Gabinete do ódio não era usado apenas para difamação: ajudava a esconder ilegalidades da Abin
‘Espionagem e golpe são duas palavras muito associadas ao esquema criminoso de fake news’, afirma o jornalista Leonardo Lucena
As investigações da Polícia Federal sobre a espionagem ilegal feita pela Agência Brasileira de Inteligência (Abin) mostrou que o gabinete do ódio era usado não apenas para divulgar mentiras contra opositores de Jair Bolsonaro (PL), mas também era um esquema que ajudava a encobrir outras ilegalidades, como a tentativa de golpe. A divulgação de notícias falsas era um dos quatro núcleos da ‘Abin Paralela’ e também funcionava como uma das seis estratégias para o plano golpista, atualmente sob investigação da Polícia Federal. Na investigação da trama golpista, a PF apontou existência de núcleos e um deles era o das fake News, que, neste caso, eram em grande parte direcionadas ao sistema eleitoral brasileiro.
O vereador do Rio de Janeiro Carlos Bolsonaro (PL) é apontado por investigadores da Polícia Federal como um dos principais membros de um esquema de fake News contra adversários do bolsonarismo. Também é um dos integrantes do núcleo da desinformação, administrado pelos envolvidos na Abin Paralela. A investigação atual já conecta o monitoramento ilegal a três inquéritos - fake news, dos atos antidemocráticos e das milícias digitais.
Um dos núcleos da espionagem ilegal era Evento Portaria 157, usado divulgar a informação falsa de que ministros do Supremo teria ligação com a facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC), sediada no estado de São Paulo. O número é uma referência à legislação brasileira. No Código Penal (Lei nº 2.848/1940), diz o artigo 157, capítulo II, sobre o crime de roubo: “Subtrair coisa móvel alheia, para si ou para outrem, mediante grave ameaça ou violência à pessoa, ou depois de havê-la, por qualquer meio, reduzido à impossibilidade de resistência. Pena - reclusão, de quatro a dez anos, e multa”.
Ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, o tenente-coronel Mauro Cid afirmou, em delação premiada, que, para o funcionamento da produção de notícias falsas, o gabinete do ódio usava uma sala do Planalto, onde fica o gabinete presidencial. Antes da Operação Última Milha, deflagrada nesta quinta (11), o militar já havia confirmado a participação do vereador Carlos Bolsonaro no esquema de fake News.
Além das notícias falsas na Abin Paralela, o esquema de espionagem envolvendo aliados do governo Bolsonaro tinha mais três núcleos. Um era o da Alta Gestão (espionar autoridades públicas e jornalistas). O outro, dos Subordinados (cumpria determinações do núcleo anterior, monitorando alvos). O último era o de Tratamento de 'Logs', responsável pelos dados gerados pelo sistema First Mile. Os chamados "logs" são arquivos com os dados gerados a partir dos acessos via First Mile aos aparelhos (celulares e computadores) das vítimas da espionagem ilegal.
No plano de ruptura institucional eram seis eixos. Um era de o das fake News. O outro era o de incentivar militares a aderirem ao golpe. O terceiro era o núcleo jurídico. Também havia o núcleo operacional de apoio às ações golpistas, o da inteligência paralela, e o dos oficiais de alta patente.
Agora, o que parlamentares precisam é rever a forma como trabalha a Comissão Mista de Controle das Atividades de Inteligência. A entidade deve ser fiscalizada pelo Poder Legislativo, por meio de uma comissão formada por líderes do Senado, da Câmara dos Deputados, e pelos presidentes das Comissões de Relações Exteriores e Defesa Nacional das duas casas legislativas.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
iBest: 247 é o melhor canal de política do Brasil no voto popular
Assine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista: