Governo sem iniciativa política

Há mais de 15 dias, o governo vem apanhando pesado. Não consegue sustentar uma pauta política positiva, mesmo com algumas vitórias importantes, que logo são sobrepostas por algo ruim.

O dólar recuou 10%, a inflação de janeiro foi a menor em 30 anos, o PIB será de 3,8%, crescimento de 7% em dois anos, contra a perspectiva de 2%, e a taxa de desemprego foi a menor média em 12 anos.

Não obstante, o governo só apanha — e apanha pesado. Na questão do Pix, houve um erro terrível de avaliação política sobre o que seria. Isso abriu um flanco enorme para a extrema-direita e deixou o governo refém da mídia.

Para piorar, há um descontentamento enorme nas fileiras aliadas. Justo em muitas coisas. No entanto, é preciso generosidade e compreensão sobre o que está acontecendo e como há um avanço que pode ser avassalador contra o governo — não apenas nas pesquisas enviesadas, mas na perspectiva de grandes manifestações nos idos de março.

O governo espera a denúncia contra Bolsonaro para dissipar a pauta negativa. Isso é muito pouco.

A reforma ministerial patina e cria mais confusão do que solução. O tempo urge, e não se define para onde o barco vai. Algumas antecipações de mudanças deveriam ser feitas para gerar calor e mudar o curso da tempestade que se aproxima.

A confiança em Lula deveria ser um norte — não acrítica, por óbvio. A esquerda pensa política todos os dias, mas deveria dosar isso com certa parcimônia e gestos fraternos.

A questão política dita o que vira comunicação, não o oposto. Não se pode criar um bode na sala ao tratar a situação apenas como um ajuste de comunicação. Não é. Que bom que tenha mudado, mas ainda não se efetiva porque o tempo da política não se impõe no governo.

O outro lado é o caos.