Maduro, não entregue as atas
"Países fazem à Venezuela exigências exorbitantes, que não são dirigidas a nenhum outro", escreve Mario Vitor Santos
Presidente, não aceite o que estão tentando fazer com a Venezuela. Trata-se de uma campanha em que estão até alguns que se dizem seus amigos.
O senhor já sabe por experiência política. Estão querendo mais uma vez pôr seu país de joelhos.
O senhor acabou de ter uma vitória consagradora como foi anunciado oficialmente pelo poder eleitoral de seu país e ratificado pela Assembleia Nacional. Todos deveriam estar lhe felicitando pela vitória, seguindo a praxe, como aliás fizeram vários paises, China e Rússia entre eles.
Em vez disso, até alguns antigos amigos inexplicavelmente inclusive o Brasil, se juntaram aos seus arqui-inimigos para humilhá-lo e ao seu povo. Fomentam a desconfiança no processo eleitoral. Na prática, atiçam uma desestabilização, um golpe comtra seu processo institucional. Os cabeças desse golpe dentro da Venezuela são bandidos fascistas, como Maria Corina Machado e Edmundo González, aliados de Bolsonaro e de Javier Milei, na Argentina. Deveriam estar presos.
Países fazem à Venezuela exigências exorbitantes, que não são dirigidas a nenhum país.
Exija, presidente,o devido respeito, tratamento igualitário, reciprocidade. Mantenha-se firme. Não se dobre ao bullying. Não para beneficio próprio, mas pela dignidade do povo e do país.
Não mostre as atas. Quem quiser que surte. Mande-os para aquele lugar.
Não se iluda, o senhor, com falsas promessas. A exigência esdrúxula das atas lança uma suspeita inaceitável. Na verdade, a imposição da apresentação das atas é apenas uma desculpa para assediar seu país uma vez mais. Apresentadas as atas, as pressões não vão se aliviar. Ao contrário, novas suspeitas vão ser interpostas. A presunção de culpa recrudescerá. Responda chumbo com chumbo, a única linguagem que entendem. Não tenha ilusões, presidente.
A origem de tudo, como muitos sabem, mas fingem não saber, é a Casa Branca. Atas não vão mudar a atitude sabotadora do governo estadunidense. Este quer usar o episódio para, se possivel, derrubar seu governo. Quer mandar um recado à America Latina de que não adianta, toda desobediência aos desígnios do imperialisno será punida exemplarmente. Martirizaram o seu país sabotando de todas as formas a indústria do petróleo.
Mais de novecentas sanções trouxeram doenças, fome e morte. Desnutrição e falta de remédios sacrificaram crianças e idosos.
Sem a pressão inpiedosa de Washington e a campanha que realiza contra o país desde o advento da revolução bolivariana ninguém estaria preocupado com as atas das urnas venezuelanas. Na verdade, existe um plano, mais um, para desacreditar o resultado das eleições, desestabilizar as instituições, fomentar a desordem e promover um golpe.
Atas não vão mudar nada nos intentos da Casa Branca, que precisa desesperadamente reafirmar que sua hegemonia não está decadente.
Maduro, não entregue as atas. Exija da Inglaterra as atas das recentes eleições em Exeter, por exemplo. Ou, da França, as atas Saint-Denis
Se quiserem, EUA e auxiliares que busquem as atas no lugar de direito: o Conselho Nacional Eleitoral (CNE), que é um poder independente. Envie os interessados a um guichê do CNE.
São tão demagógicos que fingem ignorar que não é o Executivo, Nicolas Maduro, que divulga as atas, mas o Poder Eleitoral. O senhor não tem que a priori provar sua honestidade. Quem acusa, inclusive seus ex-amigos, tem o ônus da prova.
A Casa Branca quer fazer com o senhor e a Venezuela o que já fizeram com Saddam Hussein, Muamar Gadafi e Salvador Allende. Com Fidel e Cuba tentaram e não conseguiram. Determinaram que qualquer dos inimigos deles deveriam ser chamados de ditadores. Os vassalos da mídia obedecem.
Os carneirinhos diplomáticos se perfilam, reproduzindo as mesmas exigências. Repetem demandas para a Venezuela que não se fazem a mais ninguém.
O ucraniano Volodimir Zelenski prolonga seu mandato e o que acontece: segue sendo chamado de presidente. Os teleguiados de Washington gozam de boa fé. Alguém pediu as atas de La Matanza, na Grande Buenos Aires, por exemplo, na eleição de Milei? Já contra o senhor e seu país os chacais da mídia antiga e das big techs latem em uníssono dando crédito aos gangsters e seus resultados falsos.
O mundo deveria ter reconhecido a sua vitória eleitoral na noite de domingo. Seria o normal. Mas não existe o normal contra a Venezuela. Para desmoralizar seu país toda covardia será justificada.
Eles roubaram dos venezuelanos 31 toneladas de ouro depositadas no Banco da Inglaterra que valem R$ 14 bilhões na cotação de hoje. Eles roubaram a rede venezuelana de distribuição de combustíveis Citgo, que vale R$ 68 bilhões. Roubaram aviões venezuelanos em solo estrangeiro. Impuseram e reconheceram o usurpador autoproclamado Juan Guaidó como presidente, recebido na Casa Branca e ovacionado no mesmo Capitólio que exulta diante do genocida sionista Benjamin Netanyahu. Tentaram assassinar o senhor mais de uma vez.
Com clímax no domingo passado, a Venezuela foi atingida por um novo intento de golpe com múltiplos ingredientes: guerra cibernética, guerra diplomática, guerra midiática, guerra de pesquisas, guerra psicológica, guerra ideológica, guerra cultural, guerra cognitiva, guerra elétrica e guerra civil.
Como resposta, o governo do presidente Lula, vítima de tentativa semelhante partida de Bolsonaro, versão brasileira do mesmo extremismo fascista internacional, deveria ter reconhecido logo sua eleição, como fizeram os chineses e russos, parceiros brasileiros nos Brics.
Presidente Maduro, não ceda, não. Se as tiver, não dê as atas. Encare-os. O mundo está olhando.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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