Destinatários do golpe
Nas unhas do Legislativo, as emendas arreganharam o orçamento do país
O avanço do Poder Legislativo sobre o Executivo começou no Golpe parlamentar de 2016. Vicejou com a Reforma trabalhista e Previdenciária. O pobre saiu da pauta, da agenda, da área de interesse. Os papéis foram invertidos. A Reforma trabalhista criou o Empreendedor sem empresa e a reforma da Previdência cria o contribuinte perpétuo. Assim, o mercado quer tudo do pobre, os juros do cartão de crédito, a moto financiada, a jaqueta preta, o capacete emprestado, o ronco de seu estômago faminto, suas pedaladas de entregas rápidas e por conta própria, sob chuvas, trovões, e na portaria responsabilizados pelo produto errado, pelo lanche frio, pela demora, pelo suor escorrido e pelo seu pescoço preso no cerol da impiedade, sem DPVAT. Ele mesmo se culpa dos acidentes de “empreendedor” e o mercado quer sua entrega total.
Os que derrubaram a Dilma não ocuparam o seu lugar, outro grupo ascendeu com seus cacoetes, o bolsonarismo. Bolsonaro era visto com sua moto ou jet-ski, curtia a vida pelo mundo todo, inclusive na pandemia, fazendo festa. Nas unhas do Legislativo, as emendas arreganharam o orçamento do país – o chamado orçamento secreto.
Esses senhores que não relam os dedos num puxador de armário nem fecham a porta do carro ainda estão insatisfeitos, reclamam das políticas compensatórias como o Bolsa família, o BPC, a Saúde na Escola, a ajuda a mãe solo e outras e se recusam a votar impostos aos mais ricos. Cidades pequenas são usadas para destinação de verbas “invisíveis”, milhões para consertar uma simples ponte de madeira, pois nessas emendas não consta especificamente para o que é, nem mesmo o nome de quem a destina, é tudo genérico. Ongs, não se sabe de quem, também recebem verbas. Cidadezinhas têm shows de sertanejos famosos, mas não recebem um centavo para o saneamento ou posto de saúde. Fazem com milhões públicos o que uma violinha da minha terra faz por muito menos e melhor na voz de um caipira.
Na última eleição, Bolsonaro perdeu o cargo. Deixou dívidas com os Estados da federação, com as estatais precarizadas, com preço alto da gasolina, fome, doenças, negacionismos, ódio, rancor e um estado pária, como uma bomba acionada com detonação retardada. Brasília vira campo de guerra e por pouco não explodem uma bomba no aeroporto, mas no oitavo dia invadem às casas dos poderes e gravam a si próprios, exibem-se nas redes sociais. Há protestos, distúrbios, e movimentos orquestrados de rebelião. As frentes do quartéis são tomadas por fanáticos, rebeldes, ingênuos, assassinos e gente raivosa de toda a ordem. Com ou sem bíblia sob os braços, alguém posta um vídeo defecando sobre a mesa, mostrando o lado mais asqueroso do golpe – o desprezo pela coisa pública, nem animais fazem isso em locais impróprios. Nos acampamentos, a adoração de pneus e marcha de fãs, numa mistura de delírio coletivo. Alguém se aproveitou e financiou essa horda e mesmo num governo ditatorial, os assassinos de Jeca, Joca e Juca seriam justiçados numa “política de César”, pois, se não pode premiar, castigue-os. Contudo, na democracia, não somente os executores, mas os mentores pagarão pelos seus crimes.
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