Imprensa canadense desmascara Jackson Wijaya, a raposa que queria tomar conta do galinheiro
Ligado à extrema direita, empresário indonésio mentiu para autoridades do Canadá e tentou enganar brasileiros, de olho no mercado de papel e celulose
A convocação do empresário Jackson Wijaya pelo Parlamento do Canadá confirma o acerto da decisão do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) a respeito da Eldorado Brasil Celulose. Há cerca de um mês, o Cade cassou os direitos políticos da Paper Excellence na empresa.
Wijaya é acusado por parlamentares canadenses de enganar as autoridades do país, ao garantir que não tinha nenhum vínculo com a Asia Pulp and Paper (APP), empresa que protagonizou grandes escândalos de violação ambiental e também financeira, especialmente em seu país de origem, a Indonésia.
A CBC News, do Canadá, em conjunto com o Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos, fez uma intensa apuração que mostrou uma rede de offshores que escondiam a APP, a verdadeira controladora da Paper. Para se instalar no País, Wijaya havia negado esse vínculo.
Com essa fraude, o empresário conseguiu autorização para assumir empresas que fizeram dela a maior produtora de celulose do Canadá. Há alguns dias, a relação entre a Paper e a APP ficou escancarada: por direitos hereditários, Wijaya assumiu o controle da empresa indonésia.
"A Asia Pulp and Paper tem um histórico ambiental notório", disse o deputado Charlie Angus ao Comitê de Recursos Naturais do Parlamento, que abriu uma investigação.
"Não acho que alguém teria aberto a porta para a Asia Pulp and Paper entrar, ou para a família Wijaya entrar, para assumir as operações florestais canadenses se soubessem que eles eram a Asia Pulp and Paper. Então, daí a criação da Paper Excellence como o cavalo de Tróia para entrar no Canadá."
Ao tomar conhecimento da investigação da imprensa canadense, escrevi nesta coluna que Widjaya havia enganado as autoridades do Canadá e também publiquei uma entrevista com um dirigente do Greenpeace da Indonésia.
"A aquisição de uma fábrica de celulose no Brasil por Sinar Mas (controladora da APP) é uma má notícia para as comunidades e florestas locais. Mais investimentos em indústrias destrutivas por uma empresa com o pior histórico possível é um desastre em formação", disse Syahrul Fitra, que se apresentou como ativista florestal sênior do Greenpeace na Indonésia.
Fitra disse mais: "A subsidiária indonésia de celulose e papel da Sinar Mas/APP, e seus fornecedores desmataram mais de um milhão de hectares de floresta nativa em Sumatra para suas plantações até 2010. Após uma campanha das comunidades afetadas e ONGs durante a qual a empresa perdeu muitos de seus compradores, a empresa introduziu uma política de desmatamento zero em 2013 e se comprometeu em 2014 a apoiar a proteção e restauração de um milhão de hectares de floresta. Infelizmente, Sinar Mas não honrou suas promessas. Apenas cerca de metade da área já foi protegida – a empresa diz que foram 600 mil hectares. Pior ainda, apenas uma pequena fração das operações da APP em áreas de turfeiras foram encerradas"
Pelo que disse o parlamentar canadense e o ativista do Greenpeace, zero é apenas o compromisso de Jackson Wijaya com a verdade. Está sendo assim também no Brasil, onde Wijaya tem apoio da extrema direita e é suspeito de financiar o movimento que quase resultou num golpe contra o presidente Lula.
No entanto, desde que começou a negociar a compra da Eldorado, Wijaya tem sido tratado pela imprensa brasileira em geral como um investidor regular, um empresário bem-intencionado.
Nem o cheque fictício que ele segurou ao lado de uma notória liderança de extrema direita no mundo, o deputado Eduardo Bolsonaro, foi suficiente para acender a luz amarela dos jornalistas brasileiros que fazem a cobertura especializada.
A Paper/APP é concorrente das fábricas brasileiras de celulose, mas tem 49,41% das ações da Eldorado e, como integrante do Conselho de Administração, teve acesso a informações estratégicas e também vetou novos investimentos.
Além disso, anunciou plano de instalar uma fábrica no Brasil, o que faria dela, além de concorrente no mercado internacional, também competidora no mercado doméstico. Ao tomar conhecimento desses fatos, o Cade, numa decisão liminar, cassou os direitos políticos da controversa empresa.
Na semana passada, a liminar foi confirmada, o que é coerente com o precedente histórico, o caso Usiminas, em que a CSN foi impedida de participar do Conselho de Administração e, além disso, foi obrigada a vender a maior parte de suas ações na empresa concorrente.
No caso da Paper, houve críticas de setores da imprensa ao Cade, especialmente daqueles alinhados à extrema direita. Porém, tanto o autor da liminar, Alexandre Barreto de Souza, quanto o relator do recurso apresentado pela Paper, Victor Oliveira Fernandes, deveriam ser elogiados pela coragem e correção técnica.
Barreto é um servidor público com uma carreira extensa em órgãos governamentais. É formado em Administração de Empresas pela Universidade de Brasília (UnB), possui mestrado em Administração Pública e atualmente está cursando um doutorado em Ciência Política pela Universidade de Lisboa.
Barreto iniciou sua carreira pública em 1993, passando por instituições como o Tesouro Nacional, Receita Federal e Tribunal de Contas da União (TCU). No TCU, destacou-se em auditorias relacionadas a contratos públicos e combate à corrupção, além de ocupar cargos como chefe de gabinete do ministro Bruno Dantas.
Já Victor Oliveira Fernandes é doutor em Direito Comercial pela Universidade de São Paulo (USP), mestre em Direito, Estado e Constituição pela Universidade de Brasília (UnB) e também graduado em Direito pela UnB. Antes de ingressar no Cade, foi servidor da Anatel, assessor jurídico na Casa Civil da Presidência da República (ministro Eliseu Padilha) e chefe de gabinete do ministro Ricardo Lewandowski no Supremo Tribunal Federal (STF).
Além da decisão relacionada à cassação dos direitos políticos da Paper Excellence na Eldorado, Fernandes tem histórico em decisões e análises de processos no Cade. Um exemplo recente inclui sua atuação em casos de atos de concentração, como julgamentos relacionados ao setor de commodities e sustentabilidade em cadeias globais, onde explorou a integração de metas ambientais e concorrenciais.
Entrei em contato com a jornalista candense Elizabeth Thompson, autora das reportagens bombásticas sobre Jackson Widjaya, APP e Paper. Ela confirmou que o Comitê de Recursos Naturais do Parlamento está investigando a Paper Excellence, mas explicou que não poderia dar entrevista.
“Como jornalista que cobre o debate sobre a empresa, infelizmente não posso responder às suas perguntas. No entanto, você pode contatar os membros da Comissão de Recursos Naturais”, disse Elizabeth, uma das jornalistas mais premiadas no Canadá.
Ela passou a relação dos parlamentares que integram o comitê. Entrei em contato e aguardo respostas.
O Brasil não é uma republiqueta de banana. Aqui existe lei e ela deve ser cumprida.
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