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    Luis Pellegrini

    Luís Pellegrini é jornalista e editor da revista Oásis

    14 artigos

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    Heil Trump. O gesto tresloucado de Elon Musk

    "Tive a sensação de estar mergulhando num universo de total insanidade", escreve Luis Pellegrini

    (Foto: Brasil 247)

    Em plena cerimônia da posse presidencial ontem, em Washington, Elon Musk estava agradecendo os eleitores pelo voto em Trump quando, com grande ímpeto, levantou o braço direito e desferiu o gesto maldito: a saudação nazifascista que os romanos inventaram (Ave César) e, nos milênios seguintes, Adolf (Heil Hitler) e Mussolini (Duce, Duce) se apropriaram e passaram a reproduzir a torto e a direito. Até no Brasil, onde sempre tem alguém pronto a macaquear as modas estrangeiras, houve, na mesma época dos chefes autocratas alemão e italiano, o tupiniquim Plínio Salgado. Ele foi descolar, lá no fundo do baú da língua tupi, o termo Anauê, que significa “Salve”, mas logo passou a significar “A autoridade do chefe não se discute” para os integralistas, os membros do movimento político/ideológico fascistoide que Plínio criou. E tudo sempre acompanhado pela coreografia do braço direito alçado.

    Tem gente dizendo que, ao perpetrar o gesto, Musk disse, meio entredentes: “Heil Donald”. Vi e ouvi o vídeo várias vezes e posso garantir que isso não é verdade, é pura fake News. Na verdade, o que ele não disse, mas pensou, foi “Hello Elon”. Mas ninguém deve se espantar com o ocorrido. Gestos, ações e atitudes de afirmação da própria grandeza e poder são frequentes na vida desse novo escudeiro do recém empossado presidente norte-americano. Lembram-se do seu recente entrevero com o Ministro Alexandre de Moraes, que levou à suspensão temporária no Brasil da plataforma X (empresa de Musk)? Há antecedentes: No dia 6 de fevereiro de 2018, a SpaceX (idem) lançou ao espaço um carro esportivo fabricado pela Tesla (idem). Nestes quase sete anos, o veículo orbitou o Sol quatro vezes e atualmente está se afastando da Terra à uma impressionante velocidade de 25.290 quilômetros por hora. Poderá chegar a algum planeta dotado de vida inteligente dentro de alguns milhares de anos.

    Mas por favor, alguém me responda, porque eu não consigo: Por que desperdiçar um Tesla novinho em folha lançando-o no espaço sideral? Nem sequer leva algum passageiro, já que, segundo dizem as más línguas, na última hora Musk desistiu de subir a bordo e preferiu ficar por aqui mesmo. Por que? Será porque tem outros planos?

    Sim, tem outros planos. Muitos outros planos. Elon Musk é uma nova espécie de Tio Patinhas da era dos computadores e das viagens espaciais. Um iceberg emocional feito de ambição e determinação frias que experimenta sabe-se lá quais prazeres secretos ao navegar no seu oceano de dinheiro. A ponta desse iceberg surgiu finalmente, e o mistério começa a ser desfeito: Musk acaba de receber a posição de chefe do Departamento da Eficiência Governamental do governo Trump. Ainda não se sabe bem o que isso significa, já que se trata de uma posição recém-criada que precisará receber uma estrutura e uma definição de finalidade. O certo é que Elon Musk, que é africano branco de origem, nascido na África do Sul, deve ter trazido de lá mandingas poderosíssimas. Está agora com os pés solidamente fincados no poder, em Washington. Próximo ao companheiro Donald Trump, a quem se juntará como unha e carne, e se tornará seu braço direito. Tudo poderá acontecer nessa simbiose. Como no casamento do morcego com a coruja: da união poderá nascer uma linda e voraz morcuja. Monstrinhos híbridos como este irão proliferar nos anos que se descortinam.

    A esse par central juntaram-se também outros magnatas das big techs, entre eles Mark Zuckerberg (Meta), Sundar Pichai (Google), Tim Cook (Apple), Jeff Bezos (Amazon), Shou Zi Chew (TikTok) e Sam Altman (Open AI). Juntos constituirão uma nova falange de cavaleiros do apocalipse jurados para apoiar e proteger o novo governo. E salve-se quem puder. Não poderemos acreditar em mais nada que for publicado nas redes sociais. Nem mesmo nas nossas próprias postagens.

    Logo depois do gesto tresloucado de Elon Musk – que várias associações judaicas logo quiseram justificar e botar panos quentes, dizendo que tudo não passou de um “arroubo de entusiasmo”. O que me obrigou a comentar com alguns meus amigos judeus “Vocês estão brincando com fogo!", e eles revidaram dizendo que eu estava fazendo piada de mau gosto – veio um discurso de Donald Trump.

    E aí, francamente, meus amigos, tive a sensação de estar mergulhando num universo de total insanidade. O discurso me pareceu uma viagem doida de regresso aos tempos sombrios da Idade Média. Proibição à imigração de estrangeiros – como se a inteira população norte-americana, à exceção dos indígenas que sobraram, não fosse constituída de imigrantes, inclusive a família do próprio Trump, a Melânia, o Musk e tutti quanti. Nova saída do Acordo de Paris, com recuo total nas questões ambientais, como se as consequências das mudanças climáticas em curso existissem apenas nos livros de ficção científica e nos filmes-catástrofe de Hollywood. Abolição dos controles de conteúdo nas redes sociais, uma forma de abrir as porteiras para deixar passar as boiadas nefastas das fake News, fazendo com que nosso mundo se torne um império da mentira, do engano e da desinformação. E as regressões na área comportamental? Os transexuais, que já passaram por tanto sofrimento na vida, agora têm seus direitos de livre escolha de gênero negados e classificados como “criaturas do inferno”? Meu Deus, no Brasil nem mesmo o Edir Macedo ou o Valdemiro, Homem do Chapéu e dos feijões mágicos, ousariam tanto sem morrer de vergonha! 

    Alguém precisa dizer a Trump que não é possível parar o curso evolutivo da história. Quem o tentar será impiedosamente devorado por ela. Mesmo tendo sido democraticamente eleito pela maioria absoluta da população do seu país.

    Viveremos, nos próximos anos, tempos muito difíceis, porém muito interessantes. Não haverá monotonia, com certeza, e isso será um dos poucos consolos. Nesses tempos conturbados que já chegaram, talvez a única opção para quem quiser desfrutar de um pouco de paz e sossego será seguir o conselho do sábio escritor Voltaire colocado no final do seu romance Cândido: “Vá cuidar do seu jardim”. No nosso caso o jardim chama-se Brasil.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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