Lula bateu em Campos Neto e se deu bem. Por isso, queriam calá-lo
“Lula agenciou o debate público e refletiu o sentimento do povo sobre os juros. O resultado foi alta na aprovação. Habla mais, presidente”, escreve Aquiles Lins
A investida do presidente Luiz Inácio Lula da Silva contra o presidente do Banco Central, o bolsonarista Roberto Campos Neto, foi uma jogada de quem é craque no jogo político. Com o governo sofrendo um ataque especulativo que desvalorizou o real em 2% frente ao dólar em junho, acumulando uma desvalorização de 10,4% em 2024, Lula partiu para cima da escandalosa taxa Selic, que estacionou em 10,5%.
O presidente combinou uma agenda positiva de entrega de obras e anúncios de ações do governo com uma maior participação na mídia a partir de entrevistas. Em suas falas, Lula criticou duramente a atuação política de Campos Neto, que circula em convescotes com o governador paulista Tarcísio de Freitas e com o bolsonarismo. O presidente apontou o viés político do presidente do BC, que executa uma agenda que privilegia o rentismo e que foi derrotada pelas urnas nas eleições de 2022.
A mídia corporativa, numa histeria uníssona, dizia que o dólar estava subindo em razão das frequentes declarações de Lula contra o ativismo político de Campos Neto. Lula classificou de cretinos os que associavam suas falas ao ataque especulativo contra o real. Contra o BC, ninguém falou nada. Nenhuma linha sobre a ausência de atuação da autoridade monetária para conter a escalada da moeda estadunidense. Ninguém cobrou um swap cambial de Campos Neto. Todos fazendo cara de paisagem, enquanto a moeda brasileira derretia, tendo o Brasil US$350 bilhões em reservas internacionais.
Hoje constatou-se pela pesquisa Quaest que Lula estava certo em suas críticas a Roberto Campos Neto. Avaliação positiva do presidente subiu de 50% para 54%, enquanto a desaprovação caiu de 47% para 43% no mesmo intervalo de tempo. Além disso, para 66% dos entrevistados, Lula está correto ao criticar a política de juros do Banco Central. Apenas 23% discordam do presidente da República. Quando Lula disse que não devia prestar contas ao mercado financeiro, mas sim ao povo, 67% dos entrevistados concordam com a afirmação. E mais: para 53% deles, as declarações de Lula não contribuíram para a alta do dólar, como fez querer crer a mídia corporativa.
Moral da história: Lula foi para o enfrentamento contra o bolsonarismo incrustado no Banco Central, agenciou o debate público usando sua capacidade extraordinária de se comunicar, e assim refletiu o sentimento do povo brasileiro, que se sente lesado por uma política de juros escorchantes. O resultado foi alta na aprovação. Praticamente um gol de placa. Habla mais, presidente.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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