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César Fonseca

Repórter de política e economia, editor do site Independência Sul Americana

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Lula com banqueiros: arrocho fiscal nos pobres enfraquece a esquerda e fortalece a centro-direita em 2026

'O presidente Lula está diante do desafio que o Ministério da Fazenda, com seu viés neoliberal, está lhe colocando', escreve o colunista César Fonseca

(E-D) Lula, Luiz Carlos Trabucco, Milton Maluhy Filho, Isaac Sidney, André Esteves, Mario Leão, Marcelo Noronha e Alberto Monteiro (Foto: Divulgação)

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No momento em que o presidente Lula recebe a nata - a elite da elite nacional - dos banqueiros em Brasília, os tecnocratas do Ministério da Fazenda preparam pacote para o ministro Fernando Haddad levar ao presidente Lula cujas consequências políticas para o lulismo e o petismo podem ser desastrosas no cenário da reeleição em 2026.

Pelos cálculos tecnocráticos, os cortes fiscais especialmente sobre os gastos sociais e programas emergenciais, para evitar morte por inanição dos socialmente desocupados/excluídos, com idade de 60 anos em diante, alcançarão de R$ 30 bilhões a R$ 50 bilhões.

Muita revolta social da base governista, do lulismo e do petismo, que já foram derrotados nas eleições municipais, tende a emergir, especialmente, quando está à vista a renovação do PT para uma nova jornada sob novo presidente.

Cortar na carne dos mais pobres, para fazer ajuste fiscal neoliberal, é um presente político dos deuses para a oposição ao governo, que perdeu a eleição municipal para os partidos conservadores de direita e ultradireita.

Desde já os oposicionistas, que dispõem de ampla maioria no Congresso para aprovar suas emendas políticas a serem distribuídas às suas bases federativas, podem armar seus discursos e suas estratégias para atacar os cortes de bilhões nos gastos sociais saídos das verbas orçamentárias sob ataque dos credores.

Trata-se dos gastos com os mais pobres que são implicitamente investimentos, pois com o dinheiro no bolso os miseráveis consomem alimentos básicos para sua sobrevivência.

São gastos-investimentos que puxam a demanda global no curtíssimo prazo.

Com eles, o governo sustentaria taxa de desemprego baixa, elevaria a sua arrecadação, puxaria para cima o PIB além das expectativas positivas, mediante inflação baixa que induz à queda da taxa de juros e ao aumento dos investimentos.

Ocorrerá o contrário, se prevalecer o ponto de vista da tecnocracia estatal, aliada da Faria Lima: o dinheiro economizado com os mais miseráveis será canalizado para o pagamento dos serviços da dívida, no esforço governamental de produzir déficit zero conforme compromisso unilateral assumido pelo ministro Fernando Haddad.

Não haverá retorno algum para a economia o pagamento do serviço da dívida, tendo, apenas, endereço: o bolso dos especuladores.

IMPASSE POLÍTICO

O compromisso unilateral de Haddad com o déficit zero pode, portanto, virar empecilho político, se o seu cumprimento, a qualquer custo, implicar em maiores dificuldades político-eleitorais que viessem atrapalhar a meta maior do lulismo-petismo: a reeleição em 2026.

Valeria o sacrifício de ter que apertar o bolso da população para extrair-lhe a renda necessária ao seu consumo para servir a Faria Lima, se o preço a pagar pode ser o mesmo que acaba de acontecer nas eleições municipais: a derrota eleitoral?

As resistências políticas tendem a crescer, conforme crescem críticas por toda a mídia alternativa de centro-esquerda.

A grande mídia, maior beneficiária do arrocho fiscal, devido à sua aliança lucrativa com o mercado financeiro especulativo, mantém-se calada, consentindo com o desvio do governo para a direita, pois será a maior beneficiada.

O arrocho fiscal fortalece, sobretudo, o semipresidencialismo que predomina no Congresso sob comando do centro-direita.

Quanto maior o desgaste político do presidente Lula, mais chances o centro-direita dispõe para a disputa presidencial em 2026, com apoio decisivo da mídia conservadora neoliberal.

