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      Washington Araújo

      Jornalista, escritor e professor. Mestre em Cinema e psicanalista. Pesquisador de IA e redes sociais. Apresenta o podcast 1844, Spotify.

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      Inverno nuclear econômico bate às portas — Disputa pela hegemonia é caminho para colapso sistêmico

      Nações poderosas competem por supremacia econômica, frequentemente em detrimento da estabilidade mundial

      Bandeiras dos EUA e China (Foto: Bao Dandan/Xinhua)

      A guerra comercial entre Estados Unidos e China, tendo o mundo como pano de fundo!, iniciada pelas tarifas impostas por Donald Trump e intensificada pela resposta de Pequim, transcende uma mera disputa econômica. O confronto, que ganhou um novo e dramático capítulo em 7 de abril de 2025, revela um tabuleiro geopolítico em rápida transformação, onde cada ação eleva os riscos globais a níveis críticos. Trump qualificou a reação chinesa como sinal de “pânico”, mas suas palavras ecoam como um blefe audacioso em meio ao caos que sacode os mercados nesta segunda-feira. Longe de uma simples contenda, essa escalada ameaça desestabilizar a ordem internacional, com consequências imprevisíveis para ambos os lados e para o equilíbrio global.

      A Resposta Firme de Pequim

      A China retaliou com tarifas de 34% sobre produtos americanos, uma medida confirmada hoje, 7 de abril, em resposta à decisão de Trump de impor uma tarifa universal de 10% sobre todas as importações dos EUA. A vigorar a partir de 10 de abril, essa retaliação chinesa intensificou a tempestade nos mercados globais, que já registravam quedas expressivas. Para o professor Leonardo Trevisan, especialista em Relações Internacionais, o verdadeiro pânico não está em Pequim, mas nos mercados asiáticos e ocidentais, abalados pela incerteza. Em Hong Kong, o índice local despencou 13,22%, o pior desempenho desde a crise de 1997, enquanto os principais índices americanos — Dow Jones, S&P 500 e Nasdaq — abriram o dia com perdas superiores a 3%. Enquanto Trump acusa a China de desespero, são os efeitos de sua política que geram apreensão. A volatilidade financeira global, agravada por esse novo round de tarifas, reflete o temor de um colapso sistêmico, evidenciando que o jogo de Washington pode estar saindo do controle.

      Quem cederá primeiro nessa disputa de titãs? Nos EUA, o agronegócio, pilar do apoio político de Trump, sofre com a retaliação chinesa. A soja americana perde terreno para concorrentes como o Brasil, que agora suprem um mercado chinês mais aberto a alternativas em meio à escalada comercial. Em contrapartida, Pequim detém o controle quase monopolista das terras raras, essenciais à tecnologia moderna. Esse trunfo, somado à possibilidade de restrições adicionais às exportações desses materiais, dá à China uma vantagem estratégica, fortalecendo sua posição e desafiando a aposta arriscada de Trump no confronto comercial. Alheio ao derretimento das bolsas de valores tanto asiáticas, europeias e norte-americanas, o presidente norte-americano dobrou a aposta “se a China não retirar sua tarifa de 34 por cento para os produtos importados dos Estados Unidos, essa tarifa serão elevadas para 50 por cento do que eles queiram vender aqui”. Este é o estado das coisas.

      Um Mundo em Reconfiguração

      As políticas imprevisíveis de Trump estão redesenhando as relações globais, e os efeitos reverberaram com força nesta segunda-feira. A União Europeia e o Mercosul negociam uma aproximação para conter os danos das tarifas americanas, enquanto Japão, Coreia do Sul e China avançam em um acordo de livre comércio. Essa aliança asiática sinaliza uma mudança profunda na geopolítica regional, com impactos que ecoam mundialmente. No Brasil, o Ibovespa abriu o pregão em queda de 1,73%, pressionado pela aversão ao risco global. Ações de empresas como Vale e Petrobras recuaram 2% e 1,5%, respectivamente, acompanhando a baixa de 3,36% do minério de ferro na Bolsa de Dalian e o tombo do petróleo. O dólar disparou a R$ 5,90, refletindo a fuga de capitais para ativos seguros. Paradoxalmente, as ações de Washington parecem acelerar a reorganização de blocos econômicos, minando sua própria influência. Em outro momento falaremos sobre o sobe e desce nas bolsas de valores. Para um profundo estudioso do assunto, com o qual este articulista concorda “volatilidade nos mercados de ações mundo afora é conjuntural e não estrutural.”

