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    Alexandre Aragão de Albuquerque

    Escritor e Mestre em Ciência Política pela Universidade Estadual do Ceará (UECE).

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    Europa militarizada

    Enquanto os EUA e a OTAN investem na velha e já conhecida política da guerra e da militarização da Europa, os Brics sonham em tornar real outro mundo possível

    Tanques russos (Foto: Reuters)

    Enquanto o concerto das nações continua observando imóvel o genocídio covarde praticado pelo sionismo israelense contra o povo palestino em Gaza, o senhor da guerra, Joe Biden, discursou no dia de 06 de junho, em virtude da comemoração dos 80 anos do Dia D, na Normandia, território francês, afirmando que “não há futuro para a Rússia”. 

    No dia seguinte, em reunião com o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky, Biden anunciou a assinatura de um novo pacote adicional de ajuda militar à Ucrânia no valor de US$ 225 milhões. 

    Antes disso, em 26 de maio, o primeiro-ministro húngaro Viktor Orbán já havia declarado não ter visto maior irresponsabilidade do que a da Europa ao envolver-se nessa guerra dos EUA/Ucrânia contra a Rússia sem calcular o quanto esse conflito lhe custaria: “Nunca vi nada mais irresponsável na minha vida”, declarou Orbán ao canal Patriota no Youtube. Ele também fez forte crítica ao presidente do Partido Popular Europeu que quer introduzir o serviço militar obrigatório na União Europeia: “Não queremos que mais ninguém possa tomar decisões sobre o recrutamento e o envio de nossos jovens em idade militar para qualquer lugar. Exército Europeu, com recrutamento militar, é uma ideia maluca”. 

    Na terça-feira, 28/06, o mundo ficou sabendo da cooperação celebrada entre Alemanha e França, e demais parceiros europeus da OTAN, no desenvolvimento de armas de longo alcance, que também será acompanhada pelo fortalecimento da base industrial europeia com o objetivo de fortalecer seu potencial militar. 

    Como lembra Flávio Aguiar, a guerra entre EUA/Ucrânia e Rússia marca um ponto de inflexão. Os laços políticos e econômicos entre russos e europeus, alimentados fortemente pela política externa de Putin, em especial com alemães, foram tragicamente cortados em virtude da guerra. Agora, com o apoio dos EUA, a Alemanha lidera um processo de forte investimento bélico na União Europeia, apresentando-se como o caminho da recuperação econômica dessa nação, tendo em vista que a perda do gás barato da Rússia (com a explosão dos dois gasodutos binacionais pelos EUA) haver sido um pesado golpe para economia exportadora alemã. A lógica do projeto de guerra de Biden é um grande negócio porque gera um lucro enormemente favorável para os EUA uma vez que cria empregos por meio do fomento à indústria bélica, fortalece a OTAN, sem a perda de uma única vida de militares estadunidenses (A Erosão do Ocidente, n.5, maio de 2024, Observatório Internacional do Século XXI). 

    Por outro lado, hoje, 10/06, os ministros das Relações Exteriores do Brics estão se reunindo em Nizhny Novgorod, na Rússia, para consolidar a ampliação do bloco e coordenar posições sobre Ucrânia e Gaza. Segundo o chanceler brasileiro Mauro Vieira, a declaração anual do Brics refletirá a fisionomia do grupo composto por países que querem promover mudanças profundas no cenário internacional, na reforma da governança global e na elaboração de formas novas e criativas de relacionamento entre os países. 

    Sobre o genocídio em Gaza, Vieira afirmou que o grupo de países do Brics é unânime pela cessação imediata do massacre, pela negociação da paz e, principalmente, para o auxílio humanitário e a libertação dos reféns. E com relação à questão da Ucrânia, o grupo dos países quer o início de conversas completas, que envolvam os dois lados, nas quais se possa dialogar séria e abertamente sobre essa questão. Não adianta organizar uma conferência sobre a paz, marcada para os dias 15 e 16 de junho, na Suíça, sem a presença da Rússia: “Apoiamos uma conferência que seja reconhecida tanto pela Ucrânia quanto pela Rússia”. 

    Por fim, outro fato importante destes últimos dias ocorreu em 06/06, quando a presidente do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB), conhecido como o Banco dos Brics, e ex-presidente do Brasil, Dilma Rousseff, reuniu-se com o presidente russo Vladimir Putin durante o Fórum Econômico Internacional de São Petesburgo, na Rússia. Em seu discurso, Rousseff destacou o compromisso em construir uma economia multipolar visando a composição de um novo multilateralismo que reflita o novo mundo em andamento. Destacando o fato de o NDB ser um banco diferente das outras organizações financeiras, como o FMI e o Banco Mundial, porque foi criado pelos países do Sul Global para atender os países do Sul Global, sem impor condições para os membros da instituição. 

    Dilma assinalou em sua participação no Fórum Econômico que sem uma economia multipolar, a multipolaridade é impossível. Consequentemente, o uso das moedas nacionais tem uma função determinante. Para ela, o compromisso do NDB tem sido o de fornecer suporte e recursos aos países membros em suas moedas nacionais, diminuindo riscos para que não sejam penalizados pela volatilidade das taxas de câmbio. 

    Enquanto os EUA e a OTAN investem na velha e já conhecida política da guerra e da militarização da Europa, os Brics sonham em tornar real outro mundo possível. 

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