O corte de gastos sociais aprofunda a percepção econômica e social de que o governo faz opção pelo neoliberalismo sob pressão da aliança do semipresidencialismo com a Faria Lima.

A esquerda antineoliberal viraria a casaca, transformando-se em esquerda neoliberal, explicitamente?

Favoreceria ou não a direita, engrossando suas fileiras com a esquerda descontente?

PRESSÃO INFLACIONÁRIAS MANIPULADAS

Por sua vez, a pressão bancocrática para aprofundar o corte nos gastos sociais enfraquece a economia e aumenta a sensação de insegurança dos investidores.

Essa percepção certamente será captada pela pesquisa Focus que interpretará o estado de ânimo social como fator indutor da alta da taxa de juros.

A lei capitalista vale no mundo todo: aumenta a desconfiança, aumenta o juro.

A pauta do mercado que induz a cobertura econômica é a de que o governo está perdendo controle dos gastos, o que levará o Banco Central Independente à reavaliação das expectativas inflacionárias, puxando os juros.

Abstração econômica fictícia.

É a armadilha na qual caem os governos desde o Consenso de Washington, na Era FHC, anos 1994-2002, em diante.

Predomina o discurso de que a taxa de juro de equilíbrio somente é possível se a dívida pública estiver, conforme entendimento do mercado, sob controle.

Se a dívida, ao juízo da Faria Lima, sair do controle por conta dos gastos, que é o que ela está propalando, é preciso juro mais alto, para que a taxa tenha condições de voltar ao equilíbrio etc.

Tudo subjetivo.

ATAQUE AOS MAIS FRACOS, À BASE DO PT

No momento, o discurso é para cortar gastos previdenciários, que aumentaram com o reajuste do salário-mínimo acima da inflação.

Todos os demais benefícios são reajustados pelo salário-mínimo.

Os banqueiros querem que os reajustes dos gastos sociais sejam descolados, desindexados, do reajuste do mínimo, maior capital político de Lula.

Seriam reajustados abaixo do salário mínimo.

Aumentaria o grau de pobreza e miséria do lumpen-proletariado, para sobrar cerca de R$ 30 bilhões para os especuladores da dívida pública a juros reais de 8% reais/ano.

A financeirização econômica total da economia criou mecanismo de sobreacumulação de renda ultraveloz cujas consequências é aceleração igualmente veloz da desigualdade social, responsável maior por espantar investidores.

Quem investe em cenário de subconsumo?

O centro-direita, amplamente vencedor das eleições municipais, está assistindo de camarote o dilema que o governo criou para si e que serve de lição para a oposição repudiar: redução dos gastos sociais não ganha eleição, como demonstrou o resultado eleitoral.

OPOSIÇÃO ESCAPA DO ARCABOUÇO NEOLIBERAL

Não é à toa que os conservadores majoritários no Congresso cuidam de assegurar suas próprias verbas obtidas por emendas parlamentares obrigatórias, para não depender, como antes, do executivo, sempre sujeito às instabilidades decorrentes dos ajustes fiscais impostos pelos credores, como ocorre agora, com o arcabouço fiscal neoliberal.

Com as emendas, os parlamentares do centro-direita e ultradireita ficam livres dos efeitos anti-sociais do arcabouço fiscal neoliberal.

Sua posição, na luta de classe pelas verbas orçamentárias, é determinada pelo dito popular: farinha pouca, meu pirão primeiro.

O presidente Lula está diante do desafio que o Ministério da Fazenda, com seu viés neoliberal, está lhe colocando.

Se der passo em falso, poderá dar o ouro ao bandido, sacrificar os mais pobres para salvar os mais ricos, conforme mandamento neoliberal antinacionalista.

O encontro do presidente Lula hoje com os banqueiros, os filiados da Febraban, pontas de lança da Faria Lima, seria ou não uma oportunidade para ele buscar um pacto com a bancocracia, a fim de salvar os mais pobres para garantir a sobrevivência dos mais ricos?

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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