse do Planalto ganhem um roupagem mais leve e criativa.

    Para isso, no entanto, é fundamental que o novo ministro-chefe da Secom tenha autonomia e carta branca para nomear seus assessores e trabalhar, coisa que faltou ao combativo e competente deputado Paulo Pimenta, jornalista formado pela Universidade Federal de Pelotas, que se viu às voltas com interferências poderosas ao longo dos dois anos em que permaneceu no cargo.

    Aliás, o governo só teria a ganhar se Lula aproveitasse Pimenta em outra área, ou lhe confiasse a liderança do governo na Câmara dos Deputados.

    Nos dias atuais, a refrega da comunicação digital ganhou importância tão crucial que se tornou um problema bem mais amplo, envolvendo também o PT, demais partidos de esquerda e movimentos sociais, que ainda perdem feio para a extrema-direita nas redes. Contudo, como abrir este leque daria margem a mais alguns artigos, é melhor focar na comunicação do governo.

    Foi-se o tempo em que as realizações econômicas por parte de um governo de esquerda era suficiente para garantir sua popularidade. Hoje o buraco é bem mais embaixo, uma vez que parte considerável da sociedade compartilha dos valores da extrema-direita, que desfruta de grande capital político, social e eleitoral.

    Cerca de um terço das pessoas rejeitam de pronto o governo Lula apenas porque são antipetistas e têm urticária só de ouvir falar em esquerda. Essa gente, ao ser abordada por institutos de pesquisa, reprovaria a gestão de Lula mesmo que o governo panfletasse nota de R$ 100 em praça pública.

    A força das igrejas neopetencostais, capilarizadas nos bairros pobres e favelas das periferias, somada à pregação diária da mídia corporativa em favor do mercado financeiro, em campanha permanente para que o governo se renda ao rentismo, além da expressiva maioria da direita e da extrema-direita no Congresso Nacional, tornam indispensável elevar o tom da disputa política no dia dia a dia.

    Qualquer estratégia de comunicação alheia a essa realidade e que opte por não travar a batalha política e ideológica por corações e mentes com a extrema-direita e com o mercado, limitando-se a empilhar realizações, tem escassas chances de êxito, mesmo que seja capaz de produzir as peças publicitárias mais brilhantes.

    Embora seja um comunicador genial, Lula não pode seguir carregando quase que exclusivamente nas costas a responsabilidade de comunicar as ações de governo. É preciso convocar todos os ministros para essa empreitada, a partir de discursos com diretrizes políticas unificadas, guardadas as especificidades de cada pasta.

    O que comunicar e como comunicar são os desafios dos profissionais e políticos do governo. Uma coisa é certa: para surtir efeito, deve ser bem diferente do que acontece hoje.

    Ninguém aguenta mais o diagnóstico repetido como uma mantra dando conta das debilidades da atuação do governo e da esquerda nas redes sociais. Já passou da hora do governo investir em recursos humanos e materiais para virar esse jogo. 

    A nomeação de um porta-voz também ajudaria muito. Vale lembrar o sucesso do governo de Barack Obama, cujo porta-voz Josh Earnest se encontrava com os jornalistas todos os dias às 11h da manhã, para disputar as narrativas acerca dos fatos do noticiário.

    Por que não se fazer o mesmo no Brasil , como antídoto contra as manipulações que corroem a imagem do governo? 

     

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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