Governo Lula sinaliza que relação com Argentina vai além de Milei e embaixador retorna quarta-feira ao posto

O embaixador do Brasil, Julio Bitelli, voltará ao posto em Buenos Aires na semana que vem. Ele tinha sido chamado para conversas em Brasília, poucos dias de o presidente argentino Javier Milei ter participado, ao lado do ex-presidente Bolsonaro, da Conferência Política da Ação Conservadora (CPAC), no Balneário Camboriú, em Santa Catarina.

Milei deixou clara sua opção ideológica ao compartilhar o encontro com Bolsonaro e ao não comparecer à reunião de Cúpula do Mercosul, em Assunção, no Paraguai. A decisão do governo brasileiro de convocar o embaixador gerou forte apreensão entre políticos e empresários em Buenos Aires. O Brasil é o principal sócio comercial da Argentina e quando um embaixador é chamado para conversas fica demonstrada a insatisfação do país.

As primeiras versões sobre a convocação de Bitelli geraram temores de uma possível suspensão ou até rompimento da relação bilateral. Pelas regras diplomáticas, um embaixador convocado pelo país pode ser o primeiro passo para a sua retirada do posto. Historiadores chegaram a lembrar que esta era a pior crise vivida pelos dois países desde 1906 – tempos de desconfiança extrema que envolvia armamentos militares.

Mas a situação hoje é diferente e também não é similar a que ocorreu em relação ao embaixador do Brasil em Israel, chamado de volta, como lembraram fontes diplomáticas. Bitelli foi à Brasília para discutir como a relação bilateral pode continuar fluindo, apesar da postura de Milei em relação ao presidente Lula.

Os dois países têm uma série de acordos e que, de fato, continuaram sendo respeitados desde a posse do argentino na Casa Rosada, em dezembro passado. Basta lembrar o envio de gás para a Argentina quando o frio antecipado chegou ao nosso vizinho, em maio, e as reservas energéticas para aquecer as residenciais e manter as indústrias em funcionamento eram escassas.