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Joaquim de Carvalho

Colunista do 247, foi subeditor de Veja e repórter do Jornal Nacional, entre outros veículos. Ganhou os prêmios Esso (equipe, 1992), Vladimir Herzog e Jornalismo Social (revista Imprensa). E-mail: joaquim@brasil247.com.br

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Falta uma prisão na operação de hoje da PF: a de Carlos Bolsonaro

O fundamento da prisão de cinco pessoas, expresso no despacho de Alexandre de Moraes, do STF, vale também para o cabeça do esquema de espionagem ilegal

Vereador Carlos Bolsonaro (Foto: Renan Olaz/CMRJ | Reprodução)

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A fase da Operação Última Milha deflagrada nesta quinta-feira pegou um personagem-chave no esquema de espionagem ilegal que existiu na Abin durante o governo Bolsonaro. É o agente da Polícia Federal Marcelo Bormevet, mas faltou pedir a prisão do cabeça do esquema: Carlos Bolsonaro.

A semente da chamada Abin Paralela foi plantada em 6 de setembro de 2018, quando Adélio Bispo de Oliveira encontrou Jair Bolsonaro no calçadão da Halfeld, em Juiz de Fora. O que se viu a partir dali definiu a eleição presidencial daquele ano.

Estava também em Juiz de Fora Carlos Bolsonaro, de quem Adélio se aproximou cerca de uma hora antes, no Parque Halfeld, onde a caminhada teve início. 

Carlos Bolsonaro, que participava pela primeira vez dos atos públicos da campanha do pai, se escondeu de Adélio, ao entrar no carro rapidamente.

Estranho, porque, se não se conheciam, como diria Carlos, por que evitou o encontro? 

Gustavo Bebianno, que também estava naquele ato de campanha, revelaria, dois anos depois, em entrevista ao Roda Viva, da TV Cultura, que Carlos ficou o tempo todo dentro do carro, controlando um drone. 

Bebianno disse que a presença de Carlos Bolsonaro na cidade mineira surpreendeu, já que o filho de Jair não costumava participar desse tipo de agenda de campanha. 

Bebianno também contou que teve surpresa maior quando, quatro meses depois do evento de Juiz de Fora, Carlos Bolsonaro o procurou no Palácio do Planalto, e pediu para ele, na época responsável pela Secretaria-Geral da Presidência, que nomeasse quatro pessoas para a Abin.

“Não confio na Abin. Quero nomear esses quatro nomes para termos uma Abin Paralela”, disse Carlos Bolsonaro, conforme recordou Bebianno, na mesma entrevista, realizada no início de 2020. Três meses depois, Bebianno teve um ataque cardíaco e morreu, aos 56 anos de idade.

“Se nomearmos estas pessoas, seu pai sofre impeachment”, teria respondido Bebianno, segundo seu relato. Bebianno não deu o nome dos quatro indicados de Carlos Bolsonaro nem o motivo pelo qual a simples nomeação seria capaz de gerar a cassação, por crime de responsabilidade.

No documentário “Bolsonaro e Adélio - Uma fakeada no coração do Brasil”, que sofreu censura do YouTube, revelei o nome de um desses quatro, Marcelo Bormevet. Conforme apurei, foi esse agente quem articulou a nomeação do delegado da Polícia Federal Alexandre Ramagem para a direção-geral da Abin.

Bebianno caiu pouco depois de se recusar a fazer a indicação de Ramagem, Bormevet e de outros dois indicados por Carlos Bolsonaro. 

O general Santos Cruz, que esteve discretamente com Jair Bolsonaro em Juiz de Fora naquele 6 de setembro, também perdeu o cargo de ministro. 

Só depois que os dois deixaram o governo é que o Planalto apresentou ao Senado o nome de Ramagem para a Abin.

Aprovado pelos senadores, Ramagem assinou como um de seus primeiros atos a nomeação de Marcelo Bormevet para a chefia do departamento de inteligência da Abin e também a de outro agente da PF, Luís Felipe Félix, para trabalhar no Palácio do Planalto. 

Bormevet tinha coordenado um esquema paralelo de segurança em Juiz de Fora, embora esta não fosse sua atribuição. Felipe Félix era da equipe fixa de segurança de Bolsonaro, que a Polícia Federal colocou à disposição do candidato, como faz com todos os que disputam a Presidência da República.

Na condição de operador do esquema ilegal de espionagem, principalmente com o software First Mile, de fabricação israelense, Bormevet cometeu crimes em série. Mas o fazia espontaneamente? Quem mandava?

A chamada Abin Paralela se conectava ao gabinete do ódio, também instalado no Palácio do Planalto, com indicações de Carlos Bolsonaro.

O fundamento da prisão preventiva de cinco pessoas, expresso no despacho de Alexandre de Moraes, do STF, vale também para o filho de Jair Bolsonaro.

Escreveu o ministro do STF:

“O contexto delineado, portanto, revela a imprescindibilidade das prisões, haja vista que, se os investigados permanecerem em liberdade, podem dar continuidade às suas atividades criminosas, pois, como dito, os investigados possuem dados e contatos que podem ser utilizados para obstruir as investigações policiais, sem se perder de vista que os ataques às instituições ainda perduram de modo similar ao narrado na representação da PF, inclusive no que diz respeito à veiculação e respectiva difusão”.

Ora, se o risco de continuidade das atividades criminosas existe, por que poupar o cabeça?

Se a lei é igual para todos, Carlos Bolsonaro precisa ir para o mesmo local que Bormevet.

E a investigação não pode parar. Os frutos daquela semente plantada em Juiz de Fora estão sendo vistos. Mas é preciso descobrir também como e por que ela foi plantada.

Terá tudo sido coincidência?

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