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    Dono da Paper Excellence vira pivô de escândalo internacional por enganar as autoridades antitruste do Canadá

    Empresário, que disputa o controle da Eldorado Celulose, ludibriou autoridades antitruste. “Fomos feitos de otários", disse autoridade canadense

    Jackson Wikaya, dono da Paper Excellence (Foto: Divulgação)

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    247 – O empresário Jackson Wijaya, proprietário da empresa canadense de papel e celulose Paper Excellence, está no centro de um escândalo internacional por enganar as autoridades antitruste do Canadá. A denúncia foi revelada por uma investigação conduzida pelo Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos (ICIJ), em parceria com veículos internacionais, que apontou irregularidades na relação da empresa com os conglomerados asiáticos Sinar Mas Group e Asia Pulp and Paper.

    A investigação revelou que a Paper Excellence, que disputa no Brasil o controle da Eldorado Papel e Celulose, está assumindo o controle da Asia Pulp and Paper (APP), uma das maiores fabricantes de celulose e papel do mundo e notória por suas práticas de desmatamento em larga escala e violações de direitos humanos. Autoridades canadenses foram levadas a acreditar que a Paper Excellence era uma entidade independente, o que facilitou a aprovação de aquisições que transformaram a empresa na maior produtora de celulose e papel do Canadá.

    Nos últimos anos, Jackson Wijaya sempre negou qualquer vínculo societário com a Asia Pulp and Paper, inclusive na página oficial da empresa, como estratégia para facilitar sua entrada no Canadá e em outros mercados que zelam pela defesa da concorrência e do meio ambiente. No entanto, em novembro deste ano, a Paper Excellence comunicou autoridades internacionais que Jackson Wijaya estava se tornando o controlador de fato da APP. O comunicado formal às autoridades da União Europeia ocorreu no último dia 15 de novembro.

    “Fomos feitos de otários”, diz regulador canadense

    As revelações provocaram forte reação de autoridades no Canadá. Charlie Angus, parlamentar do Novo Partido Democrático (NDP), não economizou críticas ao comentar o caso: “Fomos feitos de otários”. A declaração, publicada pela CBC News, reflete o sentimento de indignação em relação ao processo de aprovação das operações da Paper Excellence, que, segundo as investigações, foram baseadas em informações enganosas fornecidas pela empresa.

    Angus destacou a necessidade de uma revisão urgente dos processos regulatórios para impedir que situações semelhantes ocorram no futuro. “As evidências mostram que há uma relação obscura que nunca foi revelada, e isso nos coloca em uma posição vergonhosa”, acrescentou.

    A investigação do ICIJ também revelou que a Paper Excellence utiliza um esquema de controle baseado em empréstimos financeiros e alianças estratégicas que garantem, na prática, a influência direta do Sinar Mas Group sobre a companhia canadense. A conexão entre a Paper Excellence e o Sinar Mas, por meio da APP, levanta preocupações não apenas sobre desmatamento, mas também sobre o desrespeito aos direitos humanos em áreas de atuação dessas empresas.

    No Brasil, o Cade está atento às manobras da Paper

    No Brasil, a Paper Excellence também está no radar das autoridades. O Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) determinou recentemente a retirada dos poderes administrativos da empresa sobre a Eldorado Brasil, fabricante de celulose cujo controle acionário pertence ao grupo J&F. A decisão veio após denúncias de que a Paper Excellence estaria realizando manobras para descumprir o acordo de controle estipulado com o Cade.

    A disputa envolve uma batalha judicial entre a Paper Excellence e o grupo J&F. O Cade identificou sinais de abuso e decidiu suspender as operações da Paper Excellence no controle administrativo da Eldorado, medida que reforça a preocupação com as práticas da companhia em diferentes mercados.

    Este caso ocorrido no Canadá, amplamente documentado pelo ICIJ, expõe não apenas a fragilidade dos mecanismos de regulação antitruste no país, mas também as implicações globais do desmatamento vinculado às operações de gigantes corporativos como a Asia Pulp and Paper. A Paper Excellence e Jackson Wijaya ainda não responderam às novas acusações levantadas. A matéria completa do Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos, com detalhes da investigação e documentos obtidos, está disponível aqui.

    O comunicado da Paper ao Cade no Brasil

    Há poucos dias, representantes da Paper Excellence, informaram ao Cade que o empresário Jackson Wijaya recebeu as ações da Asia Pulp & Paper (APP) doadas em vida pelo pai como herança após um processo de planejamento sucessório familiar e que isso não muda a situação concorrencial no Brasil, segundo informa a Folha de S. Paulo.

    O curioso é que, um ano atrás, a própria Paper fazia questão de enfatizar em sua própria página institucional não ter nenhum vínculo societário com a APP. “A Paper Excellence é uma empresa separada e totalmente independente da Asia Pulp and Paper, controlada por outros membros da família Wijaya", apontava a empresa.

    De acordo com a reportagem da Folha, “os advogados da Paper disseram que o fato de Jackson passar a ter participação societária da APP não muda o cenário concorrencial no Brasil, uma vez que a APP não atua no país e atua em uma frente de negócio totalmente diferente da da Eldorado". 

    A interpretação do Cade, no entanto, é de que a Paper usava seu poder de voto na Eldorado para bloquear investimentos estratégicos da empresa, o que prejudica o ambiente concorrencial no Brasil. A decisão do órgão antitruste, que foi tomada pelo superintendente-geral Alexandre Barreto, se mostra ainda mais acertada depois das revelações surgidas no Canadá. 

    Depois dessa decisão, uma audiência no Supremo Tribunal Federal abriu uma possibilidade de conciliação entre a Paper e a J&F, que foi celebrada pelo prefeito de Três Lagoas (MS), Angelo Guerreiro, do PSDB, e pelo governador Eduardo Riedel, também do PSDB. Ambos enxergam que o fim deste litígio abrirá espaço para um investimento de R$ 25 bilhões da Eldorado, não apenas na expansão de uma nova linha de papel e celulose, como também na construção de uma ferrovia estratégica para o escoamento da produção, consolidando o Mato Grosso do Sul como o centro mais dinâmico e competitivo do mundo neste setor estratégico da economia global.

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