      Samuel Huntington e seu “choque de civilizações” voltam à tona nesse cenário. As políticas protecionistas de Trump aproximam nações do Extremo Oriente, sugerindo uma transição acelerada do poder global do Ocidente para o Oriente. O século XXI, previsto como a “era asiática” para 2040 ou 2050, pode estar se consolidando antes do esperado. A estratégia americana, ao invés de frear a China, parece catalisar essa mudança, reconfigurando o equilíbrio de forças em escala planetária.

      A Sombra de uma Guerra

      Uma questão inquietante emerge: estaria a perda de influência dos EUA, agravada por decisões controversas como as tarifas anunciadas por Trump, levando a um conflito armado? A disputa pela hegemonia, visível na competição tecnológica e na expansão econômica chinesa, alimenta temores de uma escalada bélica. Embora a China não busque, por ora, liderar unilateralmente a Ásia, as ações americanas podem estar pavimentando esse caminho. O risco de um confronto de proporções alarmantes paira como uma sombra no horizonte, intensificado pela instabilidade financeira desencadeada em 7 de abril.

      A rivalidade ultrapassa as tarifas e invade o campo tecnológico. A China lidera em setores como o 5G, implementado primeiro em Pequim, e forma 440 mil engenheiros anualmente, contra 150 mil nos EUA e 35 mil no Brasil. A oferta de Trump para negociar o TikTok como moeda de troca tarifária é vista como sinal de fraqueza, especialmente após os rumores — desmentidos pela Casa Branca — de uma possível suspensão de 90 dias nas tarifas. O caso DeepSeek destaca o potencial inovador chinês, desafiando a supremacia americana e expondo as limitações da estratégia de Washington.

      Fragilidades Internas nos EUA

      Internamente, os EUA enfrentam divisões crescentes. O Senado votou 51 a 48 contra a pressão de Trump sobre o Canadá, revelando rachas na política comercial, enquanto a margem estreita na Câmara (218 republicanos contra 213 democratas) dificulta a coesão. O Federal Reserve de Atlanta alerta para a queda na confiança do consumidor, que voltou a níveis de 12 anos atrás, um cenário agravado pelo derretimento das Bolsas nesta segunda-feira. A aposta de Trump, baseada em promessas de prosperidade, pode se voltar contra ele. A retórica de enriquecimento para investidores choca com a realidade de preços em alta e poder de compra em declínio, agora sob pressão adicional com o dólar fortalecido e a fuga de capitais.

      A influência chinesa se expande globalmente. Dos 191 países da ONU, 156 têm comércio mais intenso com a China, que absorve 35% das exportações brasileiras e controla 44% das terras raras. A UE busca no Mercosul uma saída para sua indústria automobilística, enquanto aliados como Coreia do Sul e Japão negociam com Pequim. A frase de Tucídides sobre o embate entre potências ressoa: a disputa é sobre “quem manda no mundo”, e o tabuleiro está em plena transformação, com os eventos de 7 de abril reforçando essa percepção.

      A Ascensão Inexorável da China

      A animosidade americana contra a China, presente nas gestões de Trump e Biden, tem raízes na ascensão econômica chinesa. Com presença crescente em todos os continentes, Pequim desafia a supremacia dos EUA. A guerra tarifária, intensificada pelas medidas anunciadas nesta segunda-feira, é apenas a superfície de uma rivalidade mais profunda, que inclui tecnologia e projeção global. A China compra 164 bilhões de dólares em soja americana anualmente, mas sua oferta de terras raras e a retaliação de 34% sobre produtos americanos, confirmada hoje, dão a ela um poder estratégico incomparável.

