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    Pedro Paiva

    Jornalista, mora em Nova York. Foi produtor e repórter do América News, jornal do canal internacional da Globo feito para a comunidade brasileiros nos Estados Unidos. É colaborador da Revista Híbrida e da USBRTV nos Estados Unidos. Acompanha a política estadunidense e outros temas importantes do país

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    Joe Biden precisa abrir mão

    "O presidente teve dificuldade de formular frases simples. Se embaralhou, gaguejou, trocou palavras… Em determinado ponto, congelou por vários segundos"

    Joe Biden (Foto: Reuters/Brian Snyder)

    Aconteceu nesta quinta-feira o primeiro debate das eleições presidenciais dos Estados Unidos entre Joe Biden e Donald Trump. Não é exagero afirmar que o embate foi uma das cenas mais constrangedoras da história do país.

    De um lado, Trump tinha a tarefa de se mostrar calmo, contido, uma versão fascista-paz-e-amor. Ele precisava se portar de maneira presidenciável. Apesar de todas as mentiras contadas durante a noite - afinal, não seria Trump sem elas - o ex-presidente conseguiu.

    Do outro lado, Biden precisava se mostrar com energia, capaz não só de concorrer mas de ocupar a presidência. Enterrar de uma vez por todas as críticas em relação à sua idade e à sua aparente incapacidade cognitiva. Mas não foi o que aconteceu. Biden falhou. Falhou feio.

    O presidente teve dificuldade de formular frases simples. Se embaralhou, gaguejou, trocou palavras… Em determinado ponto, congelou por vários segundos. Em uma réplica, Trump respondeu: “eu não entendi o que ele falou. Acho que nem ele entendeu”. Nós, telespectadores, também não entendemos.Trump destilou xenofobia, defendeu o fim do direito ao aborto legal, disse que os EUA devem apoiar Israel e ser contra um cessar-fogo em Gaza e até mesmo negou sua participação na invasão do Capitólio em 2020. Tudo isso, porém, passou batido. A visível disparidade entre os candidatos ofuscou até mesmo as maiores barbaridades.

    Biden teve raros momentos bons, como quando chamou Trump de “criminoso condenado”. “Bom” talvez seja um exagero meu. Coisa de quem torce pelo pesadelo menos pior.

    Logo após o debate, nem mesmo as emissoras de TV que apoiam os democratas conseguiam esconder o choque. Na NBC, CNN e ABC, rapidamente, o assunto deixou de ser o debate, mas sim o que fazer. O tema da substituição de Biden, mesmo que improvável, virou pauta.

    Deputados do Partido Democrata deram declarações, em off, afirmando ser necessário trocar o candidato. Estrategistas do partido receberam dezenas de mensagens de doadores, suplicando pelo mesmo. Algumas figuras, como o ex-candidato nas prévias de 2020, Andrew Yang, foram a público com o pedido.

    A realidade é essa: se existia antes uma sensação de que Biden não dá conta do trabalho, ontem ela se tornou um fato. E o Biden do debate não tem a menor chance contra Donald Trump. A única chance de Biden derrotar Trump é desistindo da candidatura.

    Figuras influentes do partido podem ajudar no convencimento: Barack Obama, Nancy Pelosi, Gavin Newsom… Mas no fim das contas, a decisão é de Biden. Só resta torcer para que o orgulho dele não nos custe um segundo mandato de Trump - ainda pior para os EUA, para o mundo e, possivelmente, para o Brasil.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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