      A reação doméstica nos EUA reflete o custo dessa política. A votação no Senado contra a pressão sobre o Canadá mostra uma nação dividida. O Fed de Atlanta aponta para uma recessão iminente, com a confiança do consumidor em queda livre, um cenário que ganhou contornos mais sombrios com as perdas nas Bolsas globais. A promessa de Trump de “ficar mais rico do que nunca” soa vazia frente ao aumento de preços em produtos como roupas e carros, agora exacerbado pela instabilidade financeira desencadeada pelas novas tarifas.

      A aproximação entre Mercosul e UE, a reconfiguração do bloco Brics e a penetração econômica chinesa em setores estratégicos sinalizam um declínio relativo do poder americano. Economistas como Lawrence Summers alertam para essa tendência com urgência. A Alemanha vê no Brasil o maior mercado para carros elétricos chineses fora da China, enquanto a Volkswagen simboliza a luta da indústria europeia. A China, com aliados como o Afeganistão, domina o mercado de terras raras, ampliando sua influência global.

      O Teste Decisivo de Trump

      A retórica de Trump, que pede aos eleitores para “porem a mão no bolso” e avaliarem sua gestão, enfrenta um teste duro. A queda do poder de compra, como apontado pelo Fed, pode frear suas ambições, especialmente com o impacto imediato das tarifas nas Bolsas em 7 de abril. A votação contra o Canadá no Senado e a estreita margem na Câmara expõem a fragilidade política. A disputa comercial, somada à recessão iminente, ameaça a reeleição de Trump, ancorada em promessas de recuperação econômica.

      O texto de Tucídides ganha nova relevância: a guerra entre uma potência estabelecida e uma emergente parece cada vez mais plausível. A China, com comércio dominante em 156 países, desafia a hegemonia americana. O Brasil exporta 35% para a China, contra 16,11% para os EUA, enquanto as importações seguem padrão similar. A soja americana, vital para o agronegócio, sofre com a concorrência, enquanto a China consolida seu poder econômico global, com os eventos desta segunda-feira reforçando essa tendência.

      A competição tecnológica é outro campo de batalha. O 5G chinês, pioneiro em Pequim, supera os EUA, que formam menos engenheiros (150 mil) que a China (440 mil). O caso TikTok, usado como barganha por Trump, reflete desespero ante o avanço chinês. O DeepSeek é mais um exemplo do potencial tecnológico de Pequim, que ameaça a liderança americana em inovação e influencia o equilíbrio de poder global.

      A guerra comercial de Trump, uma aposta de alto risco, pode ter consequências devastadoras. A estabilidade global, já fragilizada, enfrenta um teste crucial com a escalada confirmada em 7 de abril. A perda de influência dos EUA, acelerada por decisões questionáveis, alimenta o debate sobre um futuro conflito. A disputa pela hegemonia, como dizem, é sobre “quem manda no mundo”, e a China avança com passos firmes, enquanto os EUA lutam para manter sua posição.

      Ao concluir este artigo em que apresento dados da realpolitik e também estatísticas alarmantes que obscurecem o futuro, faço aqui um contraponto que não é meramente otimista ou utópico:

      A intensificação da guerra comercial entre Estados Unidos e China, evidenciada por tarifas unilaterais e retaliações mútuas, reacendida com força em 7 de abril de 2025, reflete um cenário global onde nações poderosas competem por supremacia econômica, frequentemente em detrimento da estabilidade mundial. Essa dinâmica assemelha-se a uma floresta onde árvores gigantes disputam incessantemente a luz do sol, lançando sombras que sufocam o crescimento das plantas menores e comprometem a biodiversidade essencial ao equilíbrio do ecossistema.

      Para evitar que essa competição desenfreada leve a um colapso sistêmico, é imperativo que as potências econômicas adotem uma abordagem de cooperação mútua, reconhecendo que a verdadeira prosperidade surge quando todas as nações, grandes e pequenas, têm a oportunidade de florescer juntas. Somente através da colaboração e do respeito mútuo será possível construir um ambiente internacional de relativo bem-estar, sem esse clima de montanha-russa que nunca acaba e onde a diversidade econômica e cultural contribua para um futuro mais justo. Apertemos os cintos: Antes de a primavera chegar passaremos por um rigoroso e longo inverno de incertezas e imprevisibilidade.

      * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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